|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Paraíso do R$ 1,99" atrai brasileiros à China
Centro Atacadista de Yiwu, que reúne 137 mil lojas em área equivalente a 3 parques do Ibirapuera, abastece mercados de todo o mundo
Maior showroom do "made in China" se adapta à crise
dos mercados americano e
europeu e tenta se promover
em países como o Brasil
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A YIWU
Agendas 2010 de couro vendidas a R$ 0,50 por unidade.
Skates com desenhos de mangá
japonês ao equivalente a R$ 5.
Mala grande de viagem a R$ 40.
Cadeirinhas de bebê a R$ 50.
O empresário paulistano
João Sena circula pelos corredores do Centro Atacadista de
Yiwu, no leste da China, procurando novidades em presentes,
armarinhos e louça, para revender na capital paulista e no
interior do Estado. "Vale a pena
dar a volta ao mundo para comprar aqui", diz.
Como Sena, cada vez mais
brasileiros visitam o maior showroom do "made in China".
Mais da metade dos estimados
US$ 3 bilhões de exportações
em 2009 do centro atacadista
de Yiwu, o maior do mundo, foram para países emergentes como Brasil, Rússia, Índia e
Oriente Médio.
Conhecido entre brasileiros
como "paraíso do R$ 1,99", Yiwu quer se adaptar à crise em
seus maiores mercados (EUA e
Europa). Neste ano, pela primeira vez, Yiwu organizou feiras em Dubai e Frankfurt para
apresentar os seus produtos.
Vai organizar ainda outras 40
feiras em casa para promover
de tecidos e material de escritório a produtos de decoração.
"Sempre dizíamos que o comércio de Yiwu se fazia com os
pés, de porta em porta, mas ultimamente estávamos sentados", disse à Folha o vice-gerente-geral do centro atacadista, Hu Yanhu.
"Queremos novos mercados.
Damos mais descontos, diversificamos nossos produtos e estamos promovendo Yiwu em
mercados como Rússia, Brasil,
Índia e América Latina", diz.
Cerca de 500 mil contêineres
deixam Yiwu por ano -o mercado doméstico chinês fica
com os outros US$ 3 bilhões
em produtos.
Pedindo anonimato, vendedores confidenciam que as
vendas não caíram tanto, mas a
margem de lucro desabou para
se adaptar aos novos e menos
endinheirados mercados. E o
governo local ainda ofereceu
crédito barato às empresas em
crise. Com preços impossíveis
para a concorrência, Yiwu é o
pesadelo para industriais que
não conseguem competir com
os produtos chineses.
Quarteirões temáticos
O centro atacadista é a tradução visual do "made in China".
São 4,5 milhões de metros quadrados, o equivalente a três
parques do Ibirapuera (SP),
reunindo 137 mil lojinhas que
apresentam amostras de 1,7
milhão de produtos.
Diversos prédios entre três e
cinco andares, que parecem puxadinhos um do outro, sem a
menor unidade visual, serpenteiam o centro da cidade por
quase dois quilômetros.
Com 200 mil funcionários,
seu interior é uma versão anabolizada e mais organizada da
paulistana 25 de Março.
Os prédios são divididos por
temas e as lojas são reunidas
por produto. Há o quarteirão
das bijuterias, o das malas e de
produtos de viagens, o de cofres
e cadeados, o de furadeiras e
ferramentas, o de papelaria e
material de escritório -e assim
por 200 áreas.
De óculos a roupas íntimas,
de material esportivo a capacetes para motociclistas, Yiwu
abastece supermercados e lojinhas do mundo inteiro.
Nos anos 80, após três décadas de comunismo, Yiwu foi
um dos primeiros lugares da
China onde surgiram fábricas
de fundo de quintal por todos
os cantos da cidade.
A prefeitura criou o centro
atacadista em 1993, até hoje
uma empresa estatal. A 300
quilômetros ao sul de Xangai,
Yiwu tem 2 milhões de habitantes e o mesmo caos visual
das novas metrópoles do país.
O governo chinês repetidamente tem defendido que a
China deve deixar de lado os
produtos baratos e investir nos
de maior valor agregado.
Para o gerente Hu, isso não
ameaça o futuro de Yiwu. "Somos uma plataforma, como um
teatro. Podemos exibir da Ópera de Pequim à música clássica", diz Hu. "Pretendemos vender produtos mais avançados."
Para melhorar o visual desajeitado do palco atual, estão em
obras um novo centro de exposições, com 296 mil m2, e a fase
5 do shopping, de 634 mil m2,
os dois em aço e vidro, com linhas contemporâneas.
Mas, com exceção de uma
pequena área vendendo produtos digitais, Yiwu é totalmente
dependente de produtos baratos, dos salários baixos da mão
de obra local e de marcas estrangeiras, pirateadas ou não.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Lojas oferecem de hímen artificial a anão gigante Índice
|