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TENSÃO PÓS-COPOM
Indústria critica juros e diz que investimentos podem ser revistos; deputados elogiam "decisão técnica" do Copom
Fiesp já fala em "pé no freio" do consumo
DA REPORTAGEM LOCAL
DE NOVA YORK
E DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A elevação de 0,25 ponto percentual da taxa básica de juros da
economia, a Selic, deve esfriar o
consumo e adiar investimentos
que deveriam começar neste ano,
na avaliação de empresários e de
economistas. Para eles, essa foi
uma decisão equivocada.
Em nota, a Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo) afirma que a "tentativa do
Banco Central de conter o crescimento, reduzindo o seu ímpeto,
acentua o risco de forte inflexão
[desvio] de expectativas entre
consumidores e investidores".
"Todos entenderão esse aumento de juros como o primeiro
movimento de uma série", cita
texto assinado pelo presidente da
entidade, Horacio Lafer Piva, que
deixa o cargo no fim deste mês.
"A conseqüência de tamanha incerteza pode ser um pé no freio
nos planos de consumo e de investimento", complementa.
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, afirma
que a decisão do Copom foi
"equivocada". "A decisão se pauta, mais uma vez, por uma posição excessivamente conservadora
do BC, que se utiliza unicamente
da política e do aperto monetário
para debelar pressões inflacionárias. Entendemos que as pressões
que existiam não são generalizadas." O texto também diz que a
elevação nos juros é "danosa" à
produção e ao investimento.
Para o presidente eleito da
Fiesp, Paulo Skaf, "notícias como
essas só comprovam que no Brasil nós temos a autoridade monetária e nos falta a autoridade produtiva que se preocupe com
quem trabalha".
O presidente do Sebrae-SP,
Alencar Burti, diz que "o melhor
caminho para o país acabar com a
"tensão pré-Copom" é incentivar e
desonerar os investimentos em
produção".
Para Julio Gomes de Almeida,
diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), "o governo
ressuscitou a máxima, de dois
anos atrás, de que um tapinha não
dói. Só que dói, sim. O consumo
não deve cair, mas os investimentos que estavam prestes a serem
feitos devem ser revistos."
A Fecomercio SP (Federação do
Comércio do Estado de São Paulo) considera a elevação dos juros
um sinal de retrocesso para a continuidade do crescimento da economia. "Essa elevação não se justifica como pretexto para conter a
inflação, porque não há uma
pressão generalizada de preços
nem uma tendência de demanda
exagerada", diz nota assinada pelo presidente, Abram Szajman.
Para ele, a tendência a partir de
agora é de encarecimento do crédito e de "reversão da expansão".
"Eu já esperava que tivéssemos
um Copom dividido, que foi o
que acabou acontecendo. Foi
uma decisão difícil em termos de
"timing'", disse Paulo Leme, diretor de mercados emergentes do
banco Goldman Sachs.
"Mas, desta vez, diferentemente
das outras reuniões, eles deram sinal de que se trata de um processo. A decisão mostra que o Copom continuará aumentando e
monitorando a inflação -se a inflação estiver mais baixa, os aumentos serão de 0,25 ponto, e, se
houver maior pressão, de 0,5 ponto percentual."
Para Hugo Penteado, economista-chefe do ABN Amro Asset
Management, a política monetária já vinha dando sinais de que
estava entrando em uma fase de
aperto monetário. "O Banco Central deu início a uma política de
contínuas e pequenas elevações
[dos juros] para dissipar os riscos
de inflação de demanda", afirma.
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) divulgou nota afirmando considerar "inaceitável" a
decisão do Copom e afirmando
que o BC coloca em risco a continuidade do crescimento do país.
Para a Força Sindical, a decisão do
governo foi "absurda" e vai resultar na queda da renda.
Congresso
O líder do governo na Câmara,
deputado Professor Luizinho
(PT-SP), afirmou que o melhor
seria não subir os juros, mas que
acha correta a posição do BC.
"Acho que de forma nenhuma isso compromete o crescimento
econômico, pelo contrário, dá segurança ao país. O BC agiu com
razoabilidade", afirmou.
De acordo com deputado, o fato
de a elevação que prevaleceu ter
sido a menor (0,25 ponto percentual) em votação é um fator positivo. "Há a preocupação correta
com o fator inflacionário", disse.
O PFL também elogiou. O deputado José Carlos Aleluia (BA),
líder da bancada, disse que concorda com o Copom porque a é
uma "decisão técnica". "Foi no
sentido certo, prefiro me conformar com ela. O resto é suposição,
o BC agiu de forma correta."
O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), disse que o
Copom poderia ter mantido a taxa de juros em 16%, mas considerou "um gesto correto" o aumento de 0,25 ponto percentual devido à meta inflacionária.
"Foi um gesto correto. As alternativas eram manter ou aumentar, não tinha como baixar agora.
Poderia ter baixado para 14% antes, porque tiveram oportunidade
e não fizeram", disse ele.
Para Virgílio, o Copom agiu
com coragem ao aumentar a Selic
nas vésperas das eleições municipais. "As opções não eram agradáveis. Poderiam ter aumentado
o superávit primário, reduzindo a
carga de investimento do Estado,
ou ser austero com os juros",
acrescentou.
O líder do governo, senador
Aloizio Mercadante (PT-SP), não
quis comentar a decisão do BC.
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