São Paulo, sexta-feira, 16 de novembro de 2007

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Pochmann nega expurgo de economistas

Presidente do Ipea diz que 4 pesquisadores foram afastados por questões administrativas, e não por críticas ao governo

Pochmann afirma que também faz críticas à política econômica e que Fabio Giambiagi, que é do BNDES, pode voltar

Marcello Casal Jr. - 7.nov.07/Agência Brasil
Marcio Pochmann (Ipea), que nega ter afastado pesquisadores por não se alinharem ao pensamento econômico do governo


ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Marcio Pochmann, negou ontem que quatro pesquisadores tenham sido afastados por não se alinharem ao pensamento econômico do governo. "Eu também tenho críticas à política econômica. Tenho me manifestado contra a política de juros", afirmou.
Disse que seu papel no Ipea não é organizar o consenso, mas garantir pluralidade, e que é um polemista.
A Folha publicou, ontem, que os pesquisadores Fabio Giambiagi, Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Regis Bonelli foram afastados em um expurgo de economistas divergentes. Os dois primeiros são cedidos pelo BNDES e os outros dois são aposentados que atuavam como colaboradores.
Pochmann, que assumiu o cargo em agosto, sustenta que eles foram dispensados por questão administrativa. Ele é professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), onde integra o Cesit (Centro de Economia Sindical e do Trabalho), e foi secretário de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo na gestão da petista Marta Suplicy (2001-2004). A seguir, trechos de entrevista concedida à Folha:

 

FOLHA - Por que os pesquisadores foram afastados?
MARCIO POCHMANN -
Como toda instituição de pesquisa, o Ipea mantém convênios que permitem intercâmbio de funcionários com outras instituições. Não tem nada de ideológico. A meu juízo, a explicação é meramente administrativa. Temos funcionários cedidos ao Banco Mundial, a governos estaduais e federal etc. Atualmente, são 155 profissionais liberados. Para receber gente de fora e ceder funcionários, é preciso haver instrumento legal.

FOLHA - E não existe o instrumento legal, no caso deles?
POCHMANN -
No caso dos cedidos pelo BNDES, há um convênio para a elaboração de um estudo sobre o papel do banco no financiamento do desenvolvimento. O cronograma de atividades termina no início de dezembro. Alertamos de que eles precisam entregar o relatório.

FOLHA - Os dois produzem análises para o Ipea. O sr. quer dizer que o objeto do convênio foi desvirtuado?
POCHMANN -
Não quero entrar no mérito disso. Só quero chamar a atenção para o fato de que eles estavam no Ipea para um propósito específico. Se vêm ou não cumprindo, se vão ou não apresentar o relatório, não me cabe julgar, porque são dois excelentes profissionais. Fui alertado de que o convênio está terminando. Procuramos o BNDES para comunicar o fim do termo de cooperação e estabelecer um novo.

FOLHA - Qual foi a posição do BNDES? Ele pediu os funcionários de volta?
POCHMANN -
É normal que, ao término do convênio, as pessoas voltem para seus locais de origem. Uma vez definido o novo objeto e cronograma, as duas instituições vão definir os profissionais que farão o trabalho. Se o BNDES entender de indicar o Giambiagi, terá toda a autonomia. Não faço objeção nenhuma ao nome dele -nem me caberia, em se tratando de um termo de cooperação.

FOLHA - E quanto a Gervásio Rezende e a Régis Bonelli?
POCHMANN -
Eles são aposentados, e a aposentadoria significa interrupção do contrato de trabalho. O aposentado pode se manter ativo, desde que haja um contrato ou um convênio. O Ipea tem mais de 500 profissionais aposentados e não tem política para eles. Estamos discutindo na diretoria uma política. Então, não tenho condição legal de manter os dois. Fui alertado pelos órgãos internos de controle do Ipea de que a situação é irregular.

FOLHA - O senhor nega que tenha havido expurgo. Mas os identifica como divergentes de seu pensamento econômico?
POCHMANN -
O Ipea tem 43 anos de existência, teve presidentes com visões distintas. A direção deve zelar pelo cumprimento da missão do Ipea, que é pensar o médio e longo prazos. Isso tem de ser feito com todas as correntes de pensamento. Não estou preocupado se eles pensam A ou B. O importante é que todos sejam concursados ou estejam amparados em instrumentos legais que garantam sua permanência.

FOLHA - O senhor nega haver um expurgo de pessoas de pensamento divergente?
POCHMANN -
O termo usado no texto da Folha, para mim, é uma ofensa. Tenho mais de duas décadas de atividade acadêmica. Sou polemista, gosto da polêmica. Significaria que, ao ocupar um cargo público, eu estaria estabelecendo a censura, o monopólio. Eu também tenho críticas à política econômica. Tenho me manifestado contra a política de juros. Meu papel no Ipea é garantir pluralidade e dar transparência a diferentes visões. Não estou lá para organizar o consenso, mas para organizar o dissenso.
Estou tão preocupado com a pluralidade no Ipea que criei um conselho de orientação com personalidades de pensamentos distintos, como Delfim Netto, Maria da Conceição Tavares e Reis Velloso.


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