São Paulo, quarta-feira, 17 de maio de 2006

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CRISE NO CAMPO

Em encontro com Lula, oito Estados pedem mais ajuda para setor; Rodrigues promete novas medidas dia 25

Governadores pedem R$ 17 bi para agricultura

FERNANDO ITOKAZU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um grupo de oito governadores entregou ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma lista com 21 sugestões de medidas para enfrentar a crise da agricultura. O custo total dos pedidos chega a R$ 17 bilhões, mas dificilmente o governo atenderá a todas as reivindicações.
O ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) disse que um grupo interministerial (Agricultura, Fazenda, Planejamento e Casa Civil) foi criado pelo governo e que no próximo dia 25 anuncia o plano de safra e medidas estruturais para o setor agrícola.
"O governo tem clara consciência de que a crise da agricultura transcende a área rural", disse Rodrigues. "Há efeito dominó antes e depois da porteira."
As alternativas propostas pelos governadores para enfrentar a crise estão divididas em três partes: emergenciais, de política agrícola e de renda e estruturais.
Entre os cinco itens das medidas emergenciais, os governadores pedem prorrogação de dívidas com três anos de carência e suspensão por 120 dias de todos os vencimentos de financiamentos e dívidas rurais.
No mês passado, o governo anunciou a primeira parte do pacote agrícola com medidas de prorrogação de financiamentos. Esta parte das medidas destinava ao setor cerca de R$ 10 bilhões.
Sobre o assunto, o ministro reconheceu pela manhã, quando participou de um seminário no Senado, que as medidas tomadas pelo governo eram "insuficientes". À tarde, após a reunião com o presidente Lula, disse que a questão pode voltar a ser estudada após o anúncio do plano de safra e das medidas estruturais.
A parte do documento entregue a Lula sobre política agrícola e de renda lista 11 pontos e pede, entre outras coisas, recursos para o cumprimento da PGPM (Política de Garantia de Preços Mínimos) e maior volume de recursos para o custeio da safra.
A primeira parte do pacote, anunciada no mês passado, destinava para a comercialização R$ 6,9 bilhões. Além disso, o governo anunciou na semana passada R$ 1 bilhão para apoiar a comercialização da soja, produto que não havia sido incluído nas medidas do mês passado.
O problema é que, segundo os produtores rurais, a liberação desses recursos aconteceu muito tarde. A comercialização do principal produto da balança comercial brasileira do agronegócio começa em fevereiro.
O governador Blairo Maggi (MT), principal produtor de soja do país, afirmou que a medida seria perfeita para a próxima safra, pois grande parte dos sojicultores já negociou sua produção.

Momento errado
Rodrigues reconheceu que a medida não foi anunciada no momento correto, pois ele mesmo, plantador de soja, já vendeu sua produção. Mas negou a possibilidade de o governo compensar os agricultores que não serão beneficiados com a medida, como foi pleiteado por produtores.
Os pontos apontados pelos governadores que o governo federal prometeu tratar são os estruturais. "As políticas definitivas são aquelas ligadas à questão tributária, à questão fiscal, biodiesel e seguro rural. Quando essas coisas todas forem resolvidas, nós teremos outra condição, muito mais sustentável", disse Rodrigues.
Ele havia prometido anunciar essas medidas estruturais no início do mês e disse que o atraso aconteceu porque a crise ficou mais complexa, pede soluções mais abrangentes e era necessário mais tempo. "Agora é uma decisão do presidente. Dia 25 de maio, sai tudo, espero."
Maggi, líder da caravana dos governadores, disse ter saído satisfeito da reunião. "Pela primeira vez nós ouvimos do presidente que de fato existe uma grave crise na agricultura com o ministro da Fazenda presente", disse.
Enquanto os governadores negociavam com o governo, cerca de 1.500 trabalhadores rurais ligados à Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) participavam, na Esplanada dos Ministérios, de manifestações do 12º Grito da Terra.
Entre as reivindicações listadas pela Contag estão a garantia de preços mínimos para os produtos da agricultura familiar, a renegociação de dívidas rurais e a liberação de R$ 11 bilhões para o Pronaf (Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar).


Colaborou a Folha Online

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