São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2008

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Greve reduz produção de autopeça

Paralisação dos auditores da Receita obriga fabricantes a suspender produção em algumas linhas

Indústrias começam a exportar por via aérea, com custo 20% maior, e Anfavea já vê risco de o Brasil perder mercado externo


CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A greve dos auditores da Receita Federal começa a interferir na produção do setor automotivo. Os primeiros a sentir os efeitos da greve foram os fabricantes de autopeças, que dependem de componentes importados em sua produção.
"Há multinacionais de grande porte com algumas de suas linhas paradas e outras indústrias na iminência de parar", disse Paulo Butori, presidente do Sindipeças (Sindicato da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), sem dizer o nome dessas empresas. "Nossa estimativa de crescimento para este ano poderá não acontecer se a situação perdurar por muito tempo."
Nas montadoras, o cenário também preocupa. Jackson Schneider, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), disse ontem que a greve coloca em risco não só as linhas de produção no Brasil como as do exterior, que dependem de peças brasileiras.
"A greve prejudica tanto a importação quanto a exportação", afirma Schneider. "Esses mercados não vão ficar nos esperando: vão buscar recursos em outros lugares e trocar a produção brasileira."

Biela no avião
Para evitar esse cenário, alguns fabricantes de autopeças estão exportando por via aérea em vez da marítima. Apesar de garantir as exportações em situação de emergência, os custos da indústria com esse de transporte aumentam em 20%. "Isso quando se consegue encontrar vôos disponíveis, porque todas as áreas, não apenas as autopeças, estão recorrendo a esse serviço", diz Butori.
Segundo ele, a greve é um golpe a mais na competitividade do setor, que sofre com a majoração de 38,7% do real frente ao dólar e de 33,67% nos salários nos últimos quatro anos. "Perdemos competitividade, e esse tipo de situação prejudica ainda mais o cenário e afasta investimentos de forma brutal", diz Butori.
Para tentar encontrar uma solução para o problema, Schneider e Antônio Meduna, vice-presidente do Sindipeças, reuniram-se ontem com o ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). "Há pelo menos cinco anos os fiscais da Receita fazem greves, todos os anos", diz Butori. "Não defendemos nenhum dos lados, mas é preciso encontrar uma solução de longo prazo para o problema."
Ontem, o Sindipeças divulgou o balanço do setor referente ao primeiro trimestre de 2008. Pela primeira vez nos últimos meses, o crescimento percentual caiu, em relação ao mesmo período do ano passado. Isso porque as vendas do início de 2007 estavam fracas e, a partir de março, as bases de comparação são maiores.
No trimestre, as vendas de autopeças cresceram 12,7% comparadas ao mesmo período do ano anterior. No primeiro bimestre de 2008, a alta tinha sido de 18,1%.
A expectativa de vendas, para 2008, é alcançar US$ 44 bilhões em faturamento, com crescimento de 22,7% sobre o ano passado. Já em reais, a estimativa é de crescimento de 9,6%, atingindo R$ 76,7 bilhões.
Os investimentos deverão aumentar em 18,5%, alcançando o R$ 1,6 bilhão e o déficit da balança deve crescer 15%.


Com a Folha Online, de Brasília


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