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APERTO
Presidente cobra novo comportamento do Fundo e diz que imposição de "ajuste fiscal duro" impede crescimento de países pobres
FMI precisa mudar sua receita, afirma Lula
EDUARDO SCOLESE
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva afirmou ontem que o FMI
(Fundo Monetário Internacional)
precisa "avançar" e "mudar seu
comportamento" para que os países pobres entrem em rota de
crescimento. Segundo o presidente, o "ajuste fiscal duro" não
pode ser a única "receita" imposta
pelo Fundo.
Durante videoconferência de
encerramento da Conferência
Anual da Rede Parlamentar de
países membros do Bird (Banco
Mundial), Lula declarou que os
países do Terceiro Mundo "precisam levantar a cabeça", e o FMI,
diferenciar "investimento produtivo" de "dívida".
Parte de seu discurso, inclusive
a parte na qual falou sobre o FMI,
foi improvisado e traduzido simultaneamente. De seu gabinete,
no Palácio do Planalto, ele falou a
deputados de 150 países membros
do Bird, reunidos em Paris.
Lula disse que os países pobres,
ao receber empréstimos do FMI,
muitas vezes deixam de promover investimentos internos devido ao comprometimento com o
respectivo superávit primário
(economia de receita para pagamento de juros da dívida) determinado pelo Fundo.
"Eu sou daqueles que acreditam
que o FMI vai ter de mudar seu
comportamento. Ou seja, o FMI
não pode ter para o desenvolvimento dos países pobres uma
única receita, que é o ajuste fiscal
duro, que muitas vezes não permite que os países cresçam."
Numa linha crítica, lembrando
seus discursos durante a campanha eleitoral de 2002, Lula cobrou
uma nova linguagem ao Fundo.
"Eu acho que é preciso o FMI adotar uma linguagem de crescimento econômico. É preciso o FMI
adotar uma linguagem de distribuição de renda. É preciso que o
FMI comece a fazer uma diferenciação do que é investimento produtivo e o que é dívida."
O presidente pediu que os países em desenvolvimento tomem a
atitude de resolver seus próprios
problemas. "Estou convencido de
que teremos esses avanços e é
apenas questão de tempo e questão de conversa. Nós, governantes
do Terceiro Mundo, que normalmente somos países que mais necessitamos de recursos de fora, temos de levantar a cabeça e perceber que parte de nossos problemas nós é que temos de resolver."
De acordo com Lula, alguns investimentos do Bird muitas vezes
ficam paralisados no país por causa das imposições do FMI. "Muitas vezes o Banco Mundial anuncia uma ajuda, mas a gente não
pode gastar porque tem que cumprir um superávit primário."
Para honrar o superávit primário, no ano passado, o governo foi
obrigado a cortar R$ 13 bilhões do
seu Orçamento. Esse esforço fiscal praticamente inviabilizou investimentos públicos. Apesar disso, no fim do ano passado, o governo Lula assinou seu primeiro
acordo com o Fundo. O motivo é
que o Brasil ainda dispõe de um
baixo nível de reservas líquidas
-cerca de US$ 17 bilhões, sem
contar os recursos do FMI- e
precisa de financiamento externo.
No momento, uma missão técnica do FMI está em Brasília verificando o cumprimento das metas
acertadas para 2003.
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