São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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Alta na Selic é apenas o começo de nova série, dizem analistas

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Efeito imediato a elevação de juros anunciada na noite de ontem não deve ter, explicam especialistas. O que conta mesmo é a mensagem passada para os empresários e o mercado: o BC não deixará a inflação fugir da meta. Espera-se que o Copom dê continuidade ao ciclo de aumento da Selic ao longo do ano -até que ela fique entre 12,75% e 13,25%- para de fato conseguir esfriar o consumo. O crescimento do país só seria afetado em 2009.
"O Brasil tem mostrado que consegue crescer mesmo com juro mais alto. Existem outros fatores que limitam o seu avanço, como a infra-estrutura precária e um ambiente regulatório que gera incertezas", afirma Rafael Guedes, diretor-executivo da Fitch Ratings no país. "Não é função de uma agência de classificação de risco avaliar as medidas tomadas, mas lembro que o BC tem um histórico de acertos."
Como fará a dívida interna do governo se avolumar, a elevação dos juros pode atrasar um pouco a obtenção do tão desejado grau de investimento se a administração federal não se preocupar em cortar e melhorar a qualidade dos seus gastos.
Mesmo assim, parte dos analistas considera correta a decisão de voltar a aumentar os juros. "Embora a inflação observada atualmente se deva bastante ao aumento de preços das commodities, dos alimentos, os indicadores também apontam que a economia está aquecida. Esse aumento dos juros já estava sendo considerado pelo mercado financeiro no preço dos ativos. O BC está confirmando as expectativas", diz Rodrigo Trotta, superintendente de tesouraria do banco Banif. A Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento) também divulgou nota de apoio à decisão.
Já Wilson Cano, professor titular da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), é contra. "Essa é uma medida equivocada, estapafúrdia e desnecessária. O juro brasileiro já é elevado, não tem sentido aumentar ainda mais. Essa alta vai pesar na dívida pública e colocar abaixo alguns programas sociais do governo, como o crédito imobiliário mais amplo para os pobres e a classe média, além de aumentar as taxas de longo prazo do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]", afirma. "Não há absolutamente nenhum sintoma de que a inflação esteja fora de controle."
Na sua opinião, a fim de conter possíveis ameaças de preços, outros passos poderiam ser dados, como diminuir o prazo de determinadas modalidades de crédito ao consumidor e aumentar o depósito compulsório dos bancos. "Precisa é acabar com essa vergonha de parcelar um automóvel em 80 meses, um financiamento que excede a durabilidade do bem."
Sérgio Vale, da consultoria MB Associados, acha que, pelo lado do consumo, ainda daria para esperar um pouco mais antes de novamente aumentar a taxa. "A oferta também está crescendo a um ritmo que não permite uma explosão da demanda." Vale prevê duas elevações adicionais da Selic do mesmo tamanho em junho e julho. "A partir de meados do ano, haverá mais informações sobre o comportamento do consumo, da oferta e dos investimentos, então será possível ao BC reavaliar a situação."


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