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"PAÍS DO MENSALÃO"
Presidente da Chevron afirma que companhia perde mercado por causa de adulteração e sonegações
Múlti reclama de fraudes em combustíveis
DA REPORTAGEM LOCAL
Carlos Roberto Fernandes, presidente da Chevron Brasil, que
opera no país desde 1915, por
meio da Texaco -que, em 2002,
se fundiu com a Chevron-, admite que não é fácil operar no
mercado brasileiro, caracterizado
pela adulteração de combustíveis
e pela sonegação fiscal. "A sonegação afeta a concorrência sadia e
a adulteração, o consumidor."
Para ele, a legislação brasileira
não é suficiente para punir os que
trabalham ilegalmente no setor.
"Há muitas leis em vigor tratando
do mesmo tema. Isso facilita a vida dos fraudadores. A ANP
[Agência Nacional do Petróleo]
precisa de recursos, aparentemente congelados, para a fiscalização." Leia a seguir os principais
trechos da entrevista com o presidente da Chevron, que prevê faturar US$ 4 bilhões no Brasil neste
ano.
(FÁTIMA FERNANDES)
Folha - Como é concorrer num
mercado, como o brasileiro, onde
existe muita adulteração de combustíveis e sonegação fiscal?
Carlos Roberto Fernandes - A
Chevron tem tradição de ética nos
negócios e é dessa forma que quer
ser reconhecida. O mercado de
combustíveis no Brasil ainda está
em processo de evolução. A desregulamentação, iniciada por volta de 1993, foi atingida pelo enfraquecimento da economia em
1998, quando surgiu um grande
número de fornecedores pequenos, queda do consumo e das
margens, resultando no forte
crescimento da sonegação fiscal e
da adulteração de produtos. Sem
instrumentos adequados, regulamentação e fiscalização, a ANP logo se viu diante de um quadro que
requeria urgentes reconfigurações regulatórias, iniciadas em
1999. A adulteração de combustíveis e as fraudes fiscais causam
grandes prejuízos ao Estado e aos
consumidores.
Folha - Quais as formas de sonegação que mais lesam a empresa?
Fernandes - Estimamos que, só
no álcool, a sonegação de PIS/Cofins seja da ordem de 50% do produto comercializado e que a sonegação (incluindo ICMS) deve
atingir cerca de R$ 1 bilhão por
ano, só no álcool. Já houve casos,
em SP, de "combustível" fabricado em laboratório clandestino
sem uma gota de petróleo. A indústria de solventes necessita de
um novo marco regulatório porque o mercado está inundado de
solventes e o consumo legal não
justifica esse volume.
Folha - Empresas do setor já declararam que tiveram de vender
com preços abaixo do custo para
enfrentar concorrentes desleais. Isso já aconteceu com a Chevron?
Fernandes - As empresas sérias
do mercado estão constantemente ajustando seus custos para poder competir. O setor trabalha
com margens pequenas. Isso faz
com que algumas empresas que
participam desse mercado procurem aumentar suas margens por
meio da sonegação e da adulteração, gerando uma competição danosa, tanto para os revendedores
como para as distribuidoras.
Folha - A empresa aprova os postos sem bandeira? Isso é bom ou
ruim para o consumidor?
Fernandes - Os postos bandeira
branca são uma realidade do mercado brasileiro, como de outros
que já foram desregulamentados.
Eles cumprem seu papel no mercado e não são necessariamente
prejudiciais para o consumidor.
O problema é quando um posto
ou distribuidora procura aumentar suas margens por meio de
procedimentos que envolvem
fraudes fiscais ou adulteração.
Folha - O setor de combustível é
considerado um dos campeões em
sonegação fiscal. Como isso afeta o
trabalho da empresa no Brasil?
Fernandes - A sonegação afeta o
trabalho de qualquer empresa
que opera de maneira ética. No
mercado de combustíveis isso foi
e ainda é grave. Mas recentes análises indicam uma redução dessa
sonegação em razão de ações conjuntas entre ANP, Ministério Público e Polícia Federal.
Folha - A venda de solventes como combustível abalou a empresa?
Fernandes - Não é possível precisar o quanto do mercado foi perdido exclusivamente por conta da
adulteração por meio de solventes. A perda sofrida foi decorrente
de todos os aspectos relacionados
aos problemas enfrentados pelo
mercado desde a sua desregulamentação. No nosso caso, a perda
no mercado brasileiro foi de cerca
de três pontos percentuais.
Folha - Que medidas poderiam ser
adotadas para atenuar a situação?
Fernandes - Essas medidas passam pela intensificação da fiscalização policial e tributária, pelo
endurecimento das legislações estaduais, pelo aumento da fiscalização da ANP e pelo endurecimento das penalidades nas ocorrências de fraudes e sonegação.
Nós, como indústria, estamos trabalhando com diversas entidades
federais e estaduais nesse sentido.
Os esforços conjuntos dos governos federal e estaduais têm permitido intensificar a fiscalização,
mas a ANP se ressente de recursos
para ampliar a sua fiscalização.
Folha - A crise política afeta de
que forma a empresa no Brasil?
Fernandes - Crises políticas afetam a vida de todos e temos confiança de que as instituições irão
encontrar as devidas soluções para os problemas, na menor margem de tempo, de modo que a
economia não venha a ser afetada.
Folha- A empresa já pensou em
deixar o país?
Fernandes - Nunca pensamos
em deixar o país. A marca Texaco
comemorou 90 anos no Brasil e
pretende permanecer forte e
competitiva no mercado. A Chevron confia no país e o considera
estratégico para seus negócios.
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