São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lula quer desonerar novos investimentos

Intenção do presidente, que também planeja mais cortes de tributos para a construção civil, fortalece posição do ministro Furlan

Para acelerar obras, governo fez lista com 60 projetos prioritários, dos quais 95% estão em atraso devido a problemas ambientais

VALDO CRUZ
LEANDRA PERES

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer que o pacote de cortes de tributos inclua a desoneração de novos investimentos produtivos e do setor de construção civil. Esse foi um dos principais motivos que levaram o presidente a classificar como "tímido" o pacote apresentado a ele pela equipe econômica na terça-feira.
A crítica direta do presidente Lula às propostas da equipe do ministro Guido Mantega (Fazenda) faz com que o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) ganhe força nas discussões internas do governo, especialmente porque a equipe do Desenvolvimento havia defendido a inclusão de medidas nessas áreas.
"A gente não perde o que não tem", disse o presidente, recomendando isentar as empresas na hora de investir e cobrar impostos depois, na produção.
Ao final do encontro, Lula determinou a Mantega que se reúna com a equipe de Furlan para elaborar proposta conjunta de desoneração, a ser discutida na próxima reunião.
Durante todo o primeiro mandato, Furlan travou uma batalha com a Fazenda para cortar impostos das empresas. Conseguiu adotar algumas medidas, como a MP do Bem, que desonerou produtos da construção civil. Agora, Lula quer adotar isenções para toda a cadeia da construção civil, desde a compra de insumos até investimentos na aquisição de máquinas e equipamentos, proposta levada ao governo também pelo ministro Paulo Bernardo (Planejamento), que apóia um corte de impostos nos novos investimentos produtivos.
Na reunião com ministros, Lula disse compreender as limitações para desonerar empresas, mas pediu criatividade. Sinalizou que, se não é possível conceder tudo de uma vez, que seja então adotado um plano gradual, mas que comece agora.
Além da isenção a novos investimentos em construção civil, outras propostas de Furlan não foram contempladas pela Fazenda, como a idéia de ampliar o corte de impostos nos produtos da cesta básica e no setor de inovação tecnológica.
No caso da construção civil, os defensores da proposta argumentam que o setor é responsável por cerca de 60% da formação de investimentos no país. Daí que estimular esse setor seria fundamental para incentivar o crescimento.

Mesmice
Lula falou na reunião após a apresentação de sua equipe econômica. Manifestou sua insatisfação com as medidas, disse que não mexerá na política econômica, mas afirmou que não deseja ficar na "mesmice" de sempre. "Eu sei que não é fácil, sei que temos limitações, mas vamos ousar, ser criativos e gerenciar melhor o governo."
O presidente avisou sua equipe que vai usar o restante de seu primeiro mandato para fechar o programa do próximo. Segundo ele, quando começar o segundo mandato, quer que todas as medidas já estejam encaminhadas, algumas adotadas e outras enviadas ao Congresso.
Queixou-se também dos entraves, principalmente ambientais, de projetos do governo. "Precisamos desobstruir o país", disse. Segundo levantamento de sua equipe, cerca de 95% de uma lista de 60 obras estão atrasados por causa de problemas ambientais.
Lula quer priorizar o acompanhamento e a liberação de verba para esse grupo de obras, consideradas prioritárias. Ao tratar do tema, chegou a dizer que "tem hora que alguém tem de dar um murro na mesa".
A avaliação do governo é que, além dos entraves ambientais, há problemas sérios de gestão. Muitos projetos não conseguem sequer gastar toda a verba orçamentária. A proposta é que esses investimentos sejam gerenciados por um comitê de ministros e que os problemas que apareçam sejam resolvidos diretamente pelo primeiro escalão.


Texto Anterior: Paulo Nogueira Batista Jr.: "Se ousares, ousa!"
Próximo Texto: Vinicius Torres Freire: Governo desorientado e impostos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.