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LUÍS NASSIF
Modelo econômico e crime
Um dos problemas dos cabeças de planilha é a incapacidade de correlacionar a
teoria e a realidade. Aplicam
acriticamente fórmulas aprendidas no exterior. Não fossem
cabeças de planilha, adaptariam o conhecimento às condições do país, já que modelos
econômicos não são universais.
Como não conseguem, aplicam a teoria, desequilibram a
economia, começam a pipocar
as sequelas. E aí se metem em
um exercício inútil de encontrar uma "explicação" para cada desajuste.
O caso mais flagrante tem sido essa tentativa de descolar a
questão da segurança do modelo econômico. Há um aumento
enorme não apenas da criminalidade das ruas, mas do crime organizado. Não é necessário nenhum exercício intelectual complexo para perceber relações diretas entre estagnação
econômica e aumento da criminalidade. Mas esse pessoal ignora todos os sinais, todas as
evidências.
A Secretaria de Segurança
Pública de São Paulo decidiu
montar séries estatísticas e cruzar os dados. Pegou um período
longo -janeiro de 2001 (base
100) a abril de 2003. Em uma linha, colocou o índice de roubo
a transeuntes (assalto à mão
armada). Na outra, a taxa de
desemprego. A correlação foi de
0,83 (o chamado nível de aderência vai de -1 a +1).
Depois comparou o índice de
roubos com o rendimento médio mensal dos assalariados. A
correlação foi de -0,81 (com sinal negativo porque são inversamente proporcionais: menos
renda, mais assalto).
Essa é a parte visível da correlação. A parte mais tenebrosa é
o avanço do crime organizado.
Quando começou o grande nó
no modelo econômico, com a
política de juros de 1995, seguida do aumento brutal da
carga de impostos (para pagar os juros), milhares de pequenas e médias empresas
deixaram de recolher impostos.
O primeiro passo foi a inadimplência. Ocorre que todo
aparato regulador no país é
contra a economia formal. Ao
deixar de pagar impostos, mas
continuando na formalidade,
esses empresários foram alvo de
fiscalização intensa. Ilegal por
ilegal, passaram a se abastecer
de mercadorias ilegais desde
cargas roubadas a produtos falsificados. Os empresários que se
mantiveram na ilegalidade se
viram sem condições de competir com esse novo e sombrio
Brasil que emergiu da crise econômica. A cada dia que passa,
essa economia do crime vai se
robustecendo cada vez mais. A
cada dia que passa, os cabeças
de planilha terão de inventar
novas explicações para o fenômeno.
A razão é uma só. Este país
começou a agonizar no dia em
que caiu na armadilha da abertura cambial com câmbio apreciado. E, aparentemente, o governo Lula não terá coragem política para desfazer esse nó.
E, aqui no meu canto, fico pensando em quem causou mais
mal ao país: esse crime que está
tomando todos os cantos da pátria, ou os economistas que nos
jogaram nessa sinuca de bico e
persistem nesse caminho por absoluta falta de coragem de encarar o problema.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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