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Fundo com taxa de 2% volta a ficar competitivo em 2010
Para analista, governo atende demanda dos bancos e ainda conseguirá elevar arrecadação
Proposta anterior de tributação da poupança foi criticada por ser complexa e de difícil compreensão para os pequenos investidores
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os fundos de investimento
DI com taxas de administração
de até 2%, que desde maio tinham ficado inviáveis por render menos do que a poupança,
voltarão a ficar competitivos
em 2010, com a nova proposta
para tributar a caderneta, segundo especialistas.
Com a nova regra, um investidor que deixar R$ 100 mil na
poupança por um ano terá um
mínimo de R$ 105.475,87 líquidos, já descontando o Imposto
de Renda fixo de 22,5% incidente sobre os R$ 50 mil excedentes ao limite de isenção.
Se aplicar num fundo DI com
taxa de administração de 2% e
aderir à alíquota de 17,5% do IR
(aplicações entre 361 e 720
dias), poderá ter R$ 105.568 líquidos, considerando os juros
básicos nos atuais 8,75% -se a
alíquota for de 20% (181 a 360
dias), o saldo será R$ 105.400,
ainda perdendo para a poupança, segundo simulação da Fipecafi (Fundação Instituto de
Pesquisas Contábeis, Atuariais
e Financeiras), ligada à USP.
Segundo Marcia Dessen,
consultora de investimentos da
Bankrisk, a mudança assegura
à poupança o posto de melhor
aplicação para o pequeno investidor, com recursos abaixo
de R$ 50 mil. "O grande investidor que viu a poupança como
uma alternativa competitiva
vai perceber, a partir do ano
que vem, que essa janela fechou. Provavelmente, vai voltar para o fundo porque a alíquota de 22,5% é punitiva."
Para Alexandre Assaf Neto,
professor da Fipecafi, em "uma
tacada só" o governo resolveu a
principal demanda da indústria
de fundos, que temia perder
aplicadores para a poupança, e
ainda conseguiu elevar a sua arrecadação. Os fundos de investimento são os maiores compradores da dívida do governo.
"Foi maldade do governo.
Em vez de atrelar a poupança a
um percentual da taxa Selic, em
que o problema estaria eternamente resolvido, eles preferiram incluir imposto. Se a taxa
de juros cair para 7%, vai ter de
aumentar a alíquota ou mudar
o sistema. O governo precisa
desse dinheiro para reforçar o
caixa dele e pagar aumento salarial para o funcionalismo."
Críticas
Criticada em maio por sua
complexidade, a proposta de
taxação da poupança previa
uma série de gatilhos que alterava a base de cálculo em que
incidiria o imposto, conforme a
taxa de juros em vigor. À época,
ainda sob influência da crise, o
discurso do governo era desonerar os fundos de investimento para torná-los mais atraentes. A proposta, no entanto,
nunca saiu do papel, sob a interpretação do governo de que
não houve migração dos fundos
para a poupança.
"O governo melhorou a proposta para a poupança, que ficou bem mais atraente para o
mercado de fundos. Deve ter
ouvido as críticas. A alíquota de
22,5% é a mais alta da renda fixa. Mas não é ainda uma solução definitiva", disse Ricardo
Fontes, professor do Insper.
"Ninguém pode pegar a poupança, que é o investimento
mais simples que existe, e torná-lo o mais complicado. Estão
jogando [o problema da poupança] para o próximo governo. Quem é o presidente que vai
querer mexer na poupança hoje? Essa janela de oportunidade
da poupança [de interesse do
grande aplicador] só volta se a
taxa de juros vier para um patamar inferior a 8%, que não parece acontecer neste governo.
Com isso, os fundos ficam bem,
obrigado. O governo segura o financiamento dos títulos da dívida e ainda arrecada com a
poupança", disse Dessen.
A Anbid (Associação dos
Bancos de Investimento), que
representa os fundos, não se
pronunciou sobre o assunto.
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