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Alta na Selic é apenas o começo de nova série, dizem analistas
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Efeito imediato a elevação de
juros anunciada na noite de ontem não deve ter, explicam especialistas. O que conta mesmo
é a mensagem passada para os
empresários e o mercado: o BC
não deixará a inflação fugir da
meta. Espera-se que o Copom
dê continuidade ao ciclo de aumento da Selic ao longo do ano
-até que ela fique entre 12,75%
e 13,25%- para de fato conseguir esfriar o consumo. O crescimento do país só seria afetado em 2009.
"O Brasil tem mostrado que
consegue crescer mesmo com
juro mais alto. Existem outros
fatores que limitam o seu avanço, como a infra-estrutura precária e um ambiente regulatório que gera incertezas", afirma
Rafael Guedes, diretor-executivo da Fitch Ratings no país.
"Não é função de uma agência
de classificação de risco avaliar
as medidas tomadas, mas lembro que o BC tem um histórico
de acertos."
Como fará a dívida interna do
governo se avolumar, a elevação dos juros pode atrasar um
pouco a obtenção do tão desejado grau de investimento se a
administração federal não se
preocupar em cortar e melhorar a qualidade dos seus gastos.
Mesmo assim, parte dos analistas considera correta a decisão de voltar a aumentar os juros. "Embora a inflação observada atualmente se deva bastante ao aumento de preços das
commodities, dos alimentos, os
indicadores também apontam
que a economia está aquecida.
Esse aumento dos juros já estava sendo considerado pelo
mercado financeiro no preço
dos ativos. O BC está confirmando as expectativas", diz
Rodrigo Trotta, superintendente de tesouraria do banco
Banif. A Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento) também divulgou nota
de apoio à decisão.
Já Wilson Cano, professor titular da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), é
contra. "Essa é uma medida
equivocada, estapafúrdia e desnecessária. O juro brasileiro já
é elevado, não tem sentido aumentar ainda mais. Essa alta
vai pesar na dívida pública e colocar abaixo alguns programas
sociais do governo, como o crédito imobiliário mais amplo para os pobres e a classe média,
além de aumentar as taxas de
longo prazo do BNDES [Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social]", afirma.
"Não há absolutamente nenhum sintoma de que a inflação esteja fora de controle."
Na sua opinião, a fim de conter possíveis ameaças de preços, outros passos poderiam ser
dados, como diminuir o prazo
de determinadas modalidades
de crédito ao consumidor e aumentar o depósito compulsório
dos bancos. "Precisa é acabar
com essa vergonha de parcelar
um automóvel em 80 meses,
um financiamento que excede
a durabilidade do bem."
Sérgio Vale, da consultoria
MB Associados, acha que, pelo
lado do consumo, ainda daria
para esperar um pouco mais
antes de novamente aumentar
a taxa. "A oferta também está
crescendo a um ritmo que não
permite uma explosão da demanda." Vale prevê duas elevações adicionais da Selic do mesmo tamanho em junho e julho.
"A partir de meados do ano, haverá mais informações sobre o
comportamento do consumo,
da oferta e dos investimentos,
então será possível ao BC reavaliar a situação."
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