São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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Após 3 anos, BC eleva juro em meio ponto

Boa parte do mercado esperava alta de 0,25 ponto; empresários e sindicatos vêem ameaça ao ritmo de crescimento

Banco diz que aumento mais forte da Selic agora pode "reduzir a magnitude do ajuste total a ser implementado"

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central elevou, por unanimidade, os juros básicos da economia em 0,5 ponto percentual, fixando a taxa Selic em 11,75% ao ano, a maior taxa real de juros do mundo. A medida gerou fortes protestos da indústria, do comércio e dos sindicatos, que vêem ameaça aos investimentos e ao crescimento do país.
O BC buscou sinalizar que não pretende fazer muitos aumentos adicionais de agora em diante. A medida contraria a expectativa de boa parte dos analistas de mercado, que apostava em alta de 0,25 ponto.
"A decisão de realizar, de imediato, parte relevante do movimento da taxa básica de juros irá contribuir para a diminuição tempestiva do risco que se configura para o cenário inflacionário e, como conseqüência, para reduzir a magnitude do ajuste total a ser implementado", informou nota divulgada após a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).
A expectativa era de que a alta de ontem não seria isolada e se repetiria nos próximos meses. A dúvida está na duração desse ciclo de alta. Contratos negociados da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) embutem a expectativa de que os juros estejam perto de 12,5% ao ano no início de 2009.
A última alta da Selic havia ocorrido em maio de 2005, quando, no final de um conjunto de elevações que durou nove meses, a Selic chegou a 19,75%.
Desde janeiro, o BC dá sinais de que elevaria a Selic. A principal preocupação era com o ritmo de crescimento da economia: uma expansão cada vez mais forte poderia abrir espaço para reajustes nos preços caso as empresas não conseguissem produzir o suficiente para atender a todo o aumento no consumo observado recentemente.
Nas últimas semanas, porém, intensificou-se a pressão de setores do governo para que o BC pelo menos adiasse o aumento dos juros até notar uma ameaça mais clara ao cumprimento das metas de inflação. Desde 2005, o objetivo do BC é manter o IPCA em 4,5%, com uma margem de erro que, neste ano, é de dois pontos para cima ou para baixo.
Nas contas do próprio BC, a inflação deste ano deve ficar em 4,7%. Quem defende o aumento dos juros diz, entre outros argumentos, que, apesar de a projeção ainda estar próxima da meta, a tendência é de alta.
Além disso, a inflação corrente já estaria dando sinais de aceleração. A alta de 0,48% do IPCA do mês passado, por exemplo, ficou acima do 0,40% esperado pela média dos analistas e levou o resultado acumulado em 12 meses a 4,73%.
Os favoráveis à manutenção da taxa diziam, entre outros argumentos, que a possibilidade de um descontrole da inflação ainda é baixa e não justifica o efeito negativo que um aperto nos juros tem sobre o crescimento.
Para tentar evitar a alta dos juros, o Ministério da Fazenda, que não gostou e se surpreendeu com a decisão do BC, chegou a sugerir medidas alternativas para conter a recuperação da atividade, como restrições à concessão de crédito.
Cortes nos gastos públicos também foram discutidos pela equipe econômica, já que as despesas do governo também ajudam a impulsionar a economia. Nenhuma das medidas chegou a ser implantada.
Na última segunda-feira, foi divulgada uma nota preparada por pesquisadores do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que dizia que um aumento nos juros iria "reduzir drasticamente a sustentabilidade do atual ciclo de crescimento".


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