São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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TENSÃO PÓS-COPOM

Indústria critica juros e diz que investimentos podem ser revistos; deputados elogiam "decisão técnica" do Copom

Fiesp já fala em "pé no freio" do consumo

DA REPORTAGEM LOCAL
DE NOVA YORK
E DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A elevação de 0,25 ponto percentual da taxa básica de juros da economia, a Selic, deve esfriar o consumo e adiar investimentos que deveriam começar neste ano, na avaliação de empresários e de economistas. Para eles, essa foi uma decisão equivocada.
Em nota, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) afirma que a "tentativa do Banco Central de conter o crescimento, reduzindo o seu ímpeto, acentua o risco de forte inflexão [desvio] de expectativas entre consumidores e investidores".
"Todos entenderão esse aumento de juros como o primeiro movimento de uma série", cita texto assinado pelo presidente da entidade, Horacio Lafer Piva, que deixa o cargo no fim deste mês. "A conseqüência de tamanha incerteza pode ser um pé no freio nos planos de consumo e de investimento", complementa.
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, afirma que a decisão do Copom foi "equivocada". "A decisão se pauta, mais uma vez, por uma posição excessivamente conservadora do BC, que se utiliza unicamente da política e do aperto monetário para debelar pressões inflacionárias. Entendemos que as pressões que existiam não são generalizadas." O texto também diz que a elevação nos juros é "danosa" à produção e ao investimento.
Para o presidente eleito da Fiesp, Paulo Skaf, "notícias como essas só comprovam que no Brasil nós temos a autoridade monetária e nos falta a autoridade produtiva que se preocupe com quem trabalha".
O presidente do Sebrae-SP, Alencar Burti, diz que "o melhor caminho para o país acabar com a "tensão pré-Copom" é incentivar e desonerar os investimentos em produção".
Para Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), "o governo ressuscitou a máxima, de dois anos atrás, de que um tapinha não dói. Só que dói, sim. O consumo não deve cair, mas os investimentos que estavam prestes a serem feitos devem ser revistos."
A Fecomercio SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo) considera a elevação dos juros um sinal de retrocesso para a continuidade do crescimento da economia. "Essa elevação não se justifica como pretexto para conter a inflação, porque não há uma pressão generalizada de preços nem uma tendência de demanda exagerada", diz nota assinada pelo presidente, Abram Szajman. Para ele, a tendência a partir de agora é de encarecimento do crédito e de "reversão da expansão".
"Eu já esperava que tivéssemos um Copom dividido, que foi o que acabou acontecendo. Foi uma decisão difícil em termos de "timing'", disse Paulo Leme, diretor de mercados emergentes do banco Goldman Sachs.
"Mas, desta vez, diferentemente das outras reuniões, eles deram sinal de que se trata de um processo. A decisão mostra que o Copom continuará aumentando e monitorando a inflação -se a inflação estiver mais baixa, os aumentos serão de 0,25 ponto, e, se houver maior pressão, de 0,5 ponto percentual."
Para Hugo Penteado, economista-chefe do ABN Amro Asset Management, a política monetária já vinha dando sinais de que estava entrando em uma fase de aperto monetário. "O Banco Central deu início a uma política de contínuas e pequenas elevações [dos juros] para dissipar os riscos de inflação de demanda", afirma.
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) divulgou nota afirmando considerar "inaceitável" a decisão do Copom e afirmando que o BC coloca em risco a continuidade do crescimento do país. Para a Força Sindical, a decisão do governo foi "absurda" e vai resultar na queda da renda.

Congresso
O líder do governo na Câmara, deputado Professor Luizinho (PT-SP), afirmou que o melhor seria não subir os juros, mas que acha correta a posição do BC. "Acho que de forma nenhuma isso compromete o crescimento econômico, pelo contrário, dá segurança ao país. O BC agiu com razoabilidade", afirmou.
De acordo com deputado, o fato de a elevação que prevaleceu ter sido a menor (0,25 ponto percentual) em votação é um fator positivo. "Há a preocupação correta com o fator inflacionário", disse.
O PFL também elogiou. O deputado José Carlos Aleluia (BA), líder da bancada, disse que concorda com o Copom porque a é uma "decisão técnica". "Foi no sentido certo, prefiro me conformar com ela. O resto é suposição, o BC agiu de forma correta."
O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), disse que o Copom poderia ter mantido a taxa de juros em 16%, mas considerou "um gesto correto" o aumento de 0,25 ponto percentual devido à meta inflacionária.
"Foi um gesto correto. As alternativas eram manter ou aumentar, não tinha como baixar agora. Poderia ter baixado para 14% antes, porque tiveram oportunidade e não fizeram", disse ele.
Para Virgílio, o Copom agiu com coragem ao aumentar a Selic nas vésperas das eleições municipais. "As opções não eram agradáveis. Poderiam ter aumentado o superávit primário, reduzindo a carga de investimento do Estado, ou ser austero com os juros", acrescentou.
O líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), não quis comentar a decisão do BC.


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