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TENSÃO PÓS-COPOM
Ministro trabalha nos bastidores para aumentar meta de superávit com o objetivo de atenuar elevação da Selic
Palocci quer esforço fiscal maior para travar alta dos juros
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, trabalha nos bastidores para que o esforço fiscal
deste ano seja superior à meta oficial de superávit primário. Ela é de
4,25% do PIB (Produto Interno
Bruto). Seu objetivo é tentar atenuar a necessidade de aumento
da taxa básica de juros, movimento que começou ontem com a elevação da Selic em 0,25 ponto percentual. A taxa subiu de 16% para
16,25% ao ano e o BC avisou que
vai elevá-la ainda mais.
A Folha apurou que essa é a saída, na avaliação de Palocci, para
impedir que a taxa real de juros
suba consideravelmente, o que
prejudicaria a retomada do crescimento da economia.
Palocci tem argumentado que o
importante é considerar a taxa
real de juros. Hoje, ela está em
9,5% ao ano, descontando-se da
Selic a previsão oficial de inflação
para os próximos 12 meses (6,2%,
segundo o IPCA, Índice de Preços
ao Consumidor Amplo). Nos cálculos da equipe econômica, essa
taxa real, embora alta, está entre
as menores dos últimos anos.
Palocci não deverá admitir de
público que já busca um superávit
maior. Há muita resistência em
setores no governo e no PT à meta
atual de superávit de 4,25% do
PIB. Aumentá-la oficialmente é
complicado politicamente.
Mas, na prática, o superávit primário tem sido maior do que a
meta oficial acertada com o FMI
(Fundo Monetário Internacional). No primeiro semestre, a meta era de R$ 32,6 bilhões. O resultado ficou em R$ 46,183 bilhões
-R$ 13,583 bilhões acima. Entre
janeiro e julho deste ano, o superávit foi de R$ 52,796 bilhões, ou
5,59% do PIB. Nos 12 meses encerrados em julho, foi de R$
74,641 bilhões (4,65% do PIB).
Como os gastos reais do Orçamento público se concretizam
mais no segundo semestre, a cifra
de 5,59% tenderá a cair.
Nas conversas reservadas, Palocci admite que o superávit primário (toda a economia do setor
público para o pagamento de juros da dívida) possa fechar o ano
em torno de 5% do PIB -um
pouco mais ou um pouco menos.
Com dinheiro extra em caixa, o
ministro teria mais argumentos
para convencer o Copom a não
elevar muito os juros. A redução
de gastos públicos, assim como a
alta dos juros, contribui para frear
a atividade econômica e, conseqüentemente, a inflação.
Apesar do discurso público de
calma e de que está em paz com o
ministro-chefe da Casa Civil, José
Dirceu, Palocci ficou contrariado
com declarações do colega que
causaram grande expectativa em
torno da reunião do Copom.
O ministro da Fazenda, a pedido do presidente Lula, trabalhava
para evitar a subida da Selic. Mas
declarações de membros do governo, especialmente de Dirceu,
reduziram sua margem de manobra e deixaram o Copom na incômoda situação de mostrar que
não cede a pressões políticas. O
Copom não apenas aumentou os
juros, mas divulgou nota deixando claro que voltará a fazê-lo.
Superávit anticíclico
A idéia de um superávit maior
não assumido ressuscita a proposta debatida no governo para o
"superávit primário anticíclico".
Trocando em miúdos: quando
houvesse retração da atividade
econômica, o governo realizaria
um superávit primário menor.
No caso de melhora da atividade
econômica, o que os indicadores
econômicos mostram que está
acontecendo agora, o governo faria um superávit primário maior.
Colaborou Ney Hayashi da Cruz,
da Sucursal de Brasília
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