São Paulo, segunda-feira, 17 de maio de 2004

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VIZINHO NO ESCURO

Governo diz que crise na energia reduzirá expansão do país a 5,5% neste ano, ante projeção anterior de até 7%

Apagão deve afetar crescimento da Argentina

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

A indústria argentina já começou a sentir o golpe da crise de energia. Neste mês, empresas anunciaram demissões, cortaram a produção e adiaram planos de investimento. O governo admitiu, pela primeira vez, que a crise vai afetar o crescimento do país neste ano.
No fim de semana, o ministro da Economia, Roberto Lavagna, disse que a falta de energia vai reduzir o crescimento da Argentina para cerca de 5,5% neste ano. Antes, as projeções eram que a expansão do PIB (Produto Interno Bruto) ficaria entre 6% e 7% em 2004. No ano passado, a Argentina cresceu 8,7%. Para Lavagna, a crise é de curto prazo e não deve estender-se até 2005.
Nesta semana, o Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina divulga o índice mensal de desempenho da indústria argentina, mas já vazou na imprensa local que o resultado de abril deverá ser o estancamento da produção pela primeira vez desde maio de 2003.
Mesmo antes da crise, a maior parte das indústrias argentinas já estava batendo no teto da capacidade de produção. De acordo com a consultoria Data Risk, essas indústrias foram as principais responsáveis pelo aumento de 77% nas importações do país no primeiro trimestre.

Piora
A crise de energia piorou o quadro. A falta de gás nos engenhos de açúcar ameaça os empregos de 100 mil trabalhadores, segundo a Federação Econômica de Tucumán. A indústria alimentícia La Colina, de Córdoba, suspendeu 300 trabalhadores. A indústria de azulejos Fanelli, em La Plata, teve que congelar os planos de expansão previstos para este ano, disse Cláudio Moretto, um dos proprietários, ao jornal "Clarín".
A UIA (União Industrial Argentina) apresentou um estudo no início do mês passado ao Ministério do Planejamento da Argentina, feito pela consultoria Freyre e Associados, que prevê prejuízo de US$ 3,3 bilhões ao país.
Deflagrada pouco antes de o presidente Néstor Kirchner completar um ano no cargo, a crise de energia pegou o governo com a popularidade em alta. O resultado da última pesquisa feita pela consultoria Ipsos-Mora e Araújo para o jornal "La Nación", divulgada ontem, mostra que Kirchner ainda conta com índice de aprovação de 73%.
Kirchner está se esforçando para não aumentar as tarifas públicas. Ele chegou a fazer um acordo na semana passada com a francesa Águas Argentinas para congelar as tarifas de água até o fim do ano. Em troca, aceitou perdoar uma dívida da empresa de 1,3 milhão de pesos.
A estratégia para enfrentar a crise de energia no curto prazo sem atingir a população e com o menor prejuízo possível à indústria baseia-se no plano de "prêmios" e "castigos" para quem não economizar energia e no aumento do preço do gás combustível para baixar a demanda do 1,3 milhão de automóveis que funcionam a gás no país.
Para evitar que o aumento de 36% no preço do gás na boca do poço atingisse a população de baixa renda, Kirchner determinou que 600 pontos-de-venda de botijões de gás mantivessem os preços antigos.
Em junho, o governo começa a renegociar os contratos com as empresas privatizadas, uma exigência do FMI (Fundo Monetário Internacional). A equipe econômica já avisou que a renegociação não prevê aumento de tarifas residenciais, contrariando a demanda das empresas. No lugar de aumento de preços, o governo quer rever regras, mas ainda não está definida qual será a fórmula.


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