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OPINIÃO ECONÔMICA
Os novos bilionários
BORIS TABACOF
A estrutura das empresas e
dos negócios no Brasil apresenta sinais significativos de que
estamos, cada vez mais, integrados
na dinâmica global. É um processo
gradual pouco percebido, já que ficamos todos muito ocupados em
discutir juros e câmbio e as nossas
melhores cabeças da ciência econômica e da administração de empresas não conseguem sair da rotina do sempre mais do mesmo.
A publicação da nova lista da
"Forbes" dos bilionários brasileiros é emblemática dos novos tempos. O capitalismo nacional tem se
caracterizado pela visão patrimonialista, avaliando o peso e o sucesso dos seus membros pelos ativos
tangíveis: fábricas, fazendas, imóveis, bem como valores líquidos.
O rápido crescimento da relação
dos bilionários deveu-se a outro
parâmetro: o valor de mercado das
ações que representam o patrimônio investido nas suas próprias empresas, que suas famílias fundaram, ou de outras adquiridas nos
embates que ocorrem nos bancos,
bolsas e gabinetes, isto é, longe do
chão de fábrica e do barulho das
máquinas.
Vale a pena analisar esse movimento de proporções históricas,
pois ele pode indicar a integração
brasileira na verdadeira globalização, que é a dos fluxos de capital.
Trilhões de dólares giram 24 horas
por dia, acionados on-line, em busca de oportunidades de investimento. É um risco enorme e uma
extraordinária oportunidade, num
mundo em que os ativos, produtivos ou não, são avaliados e negociados a cada momento. Tudo isso
sem respeitar fronteiras soberanas
ou bancos centrais, que tentam
correr atrás desse interminável tsunami.
O movimento realizado por empresários brasileiros enormemente
bem-sucedidos, já é clássico nos
países adiantados. São os chamados IPOs (Initial Public Offering).
Um negócio, uma empresa que encontrou o seu filão, estrutura-se,
adota boas práticas de governança,
torna-se transparente livrando-se
dos tradicionais segredos e apresenta-se ao mercado de capitais.
Pode começar na Bolsa de Valores
brasileira, mas já mira os principais
centros internacionais, onde os investidores estão ávidos por novas
oportunidades.
Daí em diante, o patrimônio dos
empresários, que continuam detendo parcela considerável das
ações, passa a ser expresso pelo
preço que o mercado dá aos papéis
que representam o valor das empresas. As variáveis que o mercado
leva em conta são as mais diversas.
Além dos dados como produção,
produtos, margens de lucro, liquidez e outros, é a expectativa que
move a decisão dos investidores.
Expectativa de resultados potenciais e, mais do que nunca, da capacidade de inovação e da competência da sua gestão. Competitividade
é a pedra de toque.
Esse novo momento da inserção
brasileira no fluxo global de capitais pode ser o aguardado momento em que as empresas, novas ou
antigas, vão se capitalizar no mercado dos investimentos chamados
não-exigíveis, isto é, de recursos
que não se originam de dívidas
mas de acionistas que apostam nas
possibilidades de ganhos, seja na
distribuição de lucros ou da valorização das ações. O comportamento das cotações depende da performance anterior da empresa, mas,
principalmente, das expectativas.
O que faz o preço atual dos papéis é
a avaliação do que se pode aguardar como resultados futuros. Num
ambiente de acirrada competição,
aposta-se no contínuo esforço de
inovação, de aperfeiçoamentos tecnológicos de novos produtos, no
aumento da produtividade, na
conquista de novos mercados, na
capacidade de crescimento, seja o
chamado crescimento orgânico da
própria empresa ou via fusões e
aquisições.
Certamente é o aumento do acesso das empresas, inclusive das de
menor porte, mas que apresentam
bom potencial, ao vasto pool mundial de dinheiro que levará o sistema empresarial brasileiro a depender menos do crédito. Nos diversos
países, a captação dos recursos para empresas e consumidores, via
crédito, é a menor parte dos vários
instrumentos de capitalização.
Chegar à lista de bilionários é
bem raro, mas há uma enorme gradação para atingir o sucesso. O fator decisivo é a iniciativa e a vontade de correr riscos do empresário
individualmente. Mas, como demonstra a experiência desses vários países que crescem mais do
que o Brasil, em grande parte empurrados pelo empreendedorismo,
é de que a parte que cabe ao Estado
condiciona, em última (e primeira)
análise, a dinâmica do desenvolvimento. Políticas de crédito, da taxa
de câmbio, da tributação e dos gastos públicos, se outros méritos intrínsecos não existam, devem, pelo
menos, assegurar as condições de
competição dos negócios nacionais, sinônimo de renda para o povo, empregos e possibilidade de
melhorar de vida.
Quanto à distribuição de renda e
a justiça social, a forma mais eficaz
é a tributação equilibrada e a aplicação dos recursos públicos em
projetos de boa qualidade.
Boris Tabacof, 77, diretor do Conselho
de Economia da Ciesp, foi presidente do
Conselho Superior de Economia da
Fiesp/Ciesp e vice-presidente do Conselho de Administração da Cia. Suzano de
Papel e Celulose.
Excepcionalmente, hoje, a coluna
de Luiz Carlos Mendonça de Barros
não é publicada.
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