São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2004

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Grupo nacional inova para não fechar

MARCELO PINHO
DA REDAÇÃO

A chegada de grandes grupos multinacionais a alguns setores, notadamente de serviços, forçou as concorrentes brasileiras a investir e aprimorar seus serviços para sobreviverem.
Investimentos, novidades tecnológicas e marcas famosas trouxeram novo fôlego para setores antes dominados por empreendimentos caseiros.
As empresas brasileiras que resistiram à concorrência dos grupos estrangeiros têm uma fórmula que mescla conhecimento do mercado nacional, flexibilidade e investimentos em inovações.
Entre as "sobreviventes" há desde redes de lavanderias de roupa a livrarias, passando por videolocadoras e redes de cinema. Além de resistir, melhoraram seus serviços e cresceram a ponto de assustar a concorrência.
Fundada há 36 anos, a brasileira Vip, uma rede de lavanderias de São Paulo, há dez enfrenta a francesa 5 à Sec. De lá para cá, a rede passou de 20 para 40 lojas, com a inauguração de uma franquia em Limeira (interior de São Paulo) neste mês de outubro.
Othon Barcellos, 60, fundador da empresa e até hoje presidente do grupo, diz que a concorrência nunca o assustou. "Estamos em um mercado muito competitivo. Para o consumidor, o que importa é a qualidade, e não a origem do grupo. E nossa qualidade é mais avançada. Eles [a 5 à Sec] usam uma tecnologia que não usamos desde 1992", disse.
Barcellos, que montou a empresa em 1968 após concluir a faculdade engenharia, defende a concorrência com estrangeiros. "É saudável. Faz a gente investir na melhora dos nossos serviços", conta ele, citando novidades da empresa como a entrega em domicílio em menos de uma hora, os pedidos pela internet e o atendimento via 0800.
Segundo Barcellos, a chegada da 5 à Sec "chamou a atenção do consumidor para o setor de lavanderias. O consumidor começou a acreditar que poderia lavar sua roupa numa lavanderia."
O investimento em melhoria dos serviços também está na fórmula da tradicional Livraria Cultura de São Paulo para sobreviver à concorrência de fora. Os estrangeiros no caso são a rede francesa Fnac. "Temos de nos reinventar diariamente. Por exemplo, criamos um serviço que entrega um pedido feito pela internet no mesmo dia para quatro capitais", disse Sérgio Herz, um dos sócios da empresa, que tem cerca de 800 mil títulos no catálogo.
Mesmo competindo com uma "multinacional gigante", Herz nega ter temido ser engolido. "Se nós formos eficientes, se atendermos bem o cliente, sempre conseguiremos sobreviver."
Outro setor que luta contra a concorrência de multinacionais é o de exibidores de cinema. Sobrevivente há várias mudanças de cenário, o Grupo Severiano Ribeiro encontrou uma fórmula racional para competir. Associou-se ao grupo norte-americano UCI para montar modernos cinemas em Recife e em Fortaleza.
A saúde do octogenário grupo, que tem mais de 200 salas espalhadas por 12 Estados, é explicada também pela preparação anterior à chegada dos estrangeiros. "Nós já imaginávamos a chegada deles. Nós nos preparamos comprando os melhores pontos, inclusive em shoppings. Com os nossos pontos, não temíamos ser engolidos", afirmou.
Para o professor de administração do Ibmec/SP, Sérgio Lazzarini, dominar o território é uma saída para as empresas que vêem seu território "invadido" por multinacionais. A outra saída é serem engolidas pelas múltis. "Elas podem sentir que não são competitivas e deixarem ser engolidas ou percebem que têm vantagens e partem para a expansão. A estratégia é tomar o mercado para inibir a entrada das estrangeiras."
Ele cita o caso da rede norte-americana de cafés Starbuck's. As empresas nacionais viram que eram competitivas e ampliaram o número de franquias, levando a Starbuck's a questionar a viabilidade do negócio.
Para ele, outra vantagem das empresas brasileiras é o conhecimento do mercado local. Lazzarini diz que as empresas estão habituadas aos órgãos reguladores locais, com a administração pública e, principalmente, com os consumidores brasileiros.

Flexibilidade
Para a rede de locadoras 100% Vídeo, de Campinas, flexibilidade é outra vantagem das empresas nacionais.
Carlos Augusto, diretor de franchising da rede, que tem mais 61 lojas em 11 Estados, disse que pode implementar promoções com mais rapidez do que concorrentes estrangeiros, como a norte-americana Blockbuster. "Somos mais rápidos porque decidimos no Brasil. Não precisamos consultar a matriz no exterior."
Augusto explica que uma tática da empresa para evitar o assédio da Blockbuster foi a grande capilaridade da rede. "Quando eles vieram para cá, já estávamos nos melhores pontos."
A empresa também inovou na estrutura das lojas. Trouxe o modelo "store in store", no qual firmaram parcerias para ter lojas do Fran's Café e da Livraria Nobel dentro das locadoras.
Augusto resume a dinâmica da competição com estrangeiros. "É uma competição desigual. Mas quem for mais eficiente leva."


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