São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

Um novo ciclo de aumento de juros?


Não há motivo para afobação, um novo ciclo de alta dos juros colocaria em risco o crescimento da economia

O COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central) surpreendeu ontem, ao aumentar a meta para a taxa básica de juro em 0,5 ponto percentual.
Como entender essa decisão? Trata-se de um ajuste isolado? Ou do início de um novo ciclo de elevação dos juros?
O mercado parece convencido (docemente convencido) da segunda hipótese. O relatório Focus, divulgado periodicamente pelo Banco Central, indica que a expectativa mediana do mercado para a taxa Selic no final de 2008 subiu para 12,75% (relatório da sexta-feira passada).
Tem cabimento? Bem, os argumentos em favor de uma elevação dos juros são conhecidos. A demanda interna está, de fato, crescendo a taxas elevadas, o que pode contribuir para pressionar a inflação. A taxa de inflação em 12 meses (IPCA) alcançou 4,7% em março, superando ligeiramente a meta oficial de 4,5%. As expectativas de inflação também superaram a meta, com a inflação mediana esperada para 2008 chegando a 4,7%, segundo o mesmo relatório Focus.
É preciso, porém, colocar essas informações em perspectiva. O aumento da inflação é um fenômeno que vem ocorrendo em escala mundial e que está associado, principalmente, à alta de preços de alimentos e energia. Nos EUA, por exemplo, a inflação no varejo, acumulada em 12 meses, subiu de 2,4% para 4% no último ano. Na área do euro, a inflação aumentou de 1,9% para 3,5%. Nos países emergentes, a aceleração foi ainda mais pronunciada nesse período.
O Brasil não escapou à tendência geral. Cerca de metade da inflação acumulada nos últimos 12 meses corresponde à elevação dos preços dos alimentos.
Mas é importante notar que a inflação brasileira sofreu aceleração menos intensa do que a observada na maioria dos emergentes. Entre as principais economias emergentes, só duas apresentam atualmente inflação inferior à brasileira -a Coréia do Sul (3,9% nos 12 meses até março) e o México (4,3% no mesmo período). Todas as demais registram taxas maiores do que a nossa. A inflação da China, por exemplo, está em 8,7%; a da Rússia, em 12,7%; a da Índia, em 5,5%; a da Turquia, em 9,2%; a da Indonésia, em 8,2%. Temos sido bastante bem comportados em termos de inflação. Nos anos recentes, a inflação brasileira ficou sempre abaixo da média dos países emergentes e em desenvolvimento -e isso acontecerá novamente em 2008. As últimas projeções do FMI, por exemplo, indicam inflação de 4,8% para o Brasil neste ano e inflação média de 7,4% para o conjunto das economias emergentes e em desenvolvimento.
Não se deve esquecer que o regime monetário brasileiro embute alguma flexibilidade. Fala-se muito da meta de 4,5%. Mas esse é o centro -e não o teto. No Brasil, o modelo de metas para a inflação inclui uma banda ou intervalo de tolerância em torno do centro da meta. Atualmente, esse intervalo é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, em relação ao valor central de 4,5%. O teto é, portanto, 6,5%. Esse intervalo não existe por acaso. A sua função é dar ao Banco Central alguma margem de manobra para acomodar choques externos e choques de oferta.
Em suma, não há motivo para afobação. Um novo ciclo de aumento dos juros colocaria em risco o crescimento da economia brasileira. E agravaria as pressões para a valorização do real, contribuindo para solapar a competitividade das exportações e estimular a substituição de produção nacional por importações.


PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. , 53, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).

pnbjr@attglobal.net


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