São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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DANIEL YERGIN

O que significa a queda no petróleo


Barômetro da economia mundial, cotação do barril, agora em queda, também reflete poder do preço em si

OS PREÇOS do petróleo são um barômetro da economia mundial. A alta dos preços de 2003 a 2007 refletiu o melhor crescimento mundial em uma geração.
Esse crescimento elevado foi eliminado não só pela avaliação deficiente de riscos, excesso de liquidez e excesso de confiança, mas também por um boom cada vez mais insustentável no setor de commodities, no qual o petróleo desempenhou papel crucial. Agora que o mundo está caindo em recessão, os preços do petróleo se reduziram em mais de 50%.
A queda reflete também o poder do preço em si. A alta dos preços motivou decisões de consumidores, governos e empresas que resultaram em mudança de curso na demanda.
Agora, a recessão também influencia a demanda de forma poderosa. Um "colapso" de preços para a faixa dos US$ 60 a US$ 70 só pode ser considerado colapso se esquecermos que o preço médio do barril em 2007 foi de US$ 72 (e de US$ 66 em 2006). O equilíbrio precário entre oferta e procura não era o único fator que elevava os preços. A mais recente explosão nos preços do petróleo e de outros produtos surgiu no fim do terceiro trimestre de 2007, quando a queda do dólar deflagrou uma "fuga para as commodities".
Os preços do petróleo certamente foram propelidos a uma alta que durou até julho de 2008 por fatores psicológicos, aquilo que o professor Robert Schiller, da Universidade Yale, descreve como "excitação contagiosa quanto a perspectivas de investimento". Era quase como as apostas em um jogo de pôquer, com uma previsão de preços a US$ 200 por barril sendo sobrepujada por outra previsão de US$ 250.
O que vai ocorrer agora com os preços do petróleo, sob um cenário de fissura mundial? Uma das determinantes mais importantes -como no caso das altas entre 2003 e 2007- será o ritmo do crescimento mundial. Mas, desta vez, a questão será a duração e a gravidade da recessão. A outra questão crucial é a do suprimento de petróleo em si. Que dimensões terá o influxo de oferta nova estimulada pela alta dos preços, em projetos que estavam em desenvolvimento, mas foram retardados pela escassez de pessoal e de equipamentos? É preciso observar o que acontecerá em 2009.
Os preços mais baixos estão forçando as empresas de energia a reduzir seus orçamentos e a adiar o início de alguns novos projetos. Isso se fará sentir em uma nova virada do ciclo, depois de uma recuperação econômica. Enquanto isso, não é só o investimento em novos projetos de petróleo, gás natural e energia elétrica que será restringido.
As políticas de energia do novo governo dos EUA, como as de outros países, enfatizarão maior eficiência energética e combustíveis renováveis. Um "programa de estímulo verde" já tem posição séria na agenda de transição. Mas a pergunta que causa preocupação no momento é: até que ponto os preços mais baixos prejudicarão o investimento em combustíveis renováveis e no avanço da eficiência energética.
A resposta não será determinada apenas pelos preços da energia. O maior impacto virá da saúde da economia, da posição fiscal do país e da disponibilidade de crédito. Com os custos de duas guerras e de um vasto pacote de resgate financeiro, e dados os danos sofridos pelo sistema de crédito, é provável que os recursos para outros fins sejam limitados.
Em circunstâncias como essas, uma taxa de emissões de carbono ou um sistema de leilão de licenças de emissão podem repentinamente se tornar mais atraentes, não só como forma de combater as alterações climáticas, mas como forma de arrecadar receitas para um governo que certamente precisará do dinheiro.


DANIEL YERGIN é presidente da Cambridge Energy Research Associates, uma empresa do grupo IHS. Este artigo foi publicado originalmente no "Financial Times".

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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