São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

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Crédito deve dobrar, diz BNDES, mas segue muito menor do que o necessário

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

Estudo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) afirma que o crédito habitacional crescerá em ritmo acelerado de 2007 a 2010. Segundo as estimativas do banco, essa modalidade de crédito passará do atual 1,7% do PIB (Produto Interno Bruto) para 4%.
As projeções se baseiam em dados da Caixa Econômica Federal, do Banco Central e da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança).
Apesar da perspectiva de expansão, mesmo com o aumento, o país continuará na lanterna em relação à proporção do crédito habitacional. No Chile, segmento representa 13% do PIB. Nos EUA, está na faixa de 65%, e, na Holanda, atinge 111%. O estudo faz parte do livro "Visão do Desenvolvimento", que o banco pretende lançar no primeiro semestre.
"Mesmo esses 4% ainda são pouco. Equivalem a cerca de R$ 80 bilhões, pouco mais do que o banco desembolsa a cada ano", afirmou Ernani Torres, chefe da Superintendência de Assuntos Econômicos do BNDES.
O crédito habitacional no país não é baixo apenas em relação ao PIB como também em relação ao crédito total. No Chile, o segmento representa 21% da oferta de crédito. No México, chega a 53%, e, na Holanda, a 67%. No Brasil, responde por 5% do crédito total.
"O crédito imobiliário já foi mais significativo no Brasil. Mas minguou depois da crise dos anos 80 e 90. Se esse crédito crescer em determinadas bases, e isso parte da idéia de queda da taxa de juros e mercado estável, ele deve passar de 2% para 4% do PIB em quatro anos, e essa não é a hipótese mais otimista", afirma Torres.

Condições de melhora
A melhora de cenário é ditada por dois aspectos: institucional e macroeconômico. O banco destaca a melhora nos riscos da concessão de crédito após a instituição da alienação fiduciária de bens imóveis. Nessa modalidade, o devedor repassa a propriedade do bem para o credor. Com isso, em caso de inadimplência, o processo de recuperação do valor emprestado ocorre de forma mais ágil. "Isso reduz a taxa de juros e o "spread". Acaba aumentando o apetite dos bancos", disse.
O presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Paulo Safady, confirma o momento favorável para o setor. "O segmento residencial cresceu muito nos últimos anos. Em 2006, a construção civil cresceu 5%, puxada pelo segmento do mercado imobiliário", disse.
O uso dos recursos da caderneta de poupança ficou em R$ 9,5 bilhões em 2006. Para este ano, Safady estima que sejam aplicados R$ 11,5 bilhões.
Do ponto de vista do investimento, o que importa é a construção de novas unidades residenciais. A carteira de crédito do setor é composta hoje, no entanto, por dois terços de imóveis usados.

Estrangeiras
O BNDES espera um avanço tão expressivo da construção residencial nos próximos anos que não descarta a hipótese de entrada de empresas estrangeiras. "A escala de produção pode reduzir o custo substancialmente. As grandes empresas devem ocupar esse espaço", afirmou Torres.
Em 2006, foram construídas 140 mil novas unidades no país. No ano anterior, foram construídas 70 mil. No México, o patamar é de 800 mil novas unidades em média a cada ano. "Com o vazio que se criou nos últimos 20 anos, houve uma fuga das grandes empresas que tinham tradição na construção habitacional para outros segmentos. Essa retomada pode atrair empresas estrangeiras que já atuam no país", afirma o presidente da CBIC.
O aquecimento do setor pode ganhar novo fôlego com o pacote de aceleração do crescimento elaborado pelo governo. No ano passado, a construção civil já recebeu benefícios de desoneração, como a redução de alíquotas de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).


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