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Exportações brasileiras sentem a crise financeira e despencam
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Os exportadores brasileiros
já sentiram, em outubro, os reflexos da crise financeira internacional, que reduziu embarques de importantes itens do
comércio exterior do país. Na
comparação com setembro,
caíram as vendas externas de
minério de ferro (10,3%), placas de aço (18%), gasolina
(24,2%), álcool (21,3%) e alumínio (19,9%), entre outros.
Nem os produtos do agronegócio escaparam: tiveram retração carnes bovina, suína e de
frango (13,2%, 10% e 7%, respectivamente), soja em grãos
(41,7%) e óleo de soja (13,9%),
segundo dados da balança comercial do mês passado.
Para especialistas, a crise internacional derrubou os preços
das commodities, reduziu a demanda por muitos produtos e
fechou linhas de crédito à exportação. Todos esses fatores
resultaram na contração das
vendas internacionais.
E já induzem previsões pessimistas para o ano que vem. "Podemos até ter déficit na balança
comercial em 2009, mas vai depender de muitos fatores, como
o câmbio e a intensidade da crise. O certo é que o superávit vai
cair bastante", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da
AEB (Associação de Comércio
Exterior do Brasil).
Mais otimista, Francisco
Pessoa, economista da LCA, estima saldo comercial de US$ 10
bilhões. "Os preços das importações vão cair também com o
desaquecimento da economia
brasileira, o que compensará
em parte a queda das exportações", afirma Pessoa.
China
O fato é que muitos setores já
sentem os reflexos da crise. A
Vale cortou em 10% a sua produção de minério de ferro (usado na fabricação do aço) mais
pela redução da demanda chinesa -atualmente mais sentida pelos exportadores de commodities, principais produtos
do país- do que pela desaceleração da economia dos EUA.
Sem mercado para os seus
produtos, muitas siderúrgicas
também reduziram a produção.
E o setor teme a invasão do aço
chinês no país, já que lá o mercado doméstico para o produto
está parado e as usinas locais
têm de desovar seus estoques.
De janeiro a agosto, as exportações chinesas para a América
Latina (e principalmente para
o Brasil) cresceram 23%, em
um ritmo maior do que para o
resto do mundo (9%). "A China
tem um foco claro de vender
aço para a América Latina", diz
Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente do IBS (Instituto
Brasileiro de Siderurgia).
Historicamente deficitário, o
setor químico sente com força
o impacto da crise e registra
saldo comercial negativo crescente. O déficit acumulado no
ano até outubro é de US$ 19,8
bilhões (US$ 10,8 bilhões em
2007), segundo a Abiquim
(reúne a indústria química).
"Subiram as importações de
resinas e petroquímicos básicos, vindos principalmente da
China. Ao mesmo tempo, caíram as exportações desse segmento, um dos poucos da indústria química que geram saldo comercial positivo", diz Nelson Pereira dos Reis, vice-presidente da Abiquim.
Os EUA, afirma, estão comprando menos. Segundo Castro, as vendas para o mercado
norte-americano só não sofreram mais porque estão previstas em contratos já fechados.
De acordo com Reis, o efeito
benéfico do câmbio sobre as exportações -mais competitivas
com a desvalorização do real-
é anulado pela queda dos preços no mercado internacional.
Já a redução das exportações
agrícolas se deve ao menor preço das commodities e ao fechamento das linhas de crédito ao
comércio exterior, diz Castro.
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