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Bolsa eleva pressão sobre executivos
Afastamento de Cássio Casseb do Pão de Açúcar por não cumprir metas é sinal de amadurecimento da gestão de empresas
Comuns em mercados mais maduros, demissões por desempenho insatisfatório devem ser mais freqüentes, na opinião de analistas
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
O afastamento de Cássio
Casseb da presidência do Grupo Pão de Açúcar na segunda-feira passada, por não atingir as
metas da empresa, pode ser
apenas o primeiro caso de uma
série desse tipo. Com o amadurecimento do mercado de capitais brasileiro, especialistas
apontam que serão cada vez
mais comuns cortes por conta
de desempenho.
"É a regra do jogo: se não
atingiu resultado, está fora",
afirma Eugênio Foganholo, sócio da consultoria especializada em varejo Mixxer.
"Cada vez mais, acontecerão
demissões desse tipo, por conta
do aumento da competitividade e da profissionalização das
empresas."
A opinião era unânime entre
diversos analistas de mercado
ouvidos pela Folha, durante a
apresentação dos resultados do
Grupo Pão de Açúcar e do novo
presidente, Cláudio Galeazzi,
que aconteceu sexta-feira.
Havia, no auditório da sede
do Grupo Pão de Açúcar, mais
de cem analistas e diversos deles parabenizaram Abilio Diniz, presidente do conselho,
pela troca. Eles também reviram suas posições em relação
aos papéis da empresa. Em
uma semana particularmente
difícil para a Bovespa, que caiu
4,87%, as ações do Pão de Açúcar subiram 2,75%.
No fim da apresentação de
Diniz, muitos aplaudiram-no
efusivamente. Motivo: em uma
de suas reestruturações, a da
Lojas Americanas, Galeazzi
conseguiu, em cinco anos, valorizar as ações da empresa em
algumas dezenas de vezes. "O
mercado é crítico e quer resultados", diz Diniz.
Inédito no Brasil, o movimento de corte de executivos é
comum em países com mercados de capitais mais maduros.
Levantamento da consultoria
Drake Beam Morin mostra que
tais demissões intensificaram-se no início da década. Em
2000, mais de mil presidentes
de empresas foram demitidos
apenas nos Estados Unidos por
não ter atingido resultados.
Além disso, quanto maior a
empresa, mais alto passou a ser
o risco do corte: 39 presidentes
das 200 principais companhias
dos EUA perderam o emprego
em 2000, contra 23 em 1999,
com crescimento de 60%.
Os números mais recentes
continuam expressivos e neste
ano particularmente devem
crescer pela crise do "subprime", os empréstimos imobiliários de alto risco, nos EUA.
Apenas no mês passado, Charles Prince, presidente do Citibank, e Stan O'Neal, comandante mundial da consultoria
Merrill Lynch, perderam seus
empregos.
As discussões sobre os benefícios das demissões por resultados são amplas. Na época dos
escândalos como o da Enron,
no qual houve fraudes de balanços e empresas quebraram,
especialistas apontavam que a
busca pelo lucro a cada trimestre tinha causado as fraudes.
A opinião, entretanto, não é
unânime. "O poder dos acionistas de demitir o presidente e o
quadro de diretores é um dos
princípios centrais da governança corporativa", escreveram os professores Raymond
Fisman e Matthew Kropf, da
Universidade Columbia, e Rakesh Khurana, de Harvard.
Eles realizaram um amplo
estudo sobre o assunto em
2005, colocando em fórmulas
matemáticas os benefícios e
custos da demissão do presidente. Não chegaram a uma
conclusão específica, mas disseram que queriam alimentar o
debate.
Resultados
Diniz é mais pragmático. Para ele, nenhum executivo faz
nada sozinho, "para o mal e para o bem", mas, no caso de Casseb, o conselho preferiu encerrar um ciclo que levou a empresa a não atingir metas e a perder
rentabilidade.
"Numa empresa familiar, há
espaço para paternalismos, para segundas, terceiras e quartas
oportunidades", diz Diniz. "Já a
empresa profissional é muito
mais dirigida por resultados,
principalmente quando há
grande participação do mercado, como no Pão de Açúcar e no
Casino [sócio francês do grupo]. Aí são resultados, e não capitalismo selvagem."
Sobre os bônus milionários,
muito comuns em demissões
nos Estados Unidos, Diniz preferiu não falar a respeito. Segundo ele, isso é questão privada da empresa.
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