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OPINIÃO ECONÔMICA
Pausa no ciclo do Diabo
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
O mercado financeiro está
bem mais calmo no momento em que escrevo esta coluna. Depois de dias turbulentos e de muita especulação, os principais ativos brasileiros encontraram uma
nova situação de equilíbrio. O
chamado risco Brasil recuou quase cem pontos, a cotação do dólar
está abaixo de R$ 2,50, os juros futuros apresentam também uma
queda importante e a Bovespa
valorizou-se. A divulgação de várias pesquisas sobre intenções de
voto dos eleitores, realizadas após
o programa de Lula na TV, mostrou a fotografia esperada pelos
analistas mais sábios e temida pelos mercados. Lula disparado na
frente, quase vencedor no primeiro turno, e o candidato do governo com dificuldades para consolidar-se no segundo lugar.
Por que então a calmaria dos
mercados? -devem se perguntar
os leitores. Pela simples razão de
que, quando se trata de especulação, vale a máxima "compre no
boato e venda antes do fato". Foi
por isso que a reversão dos mercados veio na terça-feira pela manhã, antes da confirmação dos resultados das pesquisas. Os especuladores mais experientes sabiam
de antemão que os resultados seriam confirmados no início da
noite, pela simples razão de que
todos eles são competentes e têm a
assessorá-los pessoas do ramo.
Entraremos agora, depois que o
mercado precificou a vitória de
Lula com 50% de chance de ocorrer, em um período mais calmo. O
candidato do PT chegou ao ponto
máximo de sua força por causa
das mágicas de Duda Mendonça
e deve passar, nos próximos dois
meses, por um deserto árido e difícil até o início oficial da campanha eleitoral. Seus opositores,
principalmente o senador José
Serra, vão ter tempo para fortalecer suas posições e chegar ao início da campanha na TV com um
pouco mais de força. Mas esses
tempos mais calmos têm data certa para terminar. Em setembro,
dependendo de novas aferições do
ânimo do eleitor, tudo pode começar de novo na medida em que
existe ainda muito espaço para
queda nos preços dos ativos brasileiros.
Os próximos 60 dias serão cruciais para o Brasil. Caberá ao PT,
nesse curto espaço de tempo, a
responsabilidade de mostrar que
tem capacidade para assumir a
administração da economia sem
criar uma bola de neve que pode
atingir todos nós. Falo isso com a
tranquilidade de quem pensa ser
fundamental para nossa democracia a alternância de poder.
Não tenho, a priori, nenhuma
restrição a Lula presidente. Até
porque, como já afirmei nesta coluna, sou um pouco PT. Mas tenho muito medo da gestão petista
de nossa economia no ano de
2003. Muito embora tenha havido um claro amadurecimento do
partido nos últimos anos, o grau
de fragilidade da equipe que deverá formar o núcleo de comando
da política econômica de um
eventual governo Lula é muito
grande. O que sabemos hoje é que
o diagnóstico, que eles têm da situação e dos problemas de nossa
economia, melhorou muito. As
bravatas revolucionárias e socialistas foram abandonadas, e a
economia de mercado aceita como o caminho escolhido pela
grande maioria dos brasileiros.
Em recente debate com um de
seus principais elementos, o economista Guido Mantega, fiquei
espantado com a convergência
entre seus pensamentos e os do
grupo chamado de "desenvolvimentista". Mas essa etapa do
diagnóstico é a parte mais fácil na
definição de uma política econômica de um governo com a carga
negativa que terá o de Lula. Os
verdadeiros problemas estão na
definição de políticas específicas
para lidar com os desafios diagnosticados. Principalmente em
um ambiente econômico muito
hostil que eles encontrarão. Cotação do dólar nas alturas, risco
Brasil a mais de 1.200 pontos inviabilizando a captação de recursos externos, queda de nossas reservas internacionais e inflação
em alta são alguns dos pontos da
realidade do primeiro ano do governo Lula. A equipe econômica
do PT vai descobrir, tarde demais,
penso eu, que os desafios que ela
pensava encontrar para retomar
o crescimento de nossa economia
serão muito maiores e mais graves.
Vai perceber, então, que a técnica de Duda Mendonça para cativar os eleitores não tem a menor
eficácia quando se enfrenta os pesos pesados dos mercados financeiros internacionais e seus representantes no Brasil. Por isso aconselho, como brasileiro, os seguidores de Lula usarem os próximos
60 dias para detalharem de maneira muito clara os compromissos macroeconômicos do novo governo e submetê-los a um debate
público sério. Sem a interferência
de Duda Mendonça e sua equipe
de encantadores de corações.
Aconselho também a trabalharem um programa de ação para
2003 que leve em consideração esse período difícil e duro de transição entre uma equipe econômica
amada pelos mercados -embora
detestada por boa parte dos brasileiros- e um novo ministério que
vai assumir sob enorme má vontade de agentes econômicos importantes. Nesse trabalho têm de
estar contempladas as ações para
enfrentar a elevação da inflação
por causa da disparada do dólar,
a perda importante de reservas
por causa das dificuldades em rolar nossa dívida externa e, de forma mais geral, uma piora importante na situação já pouco confortável da dívida pública. Se isso
não for feito com cuidado e competência, estaremos todos em situação muito difícil.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 59,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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