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Empresas triplicam remessa de lucros no governo Lula
Entre 2003 e 2006, para cada US$ 10 que entraram, US$ 6 foram enviados ao exterior
Ganhos crescentes das multinacionais no país e efeitos do real valorizado explicam tendência, na opinião de economistas
NEY HAYASHI DA CRUZ
FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Embora o governo aposte na chance de o Brasil receber recorde de investimentos estrangeiros neste ano, dados do Banco Central mostram que a remessa de lucros e dividendos
para as matrizes das multinacionais nos quatro primeiros
anos do governo Lula foi o triplo da registrada entre 1999 e
2002, no segundo mandato de
Fernando Henrique Cardoso.
Entre 2003 e 2006, no primeiro mandato de Lula, a cada
US$ 10 que entraram no Brasil,
outros US$ 6 foram enviados
ao exterior como ganho às sedes. Nos quatro últimos anos
da gestão FHC foram remetidos US$ 2 para cada US$ 10 que
entraram no país -valor pouco
acima dos US$ 2,5 remetidos
durante o primeiro mandato do
tucano, entre 1995 e 1998.
O ingresso de investimentos
estrangeiros entre 2003 e 2006
somou US$ 62,1 bilhões, enquanto as remessas foram de
US$ 37,8 bilhões, conforme os
números do BC. Com o aumento desse envio de lucros, parte
do efeito positivo que a entrada
desse capital tem sobre as contas externas é reduzido.
Para alguns analistas, as remessas de lucros feitas na primeira metade do governo Lula
refletem o que aconteceu no segundo governo FHC, quando,
puxados pelas privatizações, os
investimentos estrangeiros totalizaram US$ 100 bilhões. Ou
seja, agora que esses investimentos bilionários estão dando
retorno, o envio de lucros para
fora do país aumenta.
"As remessas cresceram porque o estoque de investimentos
estrangeiros também está aumentando. Além disso, a rentabilidade das empresas cresceu
muito nos últimos anos, porque a economia voltou a crescer", afirma o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP.
Segundo ele, o volume de recursos enviado por multinacionais não chega a preocupar no
curto prazo, porque por enquanto "a balança comercial
compensa". Para o futuro, o
economista defende a adoção
de políticas que atraiam investimentos para setores mais
avançados e dinâmicos da economia. Assim, as remessas de
lucros seriam um preço justo a
se pagar pela criação de empregos e pelo aumento de produtividade da economia.
O BC não possui dados históricos sobre os setores que mais
enviam lucros para fora do país,
mas os números de 2006 ajudam a ilustrar um pouco esse
quadro. No ano passado, os
bancos foram os que mais remeteram recursos para seus
sócios estrangeiros: US$ 1,404
bilhão, o que representou
10,11% dos US$ 13,883 bilhões
remetidos ao exterior. Foram
seguidos de perto pelas empresas de energia e gás (US$ 1,378
bilhão) e pelas montadoras de
automóveis (US$ 1,318 bilhão).
São três setores que vivem
um bom momento em suas
operações no Brasil. "De modo
algum é um movimento de saída dos investimentos. Pelo contrário, o que vemos é a consolidação dos empreendimentos
no Brasil", avalia o diretor-executivo da Amcham-SP (Câmara
Americana de Comércio), Arthur Vasconcellos.
Ele também cita a possibilidade de o bom resultado das
subsidiárias nacionais ser usado para cobrir prejuízos das
matrizes. "Como as unidades
brasileiras têm apresentado
bons resultados, com geração
de caixa forte, o dinheiro pode
sair para equilibrar as contas
dessas companhias."
Lucratividade à parte, a queda do dólar é outro fator que
tem impulsionado o envio de
lucros para o exterior. Para o
presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de
Empresas Transnacionais e da
Globalização), Luis Afonso Lima, o aumento das remessas
mostra uma "janela de oportunidade cambial". "Há uma sensação de que o real vai passar
por um processo gradual de
desvalorização. Mandar os recursos agora, portanto, é mais
vantajoso em dólar", diz.
Ou seja, com a valorização do
câmbio, um mesmo lucro em
reais pode ser convertido para
um volume maior de dólares,
tornando mais vantajoso o envio de recursos a outros países.
Até agosto deste ano, US$
11,3 bilhões já deixaram o Brasil
dessa forma, 31% a mais do que
no mesmo período de 2006.
Por outro lado, esse movimento foi compensado pela recuperação mais forte dos investimentos: no período, o ingresso de capital externo chegou a
US$ 26,5 bilhões, alta de 161%.
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