São Paulo, domingo, 17 de janeiro de 2010

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Lojas oferecem de hímen artificial a anão gigante

DO ENVIADO A YIWU

O governo chinês -oficialmente comunista e ateu- construiu há cinco anos uma mesquita para que os comerciantes muçulmanos "sintam-se em casa", como diz uma das propagandas de Yiwu.
Placas em inglês e árabe são vistas pela cidade inteira. Restaurantes com kebab e comida muçulmana se espalharam. Chineses da minoria muçulmana hui, que falam árabe, foram contratados pelas maiores lojas para atender os clientes do Oriente Médio.
Vendedoras perguntam ao repórter da Folha: "Você é muçulmano?", enquanto distribuem propaganda sobre o "hímen industrial", vendido por uma loja de Yiwu às mulheres muçulmanas que precisam aparentar virgindade.
O panfleto do produto, que mostra uma mulher de braços abertos cercada por pombas brancas e girassóis, anuncia uma "membrana transparente e vermelha escura, que se dissolve facilmente, antialérgica e sem contraindicações, testada por médicos".
Lojas vizinhas oferecem diversos tipos de narguilés, o tradicional cachimbo d'água dos países árabes, tapetes persas "made in China", alguns com a imagem de Meca bordada e o audiobook do Corão.
Yiwu tenta atender a todos os mercados possíveis com uma variedade de produtos customizados.
Nas 300 lojas de artigos de Natal há árvores de todos os tipos e tamanhos, Papais Noéis infláveis, que tocam saxofone ou que cantam.
Várias lojinhas vendem crucifixos e imagens de Cristo também adaptadas aos destinos finais -umas têm a imagem da mexicana Virgem de Guadalupe ao fundo, outras, da portuguesa Fátima.
Há 20 lojas especializadas em artigos de Carnaval, de máscaras e colares de flores artificiais a confetes coloridos e serpentinas.
Anões de jardim gigantes com placas de "bem-vindo" em vários idiomas e que, provavelmente, serão colocados como objetos de decoração em restaurantes, lojas e hotéis de todo o mundo estão em alta -e custam o equivalente a R$ 400.

Pirataria
Skates e scooters utilizam personagens de mangás japoneses como marcas. "Os compradores brasileiros começaram a aparecer muito no último semestre", diz a vendedora Ma Guilin.
"Eles adoram esses desenhos japoneses", afirma a moça. As marcas são pirateadas.
"Há muita pirataria aqui, então o comprador deve ter bastante cuidado, senão a compra é apreendida no Brasil", afirma o paulistano João Sena.
Com exceção de algumas empresas coreanas, que vendem produtos para bebê -carrinhos, cadeirinha para carro, berços-, a maioria das fábricas representadas no centro atacadista é da própria região, da Província de Zhejiang.
"No futuro, queremos ser plataforma para empresas estrangeiras que queiram mostrar seus produtos aqui, vendendo para a China ou para outros mercados", diz o gerente do Centro, Hu Yanhu.
Cerca de 400 mil comerciantes estrangeiros visitaram Yiwu no ano passado, 20% a mais que no ano anterior.
"Em tempos de crise, nossa vantagem em preços baixos é imbatível", afirma o gerente.
Apesar dos cursos gratuitos de inglês, espanhol e árabe ministrados pela manhã aos vendedores, poucos conseguem falar inglês -os compradores andam com intérpretes. (RJL)


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