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Globalização, mercado e tecnologia criam "Riquistão", diz autor
"Nunca antes na história tantos americanos ficaram tão ricos tão rapidamente", afirma jornalista Robert Frank
Tendência é os EUA ficarem mais parecidos com o Brasil
em desigualdade social,
com o aumento no nš de
bilionários, diz jornalista
Mark Lennihan - 21.mai.07/Associated Press
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Pedestres passam diante de lojas da Gucci e da Hugo Boss na Quinta Avenida, em Nova York |
DE WASHINGTON
A construção da frase lembra
as que saem da boca de um presidente de um grande país da
América do Sul: nunca antes na
história tantos americanos ficaram tão ricos tão rapidamente. Quem diz é o autor de "Richistan - A Journey Through
the American Wealth Boom
and the Lives of the New Rich",
o jornalista Robert Frank.
Leia entrevista exclusiva que
ele concedeu à Folha por telefone de Nova York:
(SÉRGIO DÁVILA)
FOLHA - Ricos ficarem mais ricos
não é novidade, mas sim o ritmo
desse fenômeno. Aumentou muito
na Era Bush?
ROBERT FRANK - Na verdade, começou no fim dos anos 80, mas
vive seu clímax do fim dos anos
90 até hoje. De 1995 a 2004, o
número de lares milionários
nos EUA mais do que dobrou. É
a esse período que me dedico.
Sempre houve o fenômeno dos
novos milionários aqui, mas
nunca antes na história tantos
americanos ficaram tão ricos
tão rapidamente.
FOLHA - Qual o motivo?
FRANK - A combinação de três
grandes eventos econômicos:
crescimento da tecnologia da
informação; globalização, que
está criando grandes mercados
para virtualmente tudo; e expansão dos mercados financeiros. Esse trio criou uma economia do tipo "o vencedor-leva-tudo", em que as pessoas no alto de suas profissões e empresários que estão criando companhias são pagos ou ganham
dinheiro em níveis recordes.
FOLHA - O sr. divide o "Riquistão"
em três níveis, segundo a riqueza
acumulada. Há mesmo um senso de
diferenciação entre os milionários?
FRANK - Sim. O comportamento muda de acordo com o nível
de riqueza que você tem. Quando eu digo comportamento, falo de tudo, atitude, tipo de investimento e filantropia, família e como você vê a vida. Então,
os que vivem no que chamo de
"Baixo Riquistão" estão muito
bem, mas as vidas deles não são
tão diferentes das do norte-americano médio. A maior parte do dinheiro deles vem dos salários, eles tendem a ter dívidas, fazem doações.
Os do "Médio Riquistão" geralmente ganham dinheiro na
própria empresa, gastam mais
porque têm mais crédito e pensam mais a longo prazo. No "Alto Riquistão", a maioria ganhou
dinheiro criando sua empresa,
embora haja alguns CEOs chegando ao grupo. Gastam muito
em iates, carros e jóias, têm várias casas e investem diferentemente do resto. Não colocam
dinheiro em fundos, mas compram sociedade em perfuradoras de petróleo, por exemplo.
FOLHA - O sr. cobre esse "país" como um repórter numa terra estrangeira. Foi uma decisão consciente?
FRANK - Sim. Voltei aos EUA de
Cingapura em 2002 e percebi
que nos seis anos em que fiquei
fora um país havia sido criado
em volta dos ricos, um país, para mim, estrangeiro. São pessoas que falam "gerentes do
lar", voam em jatos privados,
têm quatro casas, então foi natural para um correspondente
estrangeiro se sentir como se
estivesse cobrindo a Albânia.
Não só porque era exótico
para mim mas porque eu queria apresentar como era a vida
lá, sem julgar seus habitantes,
da mesma maneira que não julguei russos ou tchecos. Não
queria dizer que os ricos são
ótimos ou são vilões, mas contar como a vida deles realmente
é, não o que vemos na TV ou lemos na revista "People".
FOLHA - O quão distante o sr. está
de se mudar para lá?
FRANK - Não conseguiria ser
aceito nem mesmo no "Baixo
Riquistão" [risos]. Sou um repórter de jornal, e somos espécies muito raras no "Riquistão". E não quero ir para lá, não
quero ser como eles. Estive em
muitas partes do mundo e sou
muito sensível à desigualdade
social, ao desespero dos pobres.
FOLHA - O sr. deve saber que nós
temos nosso próprio "Riquistão" no
Brasil, só que mais acintoso, porque
a desigualdade social é maior. Em
sua viagem ao seu "Riquistão", encontrou por acaso algum brasileiro?
FRANK - Não... Meu medo, e
uma das razões pela qual escrevi o livro, é que os EUA podem
estar ficando mais parecidos
com o Brasil do que com a Europa em desigualdade. Gostaria
de verdade que essa prosperidade do "Riquistão" daqui começasse a ser espalhada para o
resto da população do mundo.
FOLHA - O sr. vê isso acontecendo
durante a sua vida?
FRANK - Infelizmente, não. Eu
vejo as três forças do começo
-globalização, tecnologia, expansão financeira- só acelerarem a desigualdade. Veremos
cada vez mais bilionários nos
EUA e no resto do mundo.
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