São Paulo, domingo, 17 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Paraíso do R$ 1,99" atrai brasileiros à China

Centro Atacadista de Yiwu, que reúne 137 mil lojas em área equivalente a 3 parques do Ibirapuera, abastece mercados de todo o mundo

Maior showroom do "made in China" se adapta à crise dos mercados americano e europeu e tenta se promover em países como o Brasil


RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A YIWU

Agendas 2010 de couro vendidas a R$ 0,50 por unidade. Skates com desenhos de mangá japonês ao equivalente a R$ 5. Mala grande de viagem a R$ 40. Cadeirinhas de bebê a R$ 50.
O empresário paulistano João Sena circula pelos corredores do Centro Atacadista de Yiwu, no leste da China, procurando novidades em presentes, armarinhos e louça, para revender na capital paulista e no interior do Estado. "Vale a pena dar a volta ao mundo para comprar aqui", diz.
Como Sena, cada vez mais brasileiros visitam o maior showroom do "made in China". Mais da metade dos estimados US$ 3 bilhões de exportações em 2009 do centro atacadista de Yiwu, o maior do mundo, foram para países emergentes como Brasil, Rússia, Índia e Oriente Médio.
Conhecido entre brasileiros como "paraíso do R$ 1,99", Yiwu quer se adaptar à crise em seus maiores mercados (EUA e Europa). Neste ano, pela primeira vez, Yiwu organizou feiras em Dubai e Frankfurt para apresentar os seus produtos. Vai organizar ainda outras 40 feiras em casa para promover de tecidos e material de escritório a produtos de decoração.
"Sempre dizíamos que o comércio de Yiwu se fazia com os pés, de porta em porta, mas ultimamente estávamos sentados", disse à Folha o vice-gerente-geral do centro atacadista, Hu Yanhu.
"Queremos novos mercados. Damos mais descontos, diversificamos nossos produtos e estamos promovendo Yiwu em mercados como Rússia, Brasil, Índia e América Latina", diz.
Cerca de 500 mil contêineres deixam Yiwu por ano -o mercado doméstico chinês fica com os outros US$ 3 bilhões em produtos.
Pedindo anonimato, vendedores confidenciam que as vendas não caíram tanto, mas a margem de lucro desabou para se adaptar aos novos e menos endinheirados mercados. E o governo local ainda ofereceu crédito barato às empresas em crise. Com preços impossíveis para a concorrência, Yiwu é o pesadelo para industriais que não conseguem competir com os produtos chineses.

Quarteirões temáticos
O centro atacadista é a tradução visual do "made in China". São 4,5 milhões de metros quadrados, o equivalente a três parques do Ibirapuera (SP), reunindo 137 mil lojinhas que apresentam amostras de 1,7 milhão de produtos.
Diversos prédios entre três e cinco andares, que parecem puxadinhos um do outro, sem a menor unidade visual, serpenteiam o centro da cidade por quase dois quilômetros.
Com 200 mil funcionários, seu interior é uma versão anabolizada e mais organizada da paulistana 25 de Março.
Os prédios são divididos por temas e as lojas são reunidas por produto. Há o quarteirão das bijuterias, o das malas e de produtos de viagens, o de cofres e cadeados, o de furadeiras e ferramentas, o de papelaria e material de escritório -e assim por 200 áreas.
De óculos a roupas íntimas, de material esportivo a capacetes para motociclistas, Yiwu abastece supermercados e lojinhas do mundo inteiro.
Nos anos 80, após três décadas de comunismo, Yiwu foi um dos primeiros lugares da China onde surgiram fábricas de fundo de quintal por todos os cantos da cidade.
A prefeitura criou o centro atacadista em 1993, até hoje uma empresa estatal. A 300 quilômetros ao sul de Xangai, Yiwu tem 2 milhões de habitantes e o mesmo caos visual das novas metrópoles do país.
O governo chinês repetidamente tem defendido que a China deve deixar de lado os produtos baratos e investir nos de maior valor agregado.
Para o gerente Hu, isso não ameaça o futuro de Yiwu. "Somos uma plataforma, como um teatro. Podemos exibir da Ópera de Pequim à música clássica", diz Hu. "Pretendemos vender produtos mais avançados."
Para melhorar o visual desajeitado do palco atual, estão em obras um novo centro de exposições, com 296 mil m2, e a fase 5 do shopping, de 634 mil m2, os dois em aço e vidro, com linhas contemporâneas.
Mas, com exceção de uma pequena área vendendo produtos digitais, Yiwu é totalmente dependente de produtos baratos, dos salários baixos da mão de obra local e de marcas estrangeiras, pirateadas ou não.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Lojas oferecem de hímen artificial a anão gigante
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.