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Murdoch recria o "Wall Street Journal"
Empresário começa reforma geral de aparência, conteúdo e equipe do jornal
Há planos de substituição de dezenas dos funcionários da Redação e de contratação
de repórteres e editores em veículos concorrentes
RICHARD PEREZ-PENA
DO "NEW YORK TIMES"
Nos últimos meses, Rupert
Murdoch transferiu seu escritório para a sede da Dow Jones,
a empresa que publica o "Wall
Street Journal". Ele pressionou
os editores do jornal por artigos
mais curtos e um formato noticioso mais objetivo. Tentou estabelecer contatos pessoais
com os repórteres que não quer
ver roubados pelos rivais.
E, na semana retrasada, supervisionou a substituição de
diversos executivos do jornal,
entre os quais seu diretor editorial, substituindo-os por pessoas de sua confiança.
E isso aconteceu antes mesmo de ele adquirir formalmente a empresa, o que ocorreu na
última quinta, quando os acionistas da Dow Jones aprovaram venda da empresa à News
Corp., a companhia de Murdoch. Mas ele não esperou pela
conclusão das formalidades para tomar as rédeas do "Wall
Street Journal", dando início a
um processo que equivale a
uma reforma geral da aparência, conteúdo e equipe de um
dos mais cobiçados jornais do
mundo.
"Ele não está perdendo tempo", disse um executivo da Dow
Jones que, como a maioria dos
entrevistados, não quis que seu
nome fosse revelado. "Já está
no comando, tomando decisões. Sabemos que é assim que
ele opera, mas é impressionante assistir ao processo."
Para os repórteres e editores
do "Wall Street Journal", o momento é tanto de ansiedade
quanto de antecipação sobre o
que pode acontecer ao final de
mais de um século de controle
do jornal pela família Bancroft.
Durante a prolongada batalha de aquisição, no segundo e
terceiro trimestres, muitos deles expressaram preocupação
com a possibilidade de que
Murdoch usasse as páginas noticiosas do jornal para promover seus interesses políticos e
de negócios -uma prática comum na News Corp.- ou simplesmente decidisse produzir
uma versão mais pobre da respeitável publicação.
Mas Murdoch prometeu que
abriria os cofres para expandir
o alcance do "Wall Street Journal", perspectiva bem recebida
por muitos dos profissionais do
jornal, cujas receitas publicitárias estão estagnadas. O jornal
já ofereceu aumentos significativos a repórteres que deseja
contratar e a alguns jornalistas
da casa que estavam estudando
propostas para sair. Murdoch
telefonou pessoalmente a alguns desses jornalistas, pedindo que ficassem.
Murdoch afirmou que desejava que o "Wall Street Journal" reforçasse sua cobertura
política e de assuntos nacionais
e internacionais, o que faria do
jornal um concorrente mais direto do "New York Times". Ele
também pressionou por mais
notícias e por reportagens mais
sucintas -uma mudança pronunciada, em um jornal que
tem entre suas características
artigos longos que começam já
na primeira página.
Nada disso surpreende vindo
de Murdoch, conhecido pela
segurança no manejo de suas
muitas propriedades e por sua
capacidade de moldá-las para
refletir suas opiniões, sem perder tempo demais para conseguir o que deseja.
A tomada de controle oferece
vastos recursos a um jornal que
mal consegue sair do vermelho,
em parte porque desafiou as
tendências setoriais no que se
refere ao corte de funcionários
e à circulação. A News Corp.
tem receita anual de US$ 29 bilhões, ante US$ 2 bilhões da
Dow Jones, e Murdoch já demonstrou repetidamente que
está disposto a investir o que
for necessário em suas propriedades -e até mesmo a arcar
com pesados prejuízos em algumas delas- a fim de conquistar audiência e anunciantes.
Acompanhado por um guarda-costas e por seu veterano secretário, Murdoch tem sido
presença freqüente nos escritórios da Dow Jones, conduzindo reuniões com executivos.
Após algumas visitas à Redação e de uma turnê pela gráfica
do "Wall Street Journal", ele
pouco revelou sobre suas intenções, dizem funcionários.
Mas acrescentam que, em todas as paradas, ele fez perguntas sobre o trabalho de cada
pessoa com quem conversava e
revelou domínio surpreendente sobre as funções de cada um,
dos cronogramas de produção à
operação de impressoras.
Já existem planos firmes para eliminar o caderno "Marketplace", que contém artigos sobre tendências de negócios e tecnologia, no começo de 2008.
Também há planos de substituição de dezenas dos funcionários da Redação, enquanto
outras mudanças de pessoal
-refletindo as prioridades de
Murdoch- já estão em curso,
entre elas a procura de repórteres e editores em veículos concorrentes.
Desde que a família Bancroft
aceitou lhe vender a Dow Jones
por mais de US$ 5 bilhões no final de julho, Murdoch vem se
reunindo com grupos de executivos e administradores das
duas companhias. Nos encontros, eles comparam estratégias
publicitárias, procuram possibilidades de joint ventures e
debatem o futuro do sistema de
acesso pago à edição on-line do
"Wall Street Journal", que
Murdoch não aprecia.
Mudanças
Quando a batalha pelo controle acionário da Dow Jones
ainda estava em curso, alguns
dos editores do "Wall Street
Journal" acusaram Murdoch
de usar o jornalismo de sua empresa em defesa de seus interesses. Existe ansiedade sobre
as mudanças, tanto as reais como as cogitadas, temperadas
por certa dose de otimismo.
"Acredito que muita gente
deva estar esperando para ver o
que ele fará, antes de tomar
uma posição", disse Byron Calame, antigo editor-assistente
do "Wall Street Journal" e também ex-editor do "New York
Times". "A idéia de que pode
haver mais ativos, mais recursos para as operações noticiosas gera esperanças entre algumas dessas pessoas."
Pessoas que conhecem bem
os principais executivos da
Dow Jones dizem que lhes foi
tornado bastante claro que seriam substituídos quase imediatamente, quer para fins de
consolidação de operações com
a News Corp., quer para entregar o controle a pessoas de confiança de Murdoch -ou, mais
provavelmente, pelos dois motivos. A primeira confirmação
surgiu há duas semanas, quando a Dow Jones anunciou que
seu presidente-executivo, Richard Zannino, e L. Gordon
Crovitz, diretor editorial do
"Wall Street Journal", deixariam seus postos.
O jornal deve demitir entre
25 e 40 de seus 750 profissionais de jornalismo. O objetivo
não é reduzir o número de funcionários, que na verdade pode
até vir a aumentar, mas abrir
vagas para novos contratados
nas áreas que Murdoch planeja
expandir ou, em certos casos,
simplesmente tirar certas pessoas do caminho.
Diversos repórteres e editores respeitados estão sendo
transferidos para Washington.
A coluna de Gerald Seib sobre a
política na capital dos EUA
também será retomada. O jornal começou a contratar repórteres e fez propostas lucrativas
a alguns jornalistas conhecidos
do "New York Times" e outros
veículos -sem sucesso na
maioria dos casos.
Dentro de um ano, o jornal
pode ter um grande grupo de
repórteres e editores contratado por ordem de Murdoch e
desvinculados das tradições do
"Wall Street Journal". Serão
pessoas que não terão vivido os
meses de ansiedade nos quais
muitos dos jornalistas da empresa rejeitaram a aquisição e
questionaram a ética jornalística de Murdoch. "Ao que parece
teremos uma grande mudança
de cultura", afirmou um repórter veterano.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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