São Paulo, terça-feira, 17 de fevereiro de 2004

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APERTO

Presidente cobra novo comportamento do Fundo e diz que imposição de "ajuste fiscal duro" impede crescimento de países pobres

FMI precisa mudar sua receita, afirma Lula

EDUARDO SCOLESE
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o FMI (Fundo Monetário Internacional) precisa "avançar" e "mudar seu comportamento" para que os países pobres entrem em rota de crescimento. Segundo o presidente, o "ajuste fiscal duro" não pode ser a única "receita" imposta pelo Fundo.
Durante videoconferência de encerramento da Conferência Anual da Rede Parlamentar de países membros do Bird (Banco Mundial), Lula declarou que os países do Terceiro Mundo "precisam levantar a cabeça", e o FMI, diferenciar "investimento produtivo" de "dívida".
Parte de seu discurso, inclusive a parte na qual falou sobre o FMI, foi improvisado e traduzido simultaneamente. De seu gabinete, no Palácio do Planalto, ele falou a deputados de 150 países membros do Bird, reunidos em Paris.
Lula disse que os países pobres, ao receber empréstimos do FMI, muitas vezes deixam de promover investimentos internos devido ao comprometimento com o respectivo superávit primário (economia de receita para pagamento de juros da dívida) determinado pelo Fundo.
"Eu sou daqueles que acreditam que o FMI vai ter de mudar seu comportamento. Ou seja, o FMI não pode ter para o desenvolvimento dos países pobres uma única receita, que é o ajuste fiscal duro, que muitas vezes não permite que os países cresçam."
Numa linha crítica, lembrando seus discursos durante a campanha eleitoral de 2002, Lula cobrou uma nova linguagem ao Fundo. "Eu acho que é preciso o FMI adotar uma linguagem de crescimento econômico. É preciso o FMI adotar uma linguagem de distribuição de renda. É preciso que o FMI comece a fazer uma diferenciação do que é investimento produtivo e o que é dívida."
O presidente pediu que os países em desenvolvimento tomem a atitude de resolver seus próprios problemas. "Estou convencido de que teremos esses avanços e é apenas questão de tempo e questão de conversa. Nós, governantes do Terceiro Mundo, que normalmente somos países que mais necessitamos de recursos de fora, temos de levantar a cabeça e perceber que parte de nossos problemas nós é que temos de resolver."
De acordo com Lula, alguns investimentos do Bird muitas vezes ficam paralisados no país por causa das imposições do FMI. "Muitas vezes o Banco Mundial anuncia uma ajuda, mas a gente não pode gastar porque tem que cumprir um superávit primário."
Para honrar o superávit primário, no ano passado, o governo foi obrigado a cortar R$ 13 bilhões do seu Orçamento. Esse esforço fiscal praticamente inviabilizou investimentos públicos. Apesar disso, no fim do ano passado, o governo Lula assinou seu primeiro acordo com o Fundo. O motivo é que o Brasil ainda dispõe de um baixo nível de reservas líquidas -cerca de US$ 17 bilhões, sem contar os recursos do FMI- e precisa de financiamento externo. No momento, uma missão técnica do FMI está em Brasília verificando o cumprimento das metas acertadas para 2003.


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