São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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Mercado Aberto

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Bancos pequenos sobreviverão, diz banqueiro

Desde que a crise se agravou, muito se especulou sobre a sobrevivência dos pequenos e médios bancos. O banqueiro Luis Octavio Indio da Costa, 45, presidente do banco Cruzeiro do Sul, patrimônio líquido de R$ 1,1 bilhão e especializado em crédito consignado, afirma que haverá espaço para os bancos pequenos e médios.
O diferencial será a competência. "Não há mais espaço para amador", afirma. Amanhã, o Cruzeiro do Sul divulga o balanço referente ao terceiro trimestre. O banco registrou um lucro recorrente de R$ 36,7 milhões, 43,5% acima do registrado no mesmo período do ano passado. Nos primeiros nove meses, o lucro foi de R$ 174,1 milhões, 83,1% superior ao do ano passado.

 

FOLHA - Os bancos pequenos sobreviverão à crise?
LUIS OCTAVIO INDIO DA COSTA
- Todos os bancos vão resistir à crise no Brasil. Eu vejo os pequenos e médios até em uma situação muito confortável. No momento em que você vê os grandes bancos se juntarem, sobra mais espaço para os bancos pequenos e médios atuarem em nichos específicos. Não vejo nenhum banco pequeno e médio no Brasil em dificuldade. A grande maioria se beneficiou do crescimento do Brasil dos últimos anos.

FOLHA - Os bancos pequenos e médios não foram pegos em cheio?
INDIO DA COSTA
- De fato, isso ocorreu, mas para todos os bancos. A restrição ao crédito atingiu todos os bancos em todas as esferas, mesmo os grandes bancos. Nós vivemos, a partir de agora, um novo Brasil. Até seis meses atrás, a tônica do mercado era produção, escala e rentabilidade. Não é mais. Agora, a preocupação se chama liquidez. Os bancos irão apresentar resultados piores, lucros menores do que antes da crise e menos crédito, mas isso não inviabiliza nenhum dos bancos.

FOLHA - O Cruzeiro do Sul sentiu a crise?
INDIO DA COSTA
- Claro que sentiu. Tivemos uma fuga de captação de CDBs, e as linhas externas que ainda não venceram, mas que vão vencer ao longo dos anos de 2009, 2010 e 2011, provavelmente não serão renovadas ou serão renovadas em números muito menores. Qual é a grande vantagem do Cruzeiro do Sul? É a especialização no crédito. O Cruzeiro do Sul é um banco que tem 92% dos ativos de crédito no consignado, que é um crédito de maior liquidez. Se você olhar as matérias dos jornais dos últimos meses você vai ver que todas as vendas de carteiras de créditos para os grandes bancos foram de crédito consignado. O Cruzeiro do Sul vendeu mais de R$ 1 bilhão em carteiras, em outubro, para vários bancos. O foco foi reforçar o caixa. Para nós, é evidente que a crise é ruim, mas a nossa situação é relativamente confortável. Nós tínhamos ativos suficientes para vender, e ativos de venda muito líquida.

FOLHA - O Cruzeiro do Sul recebeu alguma sondagem de algum grande banco?
INDIO DA COSTA
- Não.

FOLHA - O banco está à venda?
INDIO DA COSTA
- Não. O Cruzeiro do Sul começou suas operações em crédito consignado em dezembro de 1993 com R$ 1 milhão de patrimônio. Depois de 15 anos, seu patrimônio subiu para R$ 1,148 bilhão. Um banco que tem uma capacidade de crescimento como essa não tem necessidade de ser vendido. Vamos continuar crescendo, mas focados no que conhecemos, que é o consignado.

FOLHA - A crise ainda é longa?
INDIO DA COSTA
- É difícil dizer. A crise teve o seu momento crítico, mas a melhora foi muito pequena até agora, e ainda devemos ficar um período estagnados. Uma melhora substancial só acontecerá mesmo no segundo trimestre de 2009, depois de divulgados os balanços dos bancos de 2008. Até lá, vamos continuar vivendo um período de solavancos. Vamos viver também uma disputa enorme entre os megabancos. Já não são mais nem bancos grandes, mas bancos gigantes, mas eles vão deixar espaço para aqueles menores que forem realmente competentes. A consolidação trará grandes oportunidades para os bancos médios e pequenos que estejam, de fato, bem organizados. Haverá espaço para um banco que tenha uma boa qualidade nos seus ativos, que trabalhe bem e que tenha uma boa governança corporativa. Não há mais espaço para amador. A competência fará a diferença.

Frases

"No momento em que você vê os grandes bancos se juntarem, sobra mais espaço para os bancos pequenos e médios atuarem em nichos específicos"

"Os bancos irão apresentar resultados piores, lucros menores do que antes da crise e menos crédito, mas isso não inviabiliza nenhum dos bancos"

"Não há mais espaço para amador. A competência fará a diferença"

LUIS OCTAVIO INDIO DA COSTA
presidente do Cruzeiro do Sul

NA CASA BRANCA

Um empresa brasileira, a companhia de peças de metais prateados St. James, vai fornecer seus produtos para a cerimônia de posse de Barack Obama na Presidência dos Estados Unidos no dia 20 de janeiro. Quase 700 objetos como jarras, samovares, bandejas, açucareiros e baixelas da marca acabam de ser encomendados pela Casa Branca. Os produtos, segundo Ricardo Saad, sócio-diretor da empresa, são moldados por artesãos e a empresa convidou Claudia Moreira Salles e Ari Lyra para desenvolverem peças da nova coleção da marca.

MARCA BRASIL

O Brasil está entre os três países com maior potencial de exposição de sua marca entre os turistas. O país perdeu apenas para os EUA entre as marcas que mais evoluíram na pesquisa da consultoria FutureBrand, que avaliou a imagem dos países conforme critérios relevantes para o turismo. O país, no entanto, não ficou entre os dez primeiros colocados no ranking de países com marcas fortes, e a FutureBrand não divulga a posição dos demais países. Nas listas por indicadores, o Brasil está entre os dez primeiros em apenas 2 de um total de 30. O país ficou em segundo no critério "vida noturna", e em décimo lugar no critério "praia". No ranking anterior, ele apenas apareceu em terceiro para "vida noturna". Apesar de o Brasil ainda não se destacar no ranking, Hélio Mariz de Carvalho, sócio da FutureBrand, atribui a evolução do país à sua posição de emergente na economia. "Com o Brasil nos Brics, sua marca tem mais relevância."

INVESTIMENTO
Em audiência com o presidente Lula, a Alusa anuncia na quarta parceria com o STX Corporation, um dos maiores grupos econômicos da Coréia do Sul, para desenvolver estudos para construir um estaleiro no Brasil. O objetivo é produzir sondas de perfuração para a Petrobras. Se a crise não atrapalhar, os planos podem ser mais ambiciosos. Há projetos até de uma refinaria. O STX desembarca no Brasil na comitiva do presidente da Coréia do Sul, Lee Myung-bak, que estará em visita ao país nesta semana.


com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI


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