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ANO DO DRAGÃO
Governo emite dinheiro para financiar gastos; aumento no volume de moeda em circulação pressiona a inflação
Imposto inflacionário come US$ 3 bilhões
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Aqueles que guardam suas economias debaixo do colchão ou
que deixaram seu dinheiro parado numa conta-corrente perderam o equivalente a US$ 3 bilhões
neste ano por causa da inflação. O
valor se refere ao que os economistas chamam de imposto inflacionário e foi acumulado entre janeiro e outubro.
Imposto inflacionário é o nome
dado ao ganho obtido pelo governo ao emitir mais dinheiro para
financiar seus gastos. Esse aumento no volume de moeda em
circulação no país pressiona a inflação. E, quanto maior a inflação,
maior é a queda no poder aquisitivo da população.
Assim, o "prejuízo" causado às
pessoas pela alta da inflação é proporcional à receita obtida pelo governo ao emitir mais dinheiro.
Por isso ele é comparado a um
imposto. "É o valor que o governo
"toma" do público quando a inflação se dá por criação de moeda",
diz o economista Fernando Cardim, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Neste ano, o Banco Central imprimiu mais moeda para poder
recomprar títulos públicos, diante
da dificuldade que o governo enfrentou para rolar sua dívida.
Os US$ 3 bilhões acumulados
entre janeiro e outubro estão bem
abaixo das perdas observadas no
período de hiperinflação vivido
entre em décadas passadas. Em
90, por exemplo, o imposto inflacionário trouxe à população perdas equivalentes a US$ 19 bilhões.
Os valores atuais já superam,
por exemplo, os US$ 2,4 bilhões
acumulados em 1995, no início do
governo Fernando Henrique Cardoso, quando o IGP-DI (Índice
Geral de Preços -Disponibilidade
Interna) anual ficou em 14,78%.
"Imposto inflacionário existe
sempre que existe inflação, mesmo se ela seja baixa", afirma Cardim.
O valor do imposto inflacionário acumulado neste ano foi calculado pela Folha com base em
metodologia adotada pelo Banco
Central. A fórmula usada pelo BC
considera o efeito que o IGP-DI
tem sobre a chamada base monetária, que é a soma do total de papel moeda em circulação no país e
dos depósitos bancários.
Na prática, a base monetária
equivale ao total de dinheiro em
circulação no país. Em abril passado, esse valor estava em R$ 48,6
bilhões. Desde maio, porém, observa-se um forte crescimento
nessa variável.
Foi em maio que o governo introduziu mudanças nas regras
dos fundos de investimento. Os
fundos, que aplicam grande parte
de seus recursos em títulos públicos, passaram a ser obrigados a
avaliar seus ativos com base no
seu valor de mercado, e não no
seu valor de aquisição, como era
feito até então.
O mercado foi surpreendido pela mudança, e muitos fundos tiveram prejuízos. Para poder atender ao grande volume de saques,
as administradoras desses fundos
precisaram se desfazer de boa
parte dos títulos públicos que estavam na suas carteiras.
Criou-se, então, uma desconfiança do mercado em relação aos
papéis emitidos pelo governo. Por
isso, o BC passou a recomprar
parte dos papéis que estavam nas
mãos do mercado, o que levou à
expansão da base monetária.
Em outubro, o saldo da base
monetária ficou em R$ 60,6 bilhões, crescimento de 24,7% em
relação a abril. De abril a outubro,
o IGP-DI acumulou alta de
15,74%. Entre janeiro e novembro, o índice subiu 23,09% e, até
outubro, a alta acumulada ficou
em 16,3%.
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