São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2008

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Incerteza nos EUA agrava crise automotiva

Com indefinição da Casa Branca sobre socorro a GM e Chrysler, fornecedores do setor reestruturam divisões e cortam vagas

GM afirma que precisa de US$ 4 bi neste mês para sobreviver; Chrysler diz que não tem caixa para manter operações além de abril


ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

O presidente dos EUA, George W. Bush, evitou decisões ontem sobre o socorro federal à GM e à Chrysler, um dia depois de dizer que a deliberação "não será um processo longo" devido à fragilidade da indústria automobilística nacional. Com as incertezas, as perdas para montadoras, seus fornecedores e mesmo concorrentes estrangeiros continuaram a se espalhar em efeito dominó.
O governo estuda usar recursos do pacote de resgate das instituições financeiras (Tarp, na sigla em inglês), de US$ 700 bilhões, para empréstimos de curto prazo à GM e à Chrysler. A possibilidade foi aventada após a proposta do Congresso de oferecer US$ 14 bilhões às empresas ter sido rejeitada pelo Senado na semana passada.
Há especulações de que a Casa Branca poderá oferecer até US$ 40 bilhões às empresas. Para isso, porém, seria preciso que o Congresso liberasse a segunda metade (US$ 350 bilhões) das verbas do Tarp, já que só restam US$ 15 bilhões da parte já aprovada.
Enquanto as negociações avançam, as empresas vivem em bomba-relógio. Após queda de 22% nas vendas em 2008, a GM diz que precisa de US$ 4 bilhões neste mês e US$ 4 bilhões em janeiro para sobreviver. A Chrysler, cuja queda foi de 28%, diz que não tem caixa para manter operações além de abril. A Ford, também nas negociações, preferiu tentar uma linha de crédito federal.
Os problemas da indústria foram refletidos nos resultados da produção de novembro, divulgados ontem. A produção do setor automotivo caiu 2,6% em novembro, bem superior à queda de 0,7% na produção de bens de consumo em geral.
Estima-se que ao menos 2 milhões de empregos nos EUA dependam da indústria automotiva. Analistas afirmam que, no emaranhado das relações entre as três gigantes, seus fornecedores e os concorrentes estrangeiros, qualquer falência pode ter efeito catastrófico para todo o mercado.
A japonesa Toyota exemplificou a rede de negócios ontem. Citando o declínio do mercado automotivo, a empresa suspendeu preparações para uma planta de produção em construção em Mississippi, programada para começar a operar em 2010. Não há previsão de quando ela será retomada.
As vendas da Toyota caíram 34% nos EUA em novembro, comparadas ao mesmo período em 2007. No mês passado, a japonesa relatou queda de 69% em lucro para seu segundo trimestre fiscal, cortando a previsão para o ano em mais de 50%. A Honda e a Mazda também reportaram grandes cortes de produção na última sexta.
Em risco ainda maior estão fornecedores, que em geral trabalham tanto com as norte-americanas quanto com as concorrentes estrangeiras. Cerca de 600 mil pessoas são diretamente empregadas por fornecedores para a indústria automotiva no país -mais que o dobro dos 239 mil empregados pelas três gigantes nos EUA.
Apenas a GM e a Chrysler devem cerca de US$ 10 bilhões a fornecedores por compras já entregues. Para evitar o cenário, vários grupos começaram a exigir pagamento em dinheiro no momento da entrega para as duas montadoras, tratando as empresas como se já tivessem pedido concordata. As empresas também estão reestruturando divisões e cortando milhares de postos de trabalho.


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