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Grupo nacional inova para não fechar
MARCELO PINHO
DA REDAÇÃO
A chegada de grandes grupos
multinacionais a alguns setores,
notadamente de serviços, forçou
as concorrentes brasileiras a investir e aprimorar seus serviços
para sobreviverem.
Investimentos, novidades tecnológicas e marcas famosas trouxeram novo fôlego para setores
antes dominados por empreendimentos caseiros.
As empresas brasileiras que resistiram à concorrência dos grupos estrangeiros têm uma fórmula que mescla conhecimento do
mercado nacional, flexibilidade e
investimentos em inovações.
Entre as "sobreviventes" há desde redes de lavanderias de roupa a
livrarias, passando por videolocadoras e redes de cinema. Além de
resistir, melhoraram seus serviços
e cresceram a ponto de assustar a
concorrência.
Fundada há 36 anos, a brasileira
Vip, uma rede de lavanderias de
São Paulo, há dez enfrenta a francesa 5 à Sec. De lá para cá, a rede
passou de 20 para 40 lojas, com a
inauguração de uma franquia em
Limeira (interior de São Paulo)
neste mês de outubro.
Othon Barcellos, 60, fundador
da empresa e até hoje presidente
do grupo, diz que a concorrência
nunca o assustou. "Estamos em
um mercado muito competitivo.
Para o consumidor, o que importa é a qualidade, e não a origem do
grupo. E nossa qualidade é mais
avançada. Eles [a 5 à Sec] usam
uma tecnologia que não usamos
desde 1992", disse.
Barcellos, que montou a empresa em 1968 após concluir a faculdade engenharia, defende a concorrência com estrangeiros. "É
saudável. Faz a gente investir na
melhora dos nossos serviços",
conta ele, citando novidades da
empresa como a entrega em domicílio em menos de uma hora,
os pedidos pela internet e o atendimento via 0800.
Segundo Barcellos, a chegada da
5 à Sec "chamou a atenção do
consumidor para o setor de lavanderias. O consumidor começou a acreditar que poderia lavar
sua roupa numa lavanderia."
O investimento em melhoria
dos serviços também está na fórmula da tradicional Livraria Cultura de São Paulo para sobreviver
à concorrência de fora. Os estrangeiros no caso são a rede francesa
Fnac. "Temos de nos reinventar
diariamente. Por exemplo, criamos um serviço que entrega um
pedido feito pela internet no mesmo dia para quatro capitais", disse Sérgio Herz, um dos sócios da
empresa, que tem cerca de 800 mil
títulos no catálogo.
Mesmo competindo com uma
"multinacional gigante", Herz nega ter temido ser engolido. "Se
nós formos eficientes, se atendermos bem o cliente, sempre conseguiremos sobreviver."
Outro setor que luta contra a
concorrência de multinacionais é
o de exibidores de cinema. Sobrevivente há várias mudanças de cenário, o Grupo Severiano Ribeiro
encontrou uma fórmula racional
para competir. Associou-se ao
grupo norte-americano UCI para
montar modernos cinemas em
Recife e em Fortaleza.
A saúde do octogenário grupo,
que tem mais de 200 salas espalhadas por 12 Estados, é explicada
também pela preparação anterior
à chegada dos estrangeiros. "Nós
já imaginávamos a chegada deles.
Nós nos preparamos comprando
os melhores pontos, inclusive em
shoppings. Com os nossos pontos, não temíamos ser engolidos",
afirmou.
Para o professor de administração do Ibmec/SP, Sérgio Lazzarini, dominar o território é uma saída para as empresas que vêem seu
território "invadido" por multinacionais. A outra saída é serem
engolidas pelas múltis. "Elas podem sentir que não são competitivas e deixarem ser engolidas ou
percebem que têm vantagens e
partem para a expansão. A estratégia é tomar o mercado para inibir a entrada das estrangeiras."
Ele cita o caso da rede norte-americana de cafés Starbuck's. As
empresas nacionais viram que
eram competitivas e ampliaram o
número de franquias, levando a
Starbuck's a questionar a viabilidade do negócio.
Para ele, outra vantagem das
empresas brasileiras é o conhecimento do mercado local. Lazzarini diz que as empresas estão habituadas aos órgãos reguladores locais, com a administração pública
e, principalmente, com os consumidores brasileiros.
Flexibilidade
Para a rede de locadoras 100%
Vídeo, de Campinas, flexibilidade
é outra vantagem das empresas
nacionais.
Carlos Augusto, diretor de franchising da rede, que tem mais 61
lojas em 11 Estados, disse que pode implementar promoções com
mais rapidez do que concorrentes
estrangeiros, como a norte-americana Blockbuster. "Somos mais
rápidos porque decidimos no
Brasil. Não precisamos consultar
a matriz no exterior."
Augusto explica que uma tática
da empresa para evitar o assédio
da Blockbuster foi a grande capilaridade da rede. "Quando eles
vieram para cá, já estávamos nos
melhores pontos."
A empresa também inovou na
estrutura das lojas. Trouxe o modelo "store in store", no qual firmaram parcerias para ter lojas do
Fran's Café e da Livraria Nobel
dentro das locadoras.
Augusto resume a dinâmica da
competição com estrangeiros. "É
uma competição desigual. Mas
quem for mais eficiente leva."
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