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JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN
A Universidade de Pequim e a USP
Pequim fez convênios com universidades estrangeiras e briga por bons professores com salários mais elevados
NO FINAL de maio passado, em
um almoço de fim de ano letivo na Universidade Princeton, sentei-me em uma mesa onde
se encontravam três outros colegas
economistas. A conversa, já em andamento, era sobre os planos para o
verão do hemisfério Norte que começava, e descobri que nós quatro
tínhamos programado palestras em
universidades chinesas.
Essa unanimidade reflete o interesse que a China desperta na academia americana, mas espelha também a preocupação chinesa em
aprender com o resto do mundo e,
em particular, de criar um sistema
universitário de primeira linha.
Um visitante à Universidade de
Pequim, onde escrevo esta coluna,
tem a impressão clara de que essa
instituição tem a ambição de se tornar uma referência mundial em pesquisa e ensino.
Pequim toma como modelos as
universidades americanas e inglesas, que são as melhores do mundo.
Por isso estabeleceu convênios com
universidades estrangeiras e com
empresas, corteja doadores, em particular os seus ex-alunos, e compete
pelos bons professores e pesquisadores produtivos com salários mais
elevados e melhores condições de
trabalho.
A anuidade paga pelos estudantes
é, em geral, modesta, mas em alguns
cursos que preparam para carreiras
particularmente lucrativas pode
chegar a US$ 4.000 anuais.
Enquanto no Brasil discute-se um
possível conflito entre pesquisa pura e "operacional", os chineses compreendem que as universidades nos
EUA jogam um papel fundamental
no processo de enriquecimento daquele país, realizando pesquisas e
transferindo ou até mesmo comercializando as novas tecnologias, sem
abandonar a sua missão principal de
educar e fazer avançar o conhecimento humano. Foi na Universidade Stanford, na Califórnia, que Larry
Page e Sergey Brin desenvolveram o
algoritmo por trás do buscador Google. Mas, no período em que Page e
Brin eram alunos de pós-graduação,
professores em Stanford receberam
o Prêmio Nobel em Física em três
anos consecutivos.
E um estudo sobre a efetividade
da transferência de tecnologia e comercialização de descobertas em
biotecnologia nas instituições de ensino em todo o mundo (ver
www.milkeninstitute.org/pdf/
m2m2006-uni- tech.pdf), colocou nos três primeiros lugares o
MIT, a Universidade da Califórnia
e o Caltech -o que não é exatamente uma lista de escolas de segunda linha quando se trata do desenvolvimento do conhecimento
básico.
Isso tudo estabelece um grande
contraste com a atual discussão sobre a Universidade de São Paulo. O
debate sobre os decretos do governador de São Paulo é medíocre -as
medidas propostas por Serra têm
muito pouca importância. A USP
tem a grande vantagem em relação
a Pequim de estar em um país com
ampla liberdade de expressão, mas,
assim como as outras universidades públicas brasileiras, precisa de
mudanças profundas na sua governança e na política de salários para
professores e pesquisadores. É indispensável também encontrar novas fontes de financiamento que
complementem as verbas públicas.
Nesse contexto, cabe discutir um
sistema, como aquele que existe na
Austrália e que eu descrevi anteriormente nesta Folha, de contribuições de ex-alunos em razão da
renda. Mas a reação corporativista
dos que apóiam a ocupação da reitoria é um sinal de que as reformas
necessárias exigiriam uma coragem que aparentemente falta aos
nossos governantes.
JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN, 59, professor de economia na Universidade Princeton (EUA), escreve quinzenalmente aos domingos nesta coluna.
jose.scheinkman@gmail.com
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