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Crédito deve dobrar, diz BNDES, mas segue muito menor do que o necessário
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
Estudo do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) afirma
que o crédito habitacional crescerá em ritmo acelerado de
2007 a 2010. Segundo as estimativas do banco, essa modalidade de crédito passará do
atual 1,7% do PIB (Produto Interno Bruto) para 4%.
As projeções se baseiam em
dados da Caixa Econômica Federal, do Banco Central e da
Abecip (Associação Brasileira
das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança).
Apesar da perspectiva de expansão, mesmo com o aumento, o país continuará na lanterna em relação à proporção do
crédito habitacional. No Chile,
segmento representa 13% do
PIB. Nos EUA, está na faixa de
65%, e, na Holanda, atinge
111%. O estudo faz parte do livro "Visão do Desenvolvimento", que o banco pretende lançar no primeiro semestre.
"Mesmo esses 4% ainda são
pouco. Equivalem a cerca de R$
80 bilhões, pouco mais do que o
banco desembolsa a cada ano",
afirmou Ernani Torres, chefe
da Superintendência de Assuntos Econômicos do BNDES.
O crédito habitacional no
país não é baixo apenas em relação ao PIB como também em
relação ao crédito total. No
Chile, o segmento representa
21% da oferta de crédito. No
México, chega a 53%, e, na Holanda, a 67%. No Brasil, responde por 5% do crédito total.
"O crédito imobiliário já foi
mais significativo no Brasil.
Mas minguou depois da crise
dos anos 80 e 90. Se esse crédito crescer em determinadas bases, e isso parte da idéia de queda da taxa de juros e mercado
estável, ele deve passar de 2%
para 4% do PIB em quatro
anos, e essa não é a hipótese
mais otimista", afirma Torres.
Condições de melhora
A melhora de cenário é ditada por dois aspectos: institucional e macroeconômico. O banco destaca a melhora nos riscos
da concessão de crédito após a
instituição da alienação fiduciária de bens imóveis. Nessa
modalidade, o devedor repassa
a propriedade do bem para o
credor. Com isso, em caso de
inadimplência, o processo de
recuperação do valor emprestado ocorre de forma mais ágil.
"Isso reduz a taxa de juros e o
"spread". Acaba aumentando o
apetite dos bancos", disse.
O presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da
Construção), Paulo Safady,
confirma o momento favorável
para o setor. "O segmento residencial cresceu muito nos últimos anos. Em 2006, a construção civil cresceu 5%, puxada
pelo segmento do mercado
imobiliário", disse.
O uso dos recursos da caderneta de poupança ficou em R$
9,5 bilhões em 2006. Para este
ano, Safady estima que sejam
aplicados R$ 11,5 bilhões.
Do ponto de vista do investimento, o que importa é a construção de novas unidades residenciais. A carteira de crédito
do setor é composta hoje, no
entanto, por dois terços de
imóveis usados.
Estrangeiras
O BNDES espera um avanço
tão expressivo da construção
residencial nos próximos anos
que não descarta a hipótese de
entrada de empresas estrangeiras. "A escala de produção pode
reduzir o custo substancialmente. As grandes empresas
devem ocupar esse espaço",
afirmou Torres.
Em 2006, foram construídas
140 mil novas unidades no país.
No ano anterior, foram construídas 70 mil. No México, o patamar é de 800 mil novas unidades em média a cada ano.
"Com o vazio que se criou nos
últimos 20 anos, houve uma fuga das grandes empresas que tinham tradição na construção
habitacional para outros segmentos. Essa retomada pode
atrair empresas estrangeiras
que já atuam no país", afirma o
presidente da CBIC.
O aquecimento do setor pode
ganhar novo fôlego com o pacote de aceleração do crescimento elaborado pelo governo. No
ano passado, a construção civil
já recebeu benefícios de desoneração, como a redução de alíquotas de IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados).
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