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Crise afetará muito pouco o Brasil, diz criador da sigla Brics
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
O Brasil deveria se preocupar
menos com a crise nos EUA e
em outros países desenvolvidos e mais com o crescimento
da China e com os preços do petróleo e de outras commodities.
A avaliação é de Jim O'Neill,
economista-chefe do Goldman
Sachs e criador da expressão
Bric (as iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China).
Segundo ele, "as pessoas não
deveriam exagerar" o impacto
do mais recente episódio da crise econômica global, a quebra
do Lehman Brothers. O impacto da enorme turbulência será
"muito pequeno" no crescimento do Brasil, que tem de ficar atento a duas barreiras: um
crescimento abaixo de 7% na
China e o petróleo abaixo de
US$ 80. Além disso, conter os
gastos governamentais. Em sua
avaliação, a economia do Brasil
nunca esteve tão "sólida" e "estável" nos últimos 30 anos.
Partidário da tese do "descolamento" entre as economias
emergentes e as dos países desenvolvidos, O'Neill diz: "Graças a Deus que temos os Brics!".
Segundo ele, essa é uma crise
apenas do mundo rico.
PERGUNTA - Como essa nova fase
da crise vai afetar o mundo?
JIM O'NEILL - A que crise você está se referindo?
PERGUNTA - À falência do Lehman,
à venda da Merrill Lynch, à situação
difícil da AIG...
O'NEILL - Minha visão é: graças
a Deus pelos Brics!
PERGUNTA - Por quê?
O'NEILL - Todas as pessoas que
estão reagindo com um enorme
medo ao que aconteceu nesse
final de semana precisam se
perguntar o seguinte: isso vai
afetar o consumidor chinês? O
fato de o Lehman não existir
mais vai ter um impacto negativo nas vendas do comércio chinês? Para o mundo que está
emergindo para ser a liderança
do futuro, não é nada demais
esse problema.
É uma enorme questão nos
EUA e nos países ricos. Mas, no
mundo como um todo, as pessoas não deveriam exagerar os
impactos dessa crise.
PERGUNTA - O que o senhor quer
dizer com isso?
O'NEILL - Eu vejo o que está
acontecendo com o Lehman
como mais um sintoma do fim
de auge do consumo norte-americano. Se você olhar toda a
informação que nós temos, inclusive do Brasil, mas particularmente da China, as vendas
no varejo e os gastos dos consumidores estão se acelerando
nos Brics, enquanto os EUA estão sofrendo imensamente
com a turbulência econômica
mundial. São sintomas, muito
mais do que a causa. Desde que
não haja um problema sistêmico, não acho que seja importante o que as pessoas falam.
PERGUNTA - As pessoas falam muito de "descolamento". O senhor parece ser partidário dessa idéia.
O'NEILL - É justamente isso que
acabei de falar. Estamos com
um genuíno descolamento da
demanda doméstica nos grandes mercados emergentes para
longe dos EUA. O Brasil não
precisa mais dos EUA.
PERGUNTA - O Brasil cresceu 6% no
último trimestre. Essa crise não vai
afetar em nada o crescimento do
país, é isso o que o sr. está dizendo?
O'NEILL - Muito pouco. Se a
China crescer abaixo de 7%, isso me preocuparia muito mais
no Brasil do que a situação dos
EUA. Porque a China tem sido
o grande condutor marginal da
economia no último ano. Não
vamos saber se o B nos Brics é
merecido até que as commodities passem por um período de
correção. Acho que é bom que o
Brasil esteja passando por esse
teste, com a queda das commodities. E, até agora, o Brasil tem
feito um grande trabalho. A política do BC é fantástica.
PERGUNTA - O senhor tem uma visão bastante rósea da economia
brasileira.
O'NEILL - Sim. Tenho duas preocupações com a economia brasileira nos próximos anos. Um:
como o Brasil vai lidar com a
queda das commodities. O país
está indo muito bem. Dois, o
governo continua a gastar muito dinheiro. Se o Brasil continuar a manter o ritmo de crescimento acima dos 5%, então
será necessário que o governo
reduza seus gastos. Mas estou
muito otimista. O Brasil é uma
economia mais forte e estável
do que em qualquer ponto nos
últimos 30 anos.
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