São Paulo, quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fundo com taxa de 2% volta a ficar competitivo em 2010

Para analista, governo atende demanda dos bancos e ainda conseguirá elevar arrecadação

Proposta anterior de tributação da poupança foi criticada por ser complexa e de difícil compreensão para os pequenos investidores

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os fundos de investimento DI com taxas de administração de até 2%, que desde maio tinham ficado inviáveis por render menos do que a poupança, voltarão a ficar competitivos em 2010, com a nova proposta para tributar a caderneta, segundo especialistas.
Com a nova regra, um investidor que deixar R$ 100 mil na poupança por um ano terá um mínimo de R$ 105.475,87 líquidos, já descontando o Imposto de Renda fixo de 22,5% incidente sobre os R$ 50 mil excedentes ao limite de isenção.
Se aplicar num fundo DI com taxa de administração de 2% e aderir à alíquota de 17,5% do IR (aplicações entre 361 e 720 dias), poderá ter R$ 105.568 líquidos, considerando os juros básicos nos atuais 8,75% -se a alíquota for de 20% (181 a 360 dias), o saldo será R$ 105.400, ainda perdendo para a poupança, segundo simulação da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), ligada à USP.
Segundo Marcia Dessen, consultora de investimentos da Bankrisk, a mudança assegura à poupança o posto de melhor aplicação para o pequeno investidor, com recursos abaixo de R$ 50 mil. "O grande investidor que viu a poupança como uma alternativa competitiva vai perceber, a partir do ano que vem, que essa janela fechou. Provavelmente, vai voltar para o fundo porque a alíquota de 22,5% é punitiva."
Para Alexandre Assaf Neto, professor da Fipecafi, em "uma tacada só" o governo resolveu a principal demanda da indústria de fundos, que temia perder aplicadores para a poupança, e ainda conseguiu elevar a sua arrecadação. Os fundos de investimento são os maiores compradores da dívida do governo.
"Foi maldade do governo. Em vez de atrelar a poupança a um percentual da taxa Selic, em que o problema estaria eternamente resolvido, eles preferiram incluir imposto. Se a taxa de juros cair para 7%, vai ter de aumentar a alíquota ou mudar o sistema. O governo precisa desse dinheiro para reforçar o caixa dele e pagar aumento salarial para o funcionalismo."

Críticas
Criticada em maio por sua complexidade, a proposta de taxação da poupança previa uma série de gatilhos que alterava a base de cálculo em que incidiria o imposto, conforme a taxa de juros em vigor. À época, ainda sob influência da crise, o discurso do governo era desonerar os fundos de investimento para torná-los mais atraentes. A proposta, no entanto, nunca saiu do papel, sob a interpretação do governo de que não houve migração dos fundos para a poupança.
"O governo melhorou a proposta para a poupança, que ficou bem mais atraente para o mercado de fundos. Deve ter ouvido as críticas. A alíquota de 22,5% é a mais alta da renda fixa. Mas não é ainda uma solução definitiva", disse Ricardo Fontes, professor do Insper.
"Ninguém pode pegar a poupança, que é o investimento mais simples que existe, e torná-lo o mais complicado. Estão jogando [o problema da poupança] para o próximo governo. Quem é o presidente que vai querer mexer na poupança hoje? Essa janela de oportunidade da poupança [de interesse do grande aplicador] só volta se a taxa de juros vier para um patamar inferior a 8%, que não parece acontecer neste governo. Com isso, os fundos ficam bem, obrigado. O governo segura o financiamento dos títulos da dívida e ainda arrecada com a poupança", disse Dessen.
A Anbid (Associação dos Bancos de Investimento), que representa os fundos, não se pronunciou sobre o assunto.


Texto Anterior: Alexandre Schwartsman: Muito além do jardim
Próximo Texto: Oposição afirma que vai barrar trâmite do projeto no Congresso
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.