|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Incerteza nos EUA agrava crise automotiva
Com indefinição da Casa Branca sobre socorro a GM e Chrysler, fornecedores do setor reestruturam divisões e cortam vagas
GM afirma que precisa de US$ 4 bi neste mês para sobreviver; Chrysler diz que não tem caixa para manter operações além de abril
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
O presidente dos EUA, George W. Bush, evitou decisões ontem sobre o socorro federal à
GM e à Chrysler, um dia depois
de dizer que a deliberação "não
será um processo longo" devido
à fragilidade da indústria automobilística nacional. Com as
incertezas, as perdas para montadoras, seus fornecedores e
mesmo concorrentes estrangeiros continuaram a se espalhar em efeito dominó.
O governo estuda usar recursos do pacote de resgate das
instituições financeiras (Tarp,
na sigla em inglês), de US$ 700
bilhões, para empréstimos de
curto prazo à GM e à Chrysler.
A possibilidade foi aventada
após a proposta do Congresso
de oferecer US$ 14 bilhões às
empresas ter sido rejeitada pelo Senado na semana passada.
Há especulações de que a Casa Branca poderá oferecer até
US$ 40 bilhões às empresas.
Para isso, porém, seria preciso
que o Congresso liberasse a segunda metade (US$ 350 bilhões) das verbas do Tarp, já
que só restam US$ 15 bilhões da
parte já aprovada.
Enquanto as negociações
avançam, as empresas vivem
em bomba-relógio. Após queda
de 22% nas vendas em 2008, a
GM diz que precisa de US$ 4 bilhões neste mês e US$ 4 bilhões
em janeiro para sobreviver. A
Chrysler, cuja queda foi de
28%, diz que não tem caixa para
manter operações além de
abril. A Ford, também nas negociações, preferiu tentar uma
linha de crédito federal.
Os problemas da indústria
foram refletidos nos resultados
da produção de novembro, divulgados ontem. A produção do
setor automotivo caiu 2,6% em
novembro, bem superior à queda de 0,7% na produção de bens
de consumo em geral.
Estima-se que ao menos 2
milhões de empregos nos EUA
dependam da indústria automotiva. Analistas afirmam que,
no emaranhado das relações
entre as três gigantes, seus fornecedores e os concorrentes
estrangeiros, qualquer falência
pode ter efeito catastrófico para todo o mercado.
A japonesa Toyota exemplificou a rede de negócios ontem.
Citando o declínio do mercado
automotivo, a empresa suspendeu preparações para uma
planta de produção em construção em Mississippi, programada para começar a operar
em 2010. Não há previsão de
quando ela será retomada.
As vendas da Toyota caíram
34% nos EUA em novembro,
comparadas ao mesmo período
em 2007. No mês passado, a japonesa relatou queda de 69%
em lucro para seu segundo trimestre fiscal, cortando a previsão para o ano em mais de 50%.
A Honda e a Mazda também reportaram grandes cortes de
produção na última sexta.
Em risco ainda maior estão
fornecedores, que em geral trabalham tanto com as norte-americanas quanto com as concorrentes estrangeiras. Cerca
de 600 mil pessoas são diretamente empregadas por fornecedores para a indústria automotiva no país -mais que o dobro dos 239 mil empregados
pelas três gigantes nos EUA.
Apenas a GM e a Chrysler devem cerca de US$ 10 bilhões a
fornecedores por compras já
entregues. Para evitar o cenário, vários grupos começaram a
exigir pagamento em dinheiro
no momento da entrega para as
duas montadoras, tratando as
empresas como se já tivessem
pedido concordata. As empresas também estão reestruturando divisões e cortando milhares de postos de trabalho.
Texto Anterior: Desaceleração: Transporte de cargas tem queda de 10% Próximo Texto: Frase Índice
|