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CERVEJA
9 meses após megaoperação, 78 pessoas de várias empresas e Estados são denunciadas por procuradores; cervejaria não comenta
Justiça recebe denúncia contra donos da Schin
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O comando do Grupo Schincariol, dono da Nova Schin, foi denunciado ontem à Justiça pelo
Ministério Público Federal de Itaboraí (RJ) pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa
e passiva e falsificação de documentos. No total, foram denunciadas 78 pessoas ligadas à cervejaria, aos distribuidores e aos fornecedores do grupo, além de fiscais da Receita Federal e donos de
empresas "fantasmas". Adriano
Schincariol, diretor superintendente da empresa, Gilberto Schincariol, vice-presidente, e Alexandre Schincariol, irmão de Adriano, estão na lista, apurou a Folha.
Walter Faria, atual presidente
do grupo Petrópolis (dona das
marcas Itaipava e Cristal) e ex-diretor da Schincariol, também foi
denunciado, apurou a Folha.
Duas grandes distribuidoras de
bebidas fazem parte desse grupo.
A Schincariol informou ontem,
por meio de um comunicado oficial, "que só irá se pronunciar publicamente quando tiver acesso
aos laudos da denúncia apresentada pelo Ministério Público".
Não foi oferecida denúncia pelo
crime de sonegação fiscal até o
momento. Mesmo que todos os
envolvidos estejam sendo denunciados por crimes ligados a fraudes fiscais, a Receita ainda não
terminou o levantamento que determinará o tamanho do rombo
no Fisco.
"O crime de sonegação fiscal
não foi incluído em virtude da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que exige o término
do procedimento administrativo
fiscal, o qual ainda está em curso",
esclareceu em comunicado ontem o procurador da República
Leonardo de Carvalho.
Agora, a Justiça Federal decidirá
se acata ou não a denúncia. Se o fizer, iniciará novos interrogatórios. Ao final do processo, se o Judiciário entender que houve crime, e recursos das partes não forem aceitos, os responsáveis podem ser presos. A Schin é a segunda maior cervejaria do país em
participação de mercado (12,7%).
Há mais denunciados na lista do
MP do que o número total de envolvidos inicialmente na chamada Operação Cevada. Segundo a
Folha apurou, há executivos que
têm o seu nome na lista de denunciados e que não foram presos na
operação. Ela ocorreu no dia 15 de
junho de 2005, nove meses atrás, e
envolveu 180 funcionários da Receita, mais de 600 policiais e levou
70 pessoas à prisão temporária,
incluindo os donos da Schin.
Com os dados obtidos na ação, o
MP apresentou a denúncia.
Segundo cálculos da época da
Receita, o grupo de 70 envolvidos
teria sonegado ao menos R$ 1 bilhão nos últimos cinco anos em
tributos federais, como Imposto
de Renda e IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados) e o
ICMS (Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços)
O processo corre em segredo de
Justiça, mas foi confirmado ontem que, entre os denunciados, há
diretores de fornecedoras de malte para a Schin, fiscais da Receita
Estadual de quatro Estados (RN,
AL, GO, RJ) e donos de empresas
de dois Estados (AL e RN).
Falcatruas no Fisco
O esquema, segundo o MP, funciona de três maneiras. No primeiro, as distribuidoras de bebidas da empresa se "acertavam"
para concentrar os negócios só
naquelas distribuidoras que tinham liminares da Justiça que garantiam redução em impostos pagos. Com isso, uma distribuidora
que tinha esse direito operava para outras do ramo, usando o benefício, e depois repassava a mercadoria para a "parceira".
No segundo esquema, a distribuidora de bebidas da Schin declarava à Receita que vendia menos do que, na prática, comercializava de produtos da empresa.
Com isso, ela "economizava" em
impostos, pagando menos. A diferença, ela remetia à Schin, em
dinheiro.
No último esquema armado,
sempre de acordo com o MP, a
fornecedora de insumo (malte,
por exemplo) da empresa vendia
matéria-prima para a Schin e para
empresas fantasmas criadas por
ela em Estados do Nordeste. O laranja da distribuidora no Nordeste ficava responsável pelo pagamento do imposto, mas ele nunca
pagava -simplesmente porque
há casos que ele não existia. Além
disso, no final das contas, o volume total de insumo vendido ia para a Schin mesmo. Parte das empresas fantasmas eram escritórios
abandonados, visitados pela PF.
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