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Bloqueio da UE à carne não cai, diz fazendeiro irlandês
Líder de campanha contra o Brasil diz que preocupações são com padrões, e não políticas
Declaração de Stephanes,
de que país vendeu carne
de gado não-rastreado à
Europa, facilitou trabalho,
afirma o pecuarista
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS
O bloqueio europeu à carne
do Brasil vai continuar, afirma
Padraig Walshe, presidente da
Associação de Fazendeiros da
Irlanda. Ele fala em causa própria: a entidade que dirige lidera há meses uma agressiva
campanha contra o produto
brasileiro, que em muitos momentos beirou a difamação.
Preocupados com a perda do
mercado para os exportadores
brasileiros, que no ano passado
mandaram 543,6 mil toneladas
de carne bovina para a Europa,
há cerca de dois anos os produtores irlandeses começaram a
jogar pesado, apelando para a
questão sanitária.
A campanha ganhou força de
acusação em julho do ano passado, quando os irlandeses
apresentaram relatório ao Parlamento Europeu questionando o sistema de rastreamento
da carne produzida no país.
Tanta pressão levou a UE a
apertar o cerco aos produtores
brasileiros, exigindo normas
mais rigorosas e limites na rastreabilidade, o sistema em que
o animal é monitorado para
evitar riscos de doenças -no
caso do Brasil, a aftosa.
No começo deste mês, o
lobby irlandês pôde comemorar sua maior vitória na "guerra
da carne", como a disputa está
sendo chamada na UE. Depois
que o Brasil apresentou uma
lista com 2.681 fazendas certificadas para a venda do produto,
quase nove vezes o número sugerido pelos europeus, as importações foram suspensas.
Agora o governo brasileiro
tenta negociar uma nova lista,
mas o impasse vai se arrastar
pelo menos até meados de março, quando termina a próxima
inspeção européia no Brasil.
Em entrevista à Folha, Walshe disse que confia na manutenção do bloqueio e afirmou
que a declaração do ministro
da Agricultura, Reinhold Stephanes, de que o Brasil vendeu
carne fora dos padrões para a
Europa facilitou seu trabalho.
FOLHA - Os representantes brasileiros manifestaram otimismo depois da reunião de sexta-feira com técnicos da União Européia. Qual a
sua avaliação?
PADRAIG WALSHE - Não acredito
que o embargo será suspenso.
O próprio ministro da Agricultura admitiu no Congresso que
o Brasil exportou carne para a
Europa que estava fora dos padrões exigidos, e eu acho que
vai haver uma reação [da Comissão Européia] a isso. A equipe da UE que fará a visita ao
Brasil precisa se certificar de
que não entram nas fazendas
certificadas bois vindos de regiões onde há focos de aftosa.
Não creio que eles mudarão
suas recomendações em breve.
FOLHA - Para produtores e diplomatas brasileiros, o que está por trás
da "guerra da carne" não são preocupações sanitárias, mas política e
protecionismo. O que o sr. acha?
WALSHE - Definitivamente não
é uma questão política. Trata-se de padrões. Nós, fazendeiros
europeus, investimos milhões
em padrões que foram estabelecidos em favor dos consumidores do bloco. Não vamos ficar
de braços cruzados diante da
entrada de produtos na União
Européia que não são submetidos a esses altos padrões.
FOLHA - O que a associação pretende fazer para convencer a Comissão
Européia a manter o bloqueio à carne do Brasil?
WALSHE - Vamos continuar
com o nosso lobby político e insistir em que a equivalência [a
padrões europeus] deve ser
respeitada em relação a qualquer produto que entre na UE.
FOLHA - O governo brasileiro afirma que a carne que o país exporta
não oferece nenhum risco. A campanha em torno do perigo sanitário
não é exagerada?
WALSHE - Não importa de onde
vem a carne: ela deve ser produzida sob as mesmas exigências sanitárias em vigor na UE.
É preciso que haja rastreabilidade, para garantir as mesmas
condições em relação aos produtores europeus. É injusto
quando produtores de fora da
UE podem usar hormônios, antibióticos e não precisam rastrear os animais. Nós sofremos
um controle rigoroso e queremos igualdade de condições.
FOLHA - A associação que o sr. dirige fez campanha pesada na Europa
desaconselhando o consumo de carne brasileira. Deu certo?
WALSHE - Acho que os consumidores preferem carne européia. Precisamos identificar
melhor o produto para que o
consumidor saiba o que está
comprando.
FOLHA - Em suas várias visitas ao
Brasil, o sr. comeu carne?
WALSHE - Em minhas viagens
ao exterior, geralmente como o
que me servem. Só exijo que a
comida esteja razoavelmente
bem preparada.
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