São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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Exportações brasileiras sentem a crise financeira e despencam

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Os exportadores brasileiros já sentiram, em outubro, os reflexos da crise financeira internacional, que reduziu embarques de importantes itens do comércio exterior do país. Na comparação com setembro, caíram as vendas externas de minério de ferro (10,3%), placas de aço (18%), gasolina (24,2%), álcool (21,3%) e alumínio (19,9%), entre outros.
Nem os produtos do agronegócio escaparam: tiveram retração carnes bovina, suína e de frango (13,2%, 10% e 7%, respectivamente), soja em grãos (41,7%) e óleo de soja (13,9%), segundo dados da balança comercial do mês passado.
Para especialistas, a crise internacional derrubou os preços das commodities, reduziu a demanda por muitos produtos e fechou linhas de crédito à exportação. Todos esses fatores resultaram na contração das vendas internacionais.
E já induzem previsões pessimistas para o ano que vem. "Podemos até ter déficit na balança comercial em 2009, mas vai depender de muitos fatores, como o câmbio e a intensidade da crise. O certo é que o superávit vai cair bastante", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
Mais otimista, Francisco Pessoa, economista da LCA, estima saldo comercial de US$ 10 bilhões. "Os preços das importações vão cair também com o desaquecimento da economia brasileira, o que compensará em parte a queda das exportações", afirma Pessoa.

China
O fato é que muitos setores já sentem os reflexos da crise. A Vale cortou em 10% a sua produção de minério de ferro (usado na fabricação do aço) mais pela redução da demanda chinesa -atualmente mais sentida pelos exportadores de commodities, principais produtos do país- do que pela desaceleração da economia dos EUA.
Sem mercado para os seus produtos, muitas siderúrgicas também reduziram a produção. E o setor teme a invasão do aço chinês no país, já que lá o mercado doméstico para o produto está parado e as usinas locais têm de desovar seus estoques.
De janeiro a agosto, as exportações chinesas para a América Latina (e principalmente para o Brasil) cresceram 23%, em um ritmo maior do que para o resto do mundo (9%). "A China tem um foco claro de vender aço para a América Latina", diz Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente do IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia).
Historicamente deficitário, o setor químico sente com força o impacto da crise e registra saldo comercial negativo crescente. O déficit acumulado no ano até outubro é de US$ 19,8 bilhões (US$ 10,8 bilhões em 2007), segundo a Abiquim (reúne a indústria química).
"Subiram as importações de resinas e petroquímicos básicos, vindos principalmente da China. Ao mesmo tempo, caíram as exportações desse segmento, um dos poucos da indústria química que geram saldo comercial positivo", diz Nelson Pereira dos Reis, vice-presidente da Abiquim.
Os EUA, afirma, estão comprando menos. Segundo Castro, as vendas para o mercado norte-americano só não sofreram mais porque estão previstas em contratos já fechados.
De acordo com Reis, o efeito benéfico do câmbio sobre as exportações -mais competitivas com a desvalorização do real- é anulado pela queda dos preços no mercado internacional.
Já a redução das exportações agrícolas se deve ao menor preço das commodities e ao fechamento das linhas de crédito ao comércio exterior, diz Castro.


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