São Paulo, sexta-feira, 16 de outubro de 2009

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Lula desiste de tirar Agnelli, mas quer influir

Presidente avalia que disputa pelo comando da empresa não vale a pena, mas quer ter voz nas decisões da mineradora

Situação de Agnelli já esteve pior no governo, que agora busca apenas trocar ao menos um diretor da maior empresa privada do país

Letícia Pontual - 17.abr.08/Folha Imagem
O empresário Eike Batista

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que não vale a pena comprar uma briga com o Bradesco para derrubar Roger Agnelli do comando da Vale. No entanto, faz pressão para influenciar nas decisões estratégicas da empresa e nos seus planos de investimento. E apoia o desejo de fundos de pensão de estatais federais de derrubar diretores da mineradora.
A situação política de Agnelli já esteve pior no governo. O armistício entre Lula e ele foi selado em agosto, como revelou a Folha. O presidente desidratou as ameaças de bastidor pela troca de comando, mas manteve a pressão para influenciar nos rumos da Vale.
É nesse contexto que deve ser entendida a nova tensão entre a cúpula do governo e a Vale. Lula e ministros que antipatizam com a gestão de Agnelli, vista como mera exportadora de minério cru, bombardeiam pública e reservadamente o comando da Vale. Uma eventual entrada de Eike Batista na empresa é vista com simpatia pelo presidente e por ministros, mas eles sabem das dificuldades para que isso aconteça.
Por um acordo de acionistas, o Bradesco indicou Agnelli à presidência da Vale. Como o banco recusou a proposta de Eike pela sua participação na empresa, esse caminho está, por ora, inviabilizado. A venda de parte de ações dos fundos para Eike, discutida reservadamente e negada publicamente ontem pelo empresário, não é uma operação simples.
Por direito de preferência, os fundos precisariam oferecer suas ações ao Bradesco e ao grupo japonês Mitsui. Uma empresa em valorização, num momento de recuperação econômica, seria vista por esses sócios como uma oportunidade. Um ministro diz que provavelmente os fundos teriam de vender ações a seus sócios. Mais: é do interesse dos fundos manter as suas participações.
Ciente dos limites práticos na disputa com Agnelli, Lula investe na pressão política.
Lula e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, argumentam que uma empresa que tem participação de capital público tem de ouvir a opinião do governo ao explorar reservas minerais estratégicas e não-renováveis. Daí Eike ter ganho pontos com Lula e Dilma, pois apresentou uma visão de gestão da empresa mais afinada com o que pensa o governo: agregar valor ao minério.
A ofensiva de propaganda da Vale para dizer que investia no Brasil desagradou ao presidente porque soou como uma resposta. Agnelli é descrito como arrogante e ingrato a Lula, que o teria prestigiado antes da crise e não teria encontrado apoio numa hora difícil.
O presidente se queixa de que a atitude conservadora da Vale no início da crise, demitindo e cortando investimentos, gerou uma expectativa negativa em cadeia no setor privado e dificultou os planos do governo para gerenciar a crise.
A tendência é que ocorra acomodação política, com Lula e Agnelli cedendo. A troca de pelo menos um diretor da empresa poderá ser uma resposta aos fundos de pensão, a fim de acalma-los. Mas é algo que, depois da pressão pública pela queda, torna a operação mais difícil, pois transmite ideia de ingerência do governo na maior empresa privada do país.


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