São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 2002

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ANO DO DRAGÃO

Governo emite dinheiro para financiar gastos; aumento no volume de moeda em circulação pressiona a inflação

Imposto inflacionário come US$ 3 bilhões

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Aqueles que guardam suas economias debaixo do colchão ou que deixaram seu dinheiro parado numa conta-corrente perderam o equivalente a US$ 3 bilhões neste ano por causa da inflação. O valor se refere ao que os economistas chamam de imposto inflacionário e foi acumulado entre janeiro e outubro.
Imposto inflacionário é o nome dado ao ganho obtido pelo governo ao emitir mais dinheiro para financiar seus gastos. Esse aumento no volume de moeda em circulação no país pressiona a inflação. E, quanto maior a inflação, maior é a queda no poder aquisitivo da população.
Assim, o "prejuízo" causado às pessoas pela alta da inflação é proporcional à receita obtida pelo governo ao emitir mais dinheiro. Por isso ele é comparado a um imposto. "É o valor que o governo "toma" do público quando a inflação se dá por criação de moeda", diz o economista Fernando Cardim, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Neste ano, o Banco Central imprimiu mais moeda para poder recomprar títulos públicos, diante da dificuldade que o governo enfrentou para rolar sua dívida.
Os US$ 3 bilhões acumulados entre janeiro e outubro estão bem abaixo das perdas observadas no período de hiperinflação vivido entre em décadas passadas. Em 90, por exemplo, o imposto inflacionário trouxe à população perdas equivalentes a US$ 19 bilhões.
Os valores atuais já superam, por exemplo, os US$ 2,4 bilhões acumulados em 1995, no início do governo Fernando Henrique Cardoso, quando o IGP-DI (Índice Geral de Preços -Disponibilidade Interna) anual ficou em 14,78%. "Imposto inflacionário existe sempre que existe inflação, mesmo se ela seja baixa", afirma Cardim.
O valor do imposto inflacionário acumulado neste ano foi calculado pela Folha com base em metodologia adotada pelo Banco Central. A fórmula usada pelo BC considera o efeito que o IGP-DI tem sobre a chamada base monetária, que é a soma do total de papel moeda em circulação no país e dos depósitos bancários.
Na prática, a base monetária equivale ao total de dinheiro em circulação no país. Em abril passado, esse valor estava em R$ 48,6 bilhões. Desde maio, porém, observa-se um forte crescimento nessa variável.
Foi em maio que o governo introduziu mudanças nas regras dos fundos de investimento. Os fundos, que aplicam grande parte de seus recursos em títulos públicos, passaram a ser obrigados a avaliar seus ativos com base no seu valor de mercado, e não no seu valor de aquisição, como era feito até então.
O mercado foi surpreendido pela mudança, e muitos fundos tiveram prejuízos. Para poder atender ao grande volume de saques, as administradoras desses fundos precisaram se desfazer de boa parte dos títulos públicos que estavam na suas carteiras.
Criou-se, então, uma desconfiança do mercado em relação aos papéis emitidos pelo governo. Por isso, o BC passou a recomprar parte dos papéis que estavam nas mãos do mercado, o que levou à expansão da base monetária.
Em outubro, o saldo da base monetária ficou em R$ 60,6 bilhões, crescimento de 24,7% em relação a abril. De abril a outubro, o IGP-DI acumulou alta de 15,74%. Entre janeiro e novembro, o índice subiu 23,09% e, até outubro, a alta acumulada ficou em 16,3%.


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