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Crise convulsiona classe média no bloco europeu
Segmento social é a principal vítima da recessão econômica em quase todos os países
Inquietação política pode se agravar, caso programas de
estímulo não sejam vistos como favoráveis ao cidadão comum, diz diretor da OIT
JOHN THORNHILL
DO "FINANCIAL TIMES"
A economia está causando
convulsões políticas na Europa.
Na Islândia e na Letônia, os governos caíram; greves ou protestos irromperam na Grécia,
na Irlanda, na França, na Alemanha, no Reino Unido, na
Ucrânia e na Bulgária. Os tumultos financeiros abalaram
até mesmo os baluartes mais
distantes do continente: a ilha
francesa de Guadalupe, no Caribe, sofreu greves violentas,
enquanto a Rússia teve de enviar policiais de avião para a
distante e gélida Vladivostok, a
fim de conter protestos de rua.
O surto de inquietação não
era esperado no continente.
Muitos europeus imaginavam
que seriam poupados dos piores efeitos de um desastre gerado nos subúrbios dos EUA.
Mas
a crise se espalhou. Na semana
passada, os ministros das Finanças da União Europeia revisaram para baixo projeções já
desanimadoras para o PIB do
bloco e estimaram que a recessão vá perdurar até 2010.
À medida que os governos fazem ações muitas vezes impopulares para salvar suas economias, cresce a raiva, como resultado do desemprego cada
vez mais alto, das restrições aos
aumentos de salários, dos resgates aos bancos devastados e
das quedas nos valores das residências e dos fundos de pensão.
Juan Somavia, diretor-geral
da OIT (Organização Internacional do Trabalho), diz que a
inquietação social pode se agravar caso os planos de estímulo
não sejam vistos como benéficos aos cidadãos comuns, alegando que "há uma sensação de
que banqueiros recebem bilhões, e o povo, trocados".
Por enquanto, é impossível
prever os efeitos políticos do
terremoto econômico em curso.
A esquerda deveria ser a beneficiária natural. Porém, líderes sindicais recordam, em tom
pressago, que foi a extrema direita, e não a esquerda moderada, que ganhou o poder em boa
parte da Europa nos anos 30,
na última catástrofe capitalista.
Observadores como o sociólogo francês Emmanuel Todd
preveem o fim da democracia,
ou ao menos sua erosão significativa, com os líderes da direita
populista, como o premiê italiano, Silvio Berlusconi, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, tornando-se mais demagógicos e autoritários. Outros
preveem uma reversão ao nacionalismo e ao protecionismo.
Maior vítima
Países diferentes estão respondendo de formas diferentes
à crise. Mas um traço comum a
quase todos é que a classe média é a principal vítima da recessão. Mesmo antes da crise,
sociólogos falavam sobre o surgimento de "sociedades-ampulheta" na Europa -a globalização afastando mais e mais vencedores de perdedores.
"A classe média está encolhendo agora, ao menos na Alemanha. Essa é uma situação
completamente nova para o
país", afirma Stefan Hradil, sociólogo alemão. A análise também vale para o Reino Unido,
onde a mídia destacou os problemas da "classe calada", formada por profissionais antes
seguros de si que agora enfrentam dificuldades financeiras.
O momento político mais explosivo talvez surja quando os
europeus tiverem de pagar a
conta pelos pacotes de resgate
atuais. Os governos só conseguirão reequilibrar as finanças
públicas caso cortem os gastos
e aumentem os impostos sobre
a classe média já sufocada.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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