São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

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Bolsa eleva pressão sobre executivos

Afastamento de Cássio Casseb do Pão de Açúcar por não cumprir metas é sinal de amadurecimento da gestão de empresas

Comuns em mercados mais maduros, demissões por desempenho insatisfatório devem ser mais freqüentes, na opinião de analistas

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O afastamento de Cássio Casseb da presidência do Grupo Pão de Açúcar na segunda-feira passada, por não atingir as metas da empresa, pode ser apenas o primeiro caso de uma série desse tipo. Com o amadurecimento do mercado de capitais brasileiro, especialistas apontam que serão cada vez mais comuns cortes por conta de desempenho.
"É a regra do jogo: se não atingiu resultado, está fora", afirma Eugênio Foganholo, sócio da consultoria especializada em varejo Mixxer.
"Cada vez mais, acontecerão demissões desse tipo, por conta do aumento da competitividade e da profissionalização das empresas."
A opinião era unânime entre diversos analistas de mercado ouvidos pela Folha, durante a apresentação dos resultados do Grupo Pão de Açúcar e do novo presidente, Cláudio Galeazzi, que aconteceu sexta-feira.
Havia, no auditório da sede do Grupo Pão de Açúcar, mais de cem analistas e diversos deles parabenizaram Abilio Diniz, presidente do conselho, pela troca. Eles também reviram suas posições em relação aos papéis da empresa. Em uma semana particularmente difícil para a Bovespa, que caiu 4,87%, as ações do Pão de Açúcar subiram 2,75%.
No fim da apresentação de Diniz, muitos aplaudiram-no efusivamente. Motivo: em uma de suas reestruturações, a da Lojas Americanas, Galeazzi conseguiu, em cinco anos, valorizar as ações da empresa em algumas dezenas de vezes. "O mercado é crítico e quer resultados", diz Diniz.
Inédito no Brasil, o movimento de corte de executivos é comum em países com mercados de capitais mais maduros. Levantamento da consultoria Drake Beam Morin mostra que tais demissões intensificaram-se no início da década. Em 2000, mais de mil presidentes de empresas foram demitidos apenas nos Estados Unidos por não ter atingido resultados.
Além disso, quanto maior a empresa, mais alto passou a ser o risco do corte: 39 presidentes das 200 principais companhias dos EUA perderam o emprego em 2000, contra 23 em 1999, com crescimento de 60%.
Os números mais recentes continuam expressivos e neste ano particularmente devem crescer pela crise do "subprime", os empréstimos imobiliários de alto risco, nos EUA. Apenas no mês passado, Charles Prince, presidente do Citibank, e Stan O'Neal, comandante mundial da consultoria Merrill Lynch, perderam seus empregos.
As discussões sobre os benefícios das demissões por resultados são amplas. Na época dos escândalos como o da Enron, no qual houve fraudes de balanços e empresas quebraram, especialistas apontavam que a busca pelo lucro a cada trimestre tinha causado as fraudes.
A opinião, entretanto, não é unânime. "O poder dos acionistas de demitir o presidente e o quadro de diretores é um dos princípios centrais da governança corporativa", escreveram os professores Raymond Fisman e Matthew Kropf, da Universidade Columbia, e Rakesh Khurana, de Harvard.
Eles realizaram um amplo estudo sobre o assunto em 2005, colocando em fórmulas matemáticas os benefícios e custos da demissão do presidente. Não chegaram a uma conclusão específica, mas disseram que queriam alimentar o debate.

Resultados
Diniz é mais pragmático. Para ele, nenhum executivo faz nada sozinho, "para o mal e para o bem", mas, no caso de Casseb, o conselho preferiu encerrar um ciclo que levou a empresa a não atingir metas e a perder rentabilidade.
"Numa empresa familiar, há espaço para paternalismos, para segundas, terceiras e quartas oportunidades", diz Diniz. "Já a empresa profissional é muito mais dirigida por resultados, principalmente quando há grande participação do mercado, como no Pão de Açúcar e no Casino [sócio francês do grupo]. Aí são resultados, e não capitalismo selvagem."
Sobre os bônus milionários, muito comuns em demissões nos Estados Unidos, Diniz preferiu não falar a respeito. Segundo ele, isso é questão privada da empresa.


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