São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 2000

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ELETRÔNICA
Medo de assaltos e sequestros atrai multinacionais para disputar setor que cresce entre 25% e 30% ao ano no país
Violência alimenta indústria da segurança

CÉLIA CHAIM
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é filme de mocinho e bandido ou de super-heróis que voam em carros blindados e que, ao apertar um botão, explodem tudo ao seu redor.
O mundo real ultrapassou a imaginação do cinema e a indústria que experimenta os maiores sucessos de bilheteria não é, infelizmente, a cinematográfica.
Os índices sempre crescentes de violência nas grandes cidades alimentam a prosperidade de um jovem setor no país que faz de quase tudo para tentar livrar as pessoas do perigo: a indústria especializada em segurança eletrônica.
Um setor cuja projeção de faturamento neste ano alcança US$ 650 milhões, dos quais 63% assegurados pela região Sudeste.
É um setor que cresce num ritmo de 25% a 30% ao ano, segundo o acompanhamento da Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (Abese). Constituído por 3.500 empresas, principalmente médias, pequenas e micro, exibe um potencial dos mais atraentes.
Tão atraente que grandes multinacionais já começam a fazer negócios no setor: a alemã Siemens está comprando a Graber, 100% nacional (apesar da origem suíça), apontada como a maior da América Latina em seu negócio.
O que atraiu os alemães foi o extraordinário potencial de crescimento do mercado, que avança em sintonia com o aumento da violência e do medo.
Só na área de imóveis, o tamanho desse mercado é estimado em 3 milhões de residências. Apenas 6% desse total tem algum equipamento de proteção.

Oferta variada
De vidraças blindadas contra balas perdidas a instrumentos com sistema de rádio quase invisíveis que, em um sequestro, permitem à vítima emitir discretamente sinais de dentro de um porta-malas, as indústrias de segurança oferecem novidades tecnológicas que parecem saídas de um filme de ficção. Ou da Casa Branca, onde os carros blindados dos presidentes são verdadeiros cardápios periódicos de lançamentos.
O primeiro carro blindado, projetado pelos engenheiros da O'Gara-Hess & Eisenhardt, empresa internacional especializada em blindagem, foi criado em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, para Franklin D. Roosevelt, presidente dos EUA.
Originalmente, a O'Gara dedicava-se a produtos mais inocentes, como carruagens sob encomenda. Hoje, quando a segurança deixou de ser um privilégio de chefes de Estado, a empresa se sente à vontade para propor aos clientes "que sua tranquilidade pode ser blindada".

Preços caem
No Brasil, as vendas das empresas de blindagem dobraram no ano passado. Os custos vêm caindo, e hoje estão na faixa de R$ 40 mil por veículo.
A sofisticação dos produtos, por outro lado, aumenta. A blindagem, por exemplo, tem a opção do "nível urbano", ou "anti-sequestro", que defende contra armas dos mais variados calibres e, até, alguns explosivos, além de grande variedade de acessórios, como o sistema de sirene e walkie-talkie, que permite a comunicação com o exterior do carro sem a abertura das janelas.
No Salão do Automóvel que se realiza em São Paulo, faz sucesso a trava antifurto automática, lançada pela Mul-T-Lock, fabricante também de portas à prova de arrombamento.
A trava é instalada no console do carro e trava o câmbio por meio de um pino de aço quando o motorista desliga o veículo.
Sucesso em Israel, país de origem da Mul-T-Lock, a trava chega ao Brasil por R$ 350. "Esse é um mercado em constante crescimento e inovação", diz o empresário Ilan Rubinstein, dono da empresa Valetron - Alarmes, Controles e Comunicação.
Com oito empregados e muitas representações, Rubinstein está lançando o Televoicer, para condomínios, shopping centers, galerias etc. "Um verdadeiro ovo de Colombo", diz ele. De fácil instalação, o equipamento, ao ser acionado, transmite uma mensagem previamente gravada, indicando o local do perigo.
Outro produto que promete dar trabalho aos bandidos é o Pro-T-Cerca, uma cerca com lâminas cortantes que, no mínimo, atrapalha a mais ousada tentativa de invasão. Também é da Mul-T-Lock e é vendida em embalagens de 12 até 60 metros.


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