São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2008

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Bolsas têm pior dia desde o 11 de Setembro

Bovespa derrete 7,59% e lidera perdas entre as Bolsas; empresas americanas perdem US$ 600 bi em valor de mercado

BC europeu injeta US$ 50 bi no mercado, enquanto o BC chinês reduz os juros; analistas falam em corte na taxa de juros nos EUA hoje

David Karp/Associated Press
Operadora da Bolsa de Valores de Nova York; ontem mercados viveram dia de crise com o anúncio da concordata do Lehman Brothers

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os mercados globais tiveram ontem um dos piores dias desde os atentados de 11 de setembro de 2001 e do estouro da bolha da internet. O pessimismo seguiu o final de semana que culminou no fim da história independente do Lehman Brothers e do Merrill Lynch, respectivamente quarto e terceiro maiores bancos de investimento dos EUA.
A reorganização dos bancos de investimento e a possibilidade de quebra da AIG (American Internacional Group), a maior seguradora do mundo e parceira no Brasil do Unibanco, levaram ao maior movimento de aversão ao risco desde que estourou a crise das hipotecas "subprime" (segunda linha), em meados de 2007.
Mesmo fora do epicentro da crise, a Bovespa desabou 7,59% ontem e liderou as perdas entre todas as Bolsa de Valores do planeta. O dólar subiu 1,52% e voltou a R$ 1,808.
Nos EUA, a Bolsa de Nova York teve perdas de 4,42% no índice Dow Jones e de 4,71% no S&P 500, levando a uma perda estimada em US$ 600 bilhões no valor de mercado das empresas americanas ontem.
Em ação coordenada com o Banco da Inglaterra, o BC Europeu injetou mais de US$ 50 bilhões nos mercados, mas não conseguiu evitar o pânico nas Bolsas -a baixa foi de 3,92% em Londres, de 2,74% em Frankfurt e de 3,78% em Paris.
Na Ásia, o BC chinês anunciou o primeiro corte na taxa de juros desde fevereiro de 2002 e decidiu reduzir os depósitos compulsórios, medida inédita desde 1999. Os mercados de China, Japão e Coréia do Sul, que estiveram fechados ontem por conta de feriado local, abriram hoje em forte queda.
Sem o socorro do governo americano, fracassaram as negociações para a venda do Lehman Brothers, que entrou hoje com um pedido de concordata, a maior da história. O Merrill Lynch confirmou que será vendido ao Bank of America por cerca de US$ 50 bilhões, em uma operação que envolverá apenas a troca de ações.
A maior preocupação ontem, porém, era com o futuro da AIG, a maior seguradora do mundo, que lutava para levantar dinheiro e manter suas atividades. A AIG conseguiu US$ 20 bilhões com as autoridades reguladoras de Nova York.
A empresa teve ontem a sua nota rebaixada pelas principais agências de classificação de risco (Standard & Poor's, Fitch e Moody's), aumentando ainda mais as preocupações em relação ao seu futuro.
O Fed ampliou sua linha emergencial de crédito para instituições em dificuldades de US$ 175 bilhões para US$ 200 bilhões semanais. Também informou que vai ser menos exigente nas garantias que costuma exigir das instituições. Pela primeira vez, vai aceitar inclusive títulos da dívida brasileira.
Hoje, o Fed decide sobre a taxa de juros nos EUA, atualmente em 2%. Em meio ao pânico de ontem, analistas chegaram a afirmar que não ficariam surpresos se a taxa fosse reduzida, algo impensável até a semana passada. Nas primeiras negociações de hoje em Tóquio (noite no Brasil), o dólar americano recuava 3% para 104,58 ienes, o menor valor em dois meses.
Entre os analistas, há diferentes graus de pessimismo sobre o atual momento. O economista Nouriel Roubini, que previu a crise, assustou o mercado ao afirmar que o Morgan Stanley e o Goldman Sachs devem seguir o mesmo caminho do Lehman e do Merrill Lynch.
Outros, como Benton Gup, autor do livro "Too Big To Fail" (Grande Demais para Quebrar), afirma que o colapso agora deve atingir instituições menores. "Vamos ver bancos indo à bancarrota. Mas pequenos."
No final da tarde, o pessimismo aumentou após o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, afirmar que a crise será longa, deve se intensificar e não terá mais socorro a bancos com dinheiro do Tesouro.
No Brasil, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tentou tranqüilizar o mercado. Disse que há um "colchão confortável de liquidez" no país e que os bancos nacionais não estão expostos ao sistema de créditos ruins dos EUA, epicentro da crise, embora a menor liquidez global deva reduzir o crédito no Brasil.
"O tsunami é fora do Brasil. Aqui só tivemos o vento. A Bolsa está caindo mais pela reversão da expectativa que tivemos na semana passada, quando apareceu uma possibilidade de recuperação. Agora, é o desapontamento e a saída tardia de estrangeiro da Bolsa", disse Sidnei Nehme, diretor da corretora NGO de câmbio.


Com agências internacionais



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