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OPINIÃO ECONÔMICA
Crença no agronegócio brasileiro
LUIZ GONZAGA BERTELLI
O ano de 2005 tem início com
a definitiva consolidação do
agronegócio no Brasil, responsável pela geração de mais de 18 milhões de empregos, o que corresponde a 30% da população economicamente ativa no país.
De cada três oportunidades de
emprego criadas, uma é oriunda
de agricultura.
Em 2004, as exportações do
agronegócio alcançaram US$ 40
bilhões, um crescimento de 28%,
no que tange ao resultado de
2003.
Para o vigorante período, as estimativas do Ministério da Agricultura são de US$ 45 bilhões,
com uma expansão de 15% sobre
o alcançado no ano transcorrido.
Consoante os especialistas, a diminuição das nossas exportações
será decorrente de uma possível
supersafra internacional de grãos,
preços mais baixos das commodities, câmbio desfavorável e desaceleração da economia mundial.
A soja, as carnes, a madeira e os
derivados da cana (açúcar e álcool) lideraram a pauta das exportações. O complexo soja e derivados faturou US$ 10 bilhões
com as vendas externas; as carnes,
apesar dos grandes entraves, US$
4 bilhões, e a madeira, cerca de
US$ 4 bilhões.
Em quarto lugar no ranking, o
açúcar e o álcool foram os grandes
destaques do agronegócio, diante
dos preços favoráveis. Pela primeira vez, as vendas do combustível da cana alcançaram mais de
US$ 500 milhões, com a tendência
do crescimento em 2005, especialmente com o uso maior na condição de aditivo à gasolina automotiva, visando reduzir as emissões
ambientais. Cada vez mais, diferentes nações estudam a possibilidade de emprego do combustível
renovável e ecológico da cana. A
expectativa é que o álcool brasileiro possa se transformar em commodity de ampla aceitação, mesmo sendo, ainda, um produto incipiente no mercado global.
Da mesma forma que as carnes,
o álcool brasileiro (imbatível nos
preços, como decorrência da evolução tecnológica e da modernidade havida na sua produção
agrícola ou industrial) enfrenta as
severas restrições e acordos estabelecidos, internacionalmente,
inclusive com a outorga de consideráveis subsídios aos produtores
estrangeiros.
O Brasil possui, atualmente,
uma das matrizes energéticas
mais limpas e sustentáveis do universo e poderá alcançar, em breve, a sua auto-suficiência, graças
às fontes da biomassa. Com o petróleo em torno dos US$ 50/ barril, é fundamental o estabelecimento de uma política energética
de médio e longo prazo, para o
efetivo e racional aproveitamento
dos nossos incomensuráveis recursos energéticos renováveis da
biomassa, como é o caso da cana e
do biodiesel. Mesmo porque as
nossas atuais reservas de petróleo
são limitadas (menos de duas décadas), sendo alto o seu custo de
produção em águas profundas
marítimas, onde se concentram
as nossas reservas identificadas.
Conforme os dados do Ministério da Agricultura, cerca de 150
milhões de hectares poderão ser,
ainda, incorporados à produção
agrícola, sendo 90 milhões referentes às novas fronteiras e 60 milhões às terras e pastagens, que
poderão ser empregadas na produção agrícola. Atualmente, o
Brasil explora menos de um terço
da sua área agricultável e tem a
maior fronteira para a expansão
agrícola em todo o mundo.
A produção de matéria-prima
para o biodiesel é viável em todas
as regiões do país e é grande o número de alternativas, como é o caso da palma, da soja, do girassol,
do babaçu, do amendoim e da
mamona, considerada a melhor
opção para o semi-árido nordestino.
No Brasil, em razão de uma errônea política de transportes, praticamente toda a movimentação
de carga e da população é efetuada com motores ciclo diesel (38
bilhões de litros de consumo
anual). Até as antigas locomotivas
elétricas passaram a consumir o
óleo diesel. Tais veículos do ciclo
diesel poderão ser alimentados
com óleos vegetais, reduzindo as
nossas importações do derivado
do petróleo (cerca de 6 bilhões de
litros anuais e dispêndio de US$ 1
bilhão em 2004).
Substituir derivados do petróleo pelos combustíveis de biomassa (álcool e óleos vegetais) seria uma forma racional, rápida e
econômica de reduzir emissões,
visando afastar a ameaça cada vez
maior do aquecimento global e
redução do efeito estufa.
Em janeiro de 2005, os carros
movidos com motores flexíveis a
álcool já alcançam 25% do mercado. Na próxima safra canavieira
de 2005/06, 15 bilhões de litros de
álcool serão produzidos no Brasil,
com projeção de exportações estimada em 2,5 bilhões de litros e 15
milhões de toneladas de açúcar.
Desta forma, o bom desempenho do agronegócio e o aumento
das exportações contribuirão,
sensivelmente, para o crescente
aumento de oferta de trabalho no
campo e na cidade.
Como assevera o economista
Eduardo de Carvalho, presidente
da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo): "O
nosso compromisso com o futuro
brasileiro exige investimentos na
agroindústria e em fontes renováveis de energia. É o que de melhor
podemos deixar para as próximas
gerações".
Luiz Gonzaga Bertelli, diretor da Divisão de Energia da Fiesp, é presidente da
Academia Paulista de História e presidente-executivo do CIEE (Centro de Integração Empresa Escola).
Excepcionalmente, hoje, a coluna
de Paulo Nogueira Batista Jr.
não é publicada.
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