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Após 3 anos, BC eleva juro em meio ponto
Boa parte do mercado esperava alta de 0,25 ponto; empresários e sindicatos vêem ameaça ao ritmo de crescimento
Banco diz que aumento mais forte da Selic agora pode "reduzir a magnitude do ajuste total a ser implementado"
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central elevou, por
unanimidade, os juros básicos da
economia em 0,5 ponto percentual, fixando a taxa Selic em
11,75% ao ano, a maior taxa real
de juros do mundo. A medida gerou fortes protestos da indústria,
do comércio e dos sindicatos, que
vêem ameaça aos investimentos
e ao crescimento do país.
O BC buscou sinalizar que
não pretende fazer muitos aumentos adicionais de agora em
diante. A medida contraria a
expectativa de boa parte dos
analistas de mercado, que
apostava em alta de 0,25 ponto.
"A decisão de realizar, de
imediato, parte relevante do
movimento da taxa básica de
juros irá contribuir para a diminuição tempestiva do risco que
se configura para o cenário inflacionário e, como conseqüência, para reduzir a magnitude
do ajuste total a ser implementado", informou nota divulgada
após a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).
A expectativa era de que a alta de ontem não seria isolada e
se repetiria nos próximos meses. A dúvida está na duração
desse ciclo de alta. Contratos
negociados da BM&F (Bolsa de
Mercadorias & Futuros) embutem a expectativa de que os juros estejam perto de 12,5% ao
ano no início de 2009.
A última alta da Selic havia
ocorrido em maio de 2005,
quando, no final de um conjunto de elevações que durou nove
meses, a Selic chegou a 19,75%.
Desde janeiro, o BC dá sinais
de que elevaria a Selic. A principal preocupação era com o ritmo de crescimento da economia: uma expansão cada vez
mais forte poderia abrir espaço
para reajustes nos preços caso
as empresas não conseguissem
produzir o suficiente para atender a todo o aumento no consumo observado recentemente.
Nas últimas semanas, porém,
intensificou-se a pressão de setores do governo para que o BC
pelo menos adiasse o aumento
dos juros até notar uma ameaça
mais clara ao cumprimento das
metas de inflação. Desde 2005,
o objetivo do BC é manter o IPCA em 4,5%, com uma margem
de erro que, neste ano, é de dois
pontos para cima ou para baixo.
Nas contas do próprio BC, a
inflação deste ano deve ficar em
4,7%. Quem defende o aumento
dos juros diz, entre outros argumentos, que, apesar de a projeção ainda estar próxima da meta, a tendência é de alta.
Além disso, a inflação corrente já estaria dando sinais de
aceleração. A alta de 0,48% do
IPCA do mês passado, por
exemplo, ficou acima do 0,40%
esperado pela média dos analistas e levou o resultado acumulado em 12 meses a 4,73%.
Os favoráveis à manutenção
da taxa diziam, entre outros argumentos, que a possibilidade de
um descontrole da inflação ainda é baixa e não justifica o efeito
negativo que um aperto nos juros tem sobre o crescimento.
Para tentar evitar a alta dos
juros, o Ministério da Fazenda,
que não gostou e se surpreendeu com a decisão do BC, chegou a sugerir medidas alternativas para conter a recuperação
da atividade, como restrições à
concessão de crédito.
Cortes nos gastos públicos
também foram discutidos pela
equipe econômica, já que as
despesas do governo também
ajudam a impulsionar a economia. Nenhuma das medidas
chegou a ser implantada.
Na última segunda-feira, foi divulgada uma nota preparada por
pesquisadores do Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada) que dizia que um aumento
nos juros iria "reduzir drasticamente a sustentabilidade do
atual ciclo de crescimento".
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