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Petrobras vira indutora da política industrial
Estatal atrai parceiros e fornecedores do exterior acenando com contratos de longo prazo e encomendas de até US$ 111 bi para o pré-sal
Empresa enviou missões a 9 países e conseguiu convencer grupos estrangeiros a se instalarem no Brasil, com transferência de tecnologia
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
No governo Lula, a Petrobras, empresa de economia
mista com 60% de seu capital
pulverizado no mercado, passou a ter um papel ativo como
instrumento de política industrial: a companhia adotou, recentemente, uma estratégia
mais agressiva para atrair empresas ao Brasil e enviou missões de executivos a nove países em menos de um ano.
Em suas visitas, a companhia
externou sua necessidade de
bens e serviços até 2020 e apresentou gargalos tecnológicos e
produtivos da cadeia local de
fornecedores.
As missões empresariais foram aos EUA, Canadá, Inglaterra, Alemanha, Espanha,
França, Coreia do Sul, Japão e
Rússia. O objetivo principal é
ter atendida especialmente a
demanda do pré-sal -que vai
gerar encomendas de US$ 111
bilhões em dez anos.
"Fazemos um conjunto de
ações para desenvolver a capacidade tecnológica e de produção no Brasil. Uma delas é estimular a associação entre fornecedores internacionais e brasileiros. Outra é atrair empresas
estrangeiras para que abram
plantas no Brasil", disse à Folha o presidente da Petrobras,
José Sérgio Gabrielli.
Segundo ele, centenas de
contatos já foram feitos. No caso de fornecedores diretos, a
Petrobras oferece um contrato
de encomendas de longo prazo
para atrair as empresas.
Foi o que aconteceu com a
italiana Prysmian (ex-Pirelli
Cabos), que investiu US$ 110
milhões para ampliar sua fábrica no Espírito Santo e atender à
necessidade de tubos flexíveis
para produção submarina de
petróleo e gás.
A Petrobras convenceu ainda
dois estaleiros coreanos a se associarem a grupos nacionais: o
STX comprou 51% do fluminense Promar e planeja investir numa nova unidade no Ceará. O Samsung adquiriu 10% do
Atlântico Sul (PE). Em ambos
os casos, houve transferência
de tecnologia.
Sócio do STX Brasil, Ariovaldo Rocha, presidente do Sinaval (entidade que reúne os estaleiros), diz que "a ação indutora
da Petrobras foi fundamental
para trazer os investidores estrangeiros".
Segundo ele, agora algumas
empresas fornecedoras de peças para navios já começam a se
interessar também por se instalar no país para produzir motores e outros equipamentos
hoje importados. A Folha apurou que uma delas é a japonesa
Daihatsu.
Na área de montagens de
plataformas e sondas, a estatal
negocia a vinda da SMB (Holanda), Modec (Japão) e Dragados (Espanha) -grandes companhias que não atuam ou têm
presença tímida no país.
Para o diretor-geral da Onip
(Organização Nacional da Indústria do Petróleo, que reúne
fornecedores brasileiros), Eloi
Fernández y Fernández, a ação
da Petrobras em ampliar suas
compras locais "é legítima".
"É melhor ter o fornecedor
perto. Reduz custos no longo
prazo e evita dor de cabeça com
assistência técnica e manutenção. E a escala do pré-sal permite custos competitivos."
Gabrielli afirma que esses
custos sofrerão queda com o
decorrer do tempo, ainda que
fiquem, inicialmente, mais altos do que os de importação.
Fernández diz que as missões da Petrobras ao exterior
representam também um "aceno" à indústria nacional de que
"a sua parte está garantida". Isso porque a Petrobras busca,
paralelamente, financiamento
de bancos de fomento às exportações. A estatal já obteve crédito dos Eximbanks [bancos
que dão suporte a transações
comerciais internacionais] dos
EUA, China e Japão.
Já Roberto Machado, diretor
da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas
e Equipamentos), diz que novos fornecedores só vão se instalar com uma "garantia firme"
de demanda no longo prazo. E
até agora nenhuma grande empresa veio por conta do pré-sal.
"Ainda está muito no início."
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