São Paulo, terça-feira, 17 de março de 2009

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Meirelles vê o crédito quase normalizado; Setubal diz a Lula que conte com os bancos

DE NOVA YORK

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem que tanto as linhas externas de financiamento para a rolagem de dívidas de empresas quanto as destinadas ao comércio exterior estão se normalizando no Brasil.
Segundo Meirelles, passada a fase mais aguda da crise, o nível de rolagem das dívidas de empresas passou de 20% em outubro para 70% hoje. Já o financiamento à exportação em fevereiro teria atingido 95% das necessidades.
Em seminário sobre o Brasil em Nova York, Meirelles disse que todas as intervenções já realizadas pelo BC para fornecer liquidez e suprir a necessidade de dólares no mercado teriam custado US$ 26 bilhões.
Desse total, apenas US$ 14 bilhões afetaram as reservas internacionais (o resto será devolvido por bancos que tomaram empréstimos ou referem-se a operações que não acarretam desembolso de dólares).
As reservas internacionais do país, que eram de US$ 205 bilhões em setembro, estariam hoje em cerca de US$ 200 bilhões -já que, apesar dos gastos efetivos, houve valorização das reservas no período.
Meirelles afirmou que o principal aspecto positivo do Brasil nesta crise é que o mercado interno segue como principal carro-chefe do crescimento. "Não precisamos criar demanda interna para substituir a queda das exportações."
As exportações brasileiras equivalem a apenas 14% do PIB. China e Alemanha (exportações de 40% do PIB), por exemplo, são muito mais dependentes do mercado externo para manter suas economias aquecidas.
No mesmo encontro, o ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que o Brasil ainda tem "bala na agulha" para enfrentar a crise. "Ao contrário de outros países, que já usaram quase todos os seus instrumentos."
Mantega citou especificamente "as reservas em reais" e os "juros ainda elevados".
As reservas em reais são o compulsório que os bancos têm de recolher no BC. Desde o início da crise, cerca de R$ 100 bilhões foram liberados para injetar liquidez no mercado. Há outros R$ 160 bilhões que ainda podem ser usados.
No caso dos juros, o Brasil ainda tem uma das maiores taxas do mundo, de 11,25% ao ano. Ela pode ser reduzida tanto para baratear o custo do dinheiro na economia quanto para abrir mais espaço para gastos em investimentos públicos (já que, com juros menores, o governo pagaria menos sobre seu endividamento).
Roberto Setubal, presidente do Itau Unibanco, afirmou que um fator "muito ruim" do passado da economia brasileira, "a alta volatilidade", exigiu que empresários e banqueiros se adaptassem para sobreviver.
Dirigindo-se a Lula, Setubal afirmou: "O presidente pode contar com os bancos no Brasil. Eles são parte da solução. Não do problema".
Para o chairman do Citigroup, William Rhodes, "o Brasil é um dos países mais bem preparados na América Latina e ao redor do mundo para enfrentar a atual crise". (FCZ e AM)


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