|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Dólar atinge menor valor em quase 9 anos
Após sofrer depreciação de 1,19%, moeda americana fecha vendida a R$ 1,664, mais baixa cotação desde maio de 99
No ano, desvalorização já
alcança 6,36%; entrada
de capital externo no país dá sinais de alta, e juro maior
deve acelerar movimento
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em meio à espera pela elevação da taxa de juros, anunciada
apenas depois de o mercado financeiro estar fechado, o dólar
perdeu ainda mais valor diante
do real. Vendida a R$ 1,664, a
moeda americana encerrou as
operações de ontem em seu
mais baixo valor desde maio de
1999.
Apenas ontem, o dólar desvalorizou-se em 1,19% diante do
real. Neste mês, a baixa alcança
5,08%; no ano, está acumulada
em 6,36%.
O processo de aumento da taxa básica brasileira, retomado
ontem, eleva as expectativas
em relação à possibilidade de o
dólar seguir em queda. A Selic
subiu de 11,25% para 11,75%.
"Não há fundo para o dólar",
afirmou Mário Battistel, diretor de câmbio da Fair Corretora. "E não acredito que o governo anuncie nenhuma medida
para mexer com o câmbio. Afinal, o câmbio é um mecanismo
que auxilia no controle da inflação", disse Battistel.
Enquanto os juros caem com
força nos EUA, o Brasil voltou a
subir sua taxa. Essa conjunção
eleva a atratividade do país para o capital externo. Muitos investidores internacionais captam recursos no exterior a baixo custo e os aplica no Brasil
(onde o juro alto garante alta
remuneração). Isso eleva a
oferta de dólares no país, derrubando sua cotação.
De sua parte, o Banco Central tem se limitado a realizar
leilões, praticamente todos os
dias, para comprar dólares das
instituições financeiras. Mas
essa forma de ação tem se mostrado tímida para evitar a apreciação da moeda nacional, que
encarece as exportações.
Além do real, o dólar tem se
depreciado diante de moedas
de outros países. Em relação ao
euro, por exemplo, tem batido
recordes de baixa nas últimas
semanas.
Segundo a agência Bloomberg, o banco Goldman Sachs
recomendou que os investidores troquem dólares da Nova
Zelândia pelo real. Na Nova Zelândia, a expectativa é que os
juros sejam reduzidos nos próximos meses. O real se valorizou diante de 14 das 16 moedas
mais negociadas do mundo no
último mês, disse a Bloomberg.
Entrada de capital
A continuidade na entrada de
capital externo no Brasil é outro sinalizador de que o real
tende a seguir se apreciando.
Dados apurados pelo Banco
Central mostraram que pelo
segundo mês seguido o fluxo de
dólares para o país deu sinais de
alta. Nas duas primeiras semanas de abril, o ingresso líquido
de recursos estrangeiros no
país ficou em US$ 5,435 bilhões, superando os US$ 4,362
bilhões observados no mesmo
período de 2007.
Neste ano, porém, a entrada
de divisas continua abaixo dos
valores do ano passado. O saldo
parcial fechado na semana passada indicava o ingresso de US$
14,374 bilhões, contra US$
21,756 bilhões em igual período
do ano passado.
A principal fonte de dólares
do Brasil, neste mês, continua
sendo a balança comercial. Nas
primeiras duas semanas de
abril, os exportadores trouxeram US$ 7,709 bilhões ao país,
enquanto as remessas feitas
por importadores somaram
US$ 3,989 bilhões.
Os números não coincidem
com as estatísticas da balança
comercial divulgadas pelo Ministério do Desenvolvimento
por causa da diferença de critérios: o BC considera nos seus
cálculos o momento em que os
dólares referentes a exportações e importações entram ou
saem do país, enquanto o ministério faz sua medição de
acordo com o embarque e desembarque das mercadorias.
Além das operações de comércio exterior, também ajudaram a manter o fluxo cambial
no azul as chamadas transações
financeiras, que incluem, entre
outras, a entrada de investimentos estrangeiros, os pagamentos da dívida externa e as
remessas de lucros ao exterior.
Nesse caso, os dólares que entraram no país neste mês superaram os que saíram em US$
1,714 bilhão.
A entrada de capital externo
no país permitiu ao BC continuar com sua política de compras de dólares. No mês, as
aquisições já somam cerca de
US$ 1,4 bilhão, elevando o saldo
acumulado no ano para aproximadamente US$ 8 bilhões. Esse dinheiro serve para reforçar
as reservas em moeda estrangeira do país, que anteontem
estavam em US$ 196 bilhões.
Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: A "conta petróleo", versão 2008 Próximo Texto: Juros maiores elevam atratividade de fundos Índice
|