São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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Dólar atinge menor valor em quase 9 anos

Após sofrer depreciação de 1,19%, moeda americana fecha vendida a R$ 1,664, mais baixa cotação desde maio de 99

No ano, desvalorização já alcança 6,36%; entrada de capital externo no país dá sinais de alta, e juro maior deve acelerar movimento

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em meio à espera pela elevação da taxa de juros, anunciada apenas depois de o mercado financeiro estar fechado, o dólar perdeu ainda mais valor diante do real. Vendida a R$ 1,664, a moeda americana encerrou as operações de ontem em seu mais baixo valor desde maio de 1999.
Apenas ontem, o dólar desvalorizou-se em 1,19% diante do real. Neste mês, a baixa alcança 5,08%; no ano, está acumulada em 6,36%.
O processo de aumento da taxa básica brasileira, retomado ontem, eleva as expectativas em relação à possibilidade de o dólar seguir em queda. A Selic subiu de 11,25% para 11,75%.
"Não há fundo para o dólar", afirmou Mário Battistel, diretor de câmbio da Fair Corretora. "E não acredito que o governo anuncie nenhuma medida para mexer com o câmbio. Afinal, o câmbio é um mecanismo que auxilia no controle da inflação", disse Battistel.
Enquanto os juros caem com força nos EUA, o Brasil voltou a subir sua taxa. Essa conjunção eleva a atratividade do país para o capital externo. Muitos investidores internacionais captam recursos no exterior a baixo custo e os aplica no Brasil (onde o juro alto garante alta remuneração). Isso eleva a oferta de dólares no país, derrubando sua cotação.
De sua parte, o Banco Central tem se limitado a realizar leilões, praticamente todos os dias, para comprar dólares das instituições financeiras. Mas essa forma de ação tem se mostrado tímida para evitar a apreciação da moeda nacional, que encarece as exportações.
Além do real, o dólar tem se depreciado diante de moedas de outros países. Em relação ao euro, por exemplo, tem batido recordes de baixa nas últimas semanas.
Segundo a agência Bloomberg, o banco Goldman Sachs recomendou que os investidores troquem dólares da Nova Zelândia pelo real. Na Nova Zelândia, a expectativa é que os juros sejam reduzidos nos próximos meses. O real se valorizou diante de 14 das 16 moedas mais negociadas do mundo no último mês, disse a Bloomberg.

Entrada de capital
A continuidade na entrada de capital externo no Brasil é outro sinalizador de que o real tende a seguir se apreciando.
Dados apurados pelo Banco Central mostraram que pelo segundo mês seguido o fluxo de dólares para o país deu sinais de alta. Nas duas primeiras semanas de abril, o ingresso líquido de recursos estrangeiros no país ficou em US$ 5,435 bilhões, superando os US$ 4,362 bilhões observados no mesmo período de 2007.
Neste ano, porém, a entrada de divisas continua abaixo dos valores do ano passado. O saldo parcial fechado na semana passada indicava o ingresso de US$ 14,374 bilhões, contra US$ 21,756 bilhões em igual período do ano passado.
A principal fonte de dólares do Brasil, neste mês, continua sendo a balança comercial. Nas primeiras duas semanas de abril, os exportadores trouxeram US$ 7,709 bilhões ao país, enquanto as remessas feitas por importadores somaram US$ 3,989 bilhões.
Os números não coincidem com as estatísticas da balança comercial divulgadas pelo Ministério do Desenvolvimento por causa da diferença de critérios: o BC considera nos seus cálculos o momento em que os dólares referentes a exportações e importações entram ou saem do país, enquanto o ministério faz sua medição de acordo com o embarque e desembarque das mercadorias.
Além das operações de comércio exterior, também ajudaram a manter o fluxo cambial no azul as chamadas transações financeiras, que incluem, entre outras, a entrada de investimentos estrangeiros, os pagamentos da dívida externa e as remessas de lucros ao exterior. Nesse caso, os dólares que entraram no país neste mês superaram os que saíram em US$ 1,714 bilhão.
A entrada de capital externo no país permitiu ao BC continuar com sua política de compras de dólares. No mês, as aquisições já somam cerca de US$ 1,4 bilhão, elevando o saldo acumulado no ano para aproximadamente US$ 8 bilhões. Esse dinheiro serve para reforçar as reservas em moeda estrangeira do país, que anteontem estavam em US$ 196 bilhões.


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