|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mercado vê mais falências de bancos
Analistas se dividem entre os que apostam em quebras de instituições grandes e os que esperam o fechamento das menores
Negando ajuda ao Lehman Brothers, governo deixou claro que o critério para socorro é o risco sistêmico que a instituição representa
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Algumas semanas atrás,
eram muitos os analistas que
apostavam que o pior da crise
no sistema bancário americano
havia ficado para trás.
Ontem, no entanto, predominava no mercado financeiro
dos Estados Unidos a opinião
de que ainda há outras instituições por quebrar -a única divergência dizia respeito ao tamanho e à importância delas.
Nouriel Roubini, professor
da Universidade de Nova York
e primeiro a prever essas turbulências, acha que não restará
nenhuma corretora ou administradora de recursos independentes. "Seu modelo de negócio, que pede elevada alavancagem [endividamento para investimento], é insustentável se
essas empresas não estiverem
associadas a grandes bancos",
comentou o economista, que é
conhecido pelo pessimismo,
em entrevista na televisão. Na
sua avaliação, o Goldman Sachs
e o Morgan Stanley devem começar imediatamente a buscar
parceiros se quiserem evitar o
destino do Lehman Brothers.
Opinião oposta tem Benton
Gup, professor da Universidade do Alabama e autor do livro
"Too Big To Fail: Policies and
Practices in Government Bailouts" (em tradução livre,
"Grandes Demais para Falir:
Políticas e Práticas em Salvamentos do Governo"). "Creio
que ainda vamos ver bancos indo à bancarrota. Mas pequenos,
não gigantes", afirma.
Para os especialistas, o fato
de o governo ter decidido não
ajudar a vender o Lehman Brothers se explica principalmente
pelo pequeno perigo sistêmico
que a sua falência significaria.
"O critério é o impacto. As autoridades perceberam que o
Lehman Brothers não significava uma ameaça", explica
Gup. "Da mesma maneira que,
na história, houve outros resgates, também existiram situações em que o governo federal
preferiu não interferir, como os
casos Enron e WorldCom. Elas
quebraram por corrupção, e
ninguém ficou sem telefone ou
energia elétrica. O mercado financeiro está bastante nervoso
neste momento, porém não parou de funcionar." Outra diferença é que o banco estava em
situação pior do que o Merril
Lynch em termos de prejuízos
com os títulos lastreados em hipotecas.
Ao deixar bem claro quais são
as condições para um salvamento, a administração George
W. Bush espera, ainda, minimizar o "risco moral" -quando
ajudou o Bear Sterns, foi criticado por dar a entender que estenderia a mão a todos os bancos que se encontrassem em dificuldades. Agora, a mensagem
é outra.
O forte mau humor observado ontem nas Bolsas de Valores
é, em parte, resposta a esse
pragmatismo e essa ansiedade
em saber quais são as próximas
instituições que vão gritar por
socorro. De acordo com os registros da FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation,
Corporação Federal de Seguro
de Depósito), órgão do governo
responsável por garantir as
operações do setor, 28 bancos
pediram falência nos Estados
Unidos neste ano, sem contar o
Lehman Brothers.
"Mais uma centena pode ir à
lona nos próximos meses. Assim, os mercados ficarão voláteis por algum tempo. Vai demorar um pouco para a situação se normalizar", frisa Gup.
Pior e melhor
Os prejuízos com a atual crise já fazem dela a pior da história. As perdas poderiam ser ainda maiores, entretanto, não
fossem as atuações do Federal
Reserve (o banco central norte-americano) e do Tesouro.
"Em 1929, ocorreu um verdadeiro derretimento do mercado acionário, o que não está
acontecendo agora. Na época,
não existia uma política monetária, uma política fiscal como
temos hoje. Estamos mais seguros", compara Allen Sinai,
presidente da consultoria Decision Economics.
Para essa sensação, que tem
evitado uma corrida de clientes
às instituições financeiras, contribui a garantia da FDIC: no
caso de quebra de um banco,
seus correntistas podem receber de volta os depósitos até o
valor máximo de US$ 100 mil,
ou US$ 250 mil no caso dos planos de previdência privada.
Mas as conseqüências para a
economia real continuam sendo objeto de debate. "Provavelmente não presenciaremos
uma recessão global nos moldes da Grande Depressão, embora os gastos dos consumidores estejam caindo e devam
continuar baixos por um bom
tempo. É difícil fazer qualquer
tipo de previsão", diz Sinai.
Texto Anterior: Para FMI, sistema financeiro deve se contrair nos EUA Próximo Texto: Frase Índice
|