São Paulo, quarta-feira, 17 de junho de 2009

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Brics pressionam para elevar peso de emergentes no G20

Brasil, Rússia, Índia e China pela primeira vez discutem uma atuação conjunta

Encontro não propõe medidas, mas exprime desejo de participação real nas decisões políticas e econômicas internacionais

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ECATERIMBURGO (RÚSSIA)

Na primeira reunião de cúpula das maiores economias emergentes do planeta, Brasil, Rússia, China e Índia deram ontem o primeiro passo para consolidar uma parceria estratégica que lhes dê mais peso nas decisões sobre a reforma do sistema financeiro mundial.
Em encontro na cidade russa de Ecaterimburgo, o grupo conhecido como Bric decidiu agir de forma coordenada nos foros que debatem mudanças na arquitetura da economia global, sobretudo o G20. Juntos, os quatro países têm 40% da população e 15% do PIB (Produto Interno Bruto) mundiais.
A declaração final reflete o desejo de reafirmar a importância dos emergentes no G20, em contraposição a foros de países ricos em que eles são meros convidados, como o G8.
Mas o texto ainda não indica medidas concretas.
Apontado como uma possível medida a ser adotada pelo Bric, o uso de moedas locais -em substituição ao dólar- no comércio entre os membros não foi incluído no documento, mas só mencionado vagamente. "Há forte necessidade de um sistema monetário internacional estável, previsível e mais diversificado", afirma o texto.
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, lembrou o exemplo da relação comercial com a Argentina, na qual as moedas locais podem ser usadas nas transações. "Não podemos ficar sujeitos a flutuações da moeda de um único país, mas também há a compreensão de que essas coisas ocorrem muito gradualmente", disse o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores). "Mudanças no sistema monetário, se feitas de maneira brusca, poderiam criar outra crise."
Após dar os primeiros passos retóricos em Ecaterimburgo, o Bric agora tentará se institucionalizar, com encontros regulares. O Brasil se ofereceu para sediar a próxima cúpula, que deve ocorrer em 2010, e já estão previstas reuniões dos presidentes dos bancos centrais e ministros da Fazenda.
No lado político, o novo bloco já tem pelo menos uma divisão, logo de saída. Brasil e Índia reivindicam assentos permanentes num Conselho de Segurança da ONU ampliado, no que são apoiados pela Rússia. Mas a China rejeita a ampliação, por temer a inclusão de seu maior rival regional, o Japão.
Indagado pela Folha, o diretor-geral do ministério das Relações Exteriores chinês, Wu Hailong, foi evasivo e manteve a tradicional posição de seu país: "Apoiamos um papel maior do Brasil na ONU".
Em entrevistas publicadas ontem pela imprensa russa, Lula mostrou-se confiante na capacidade dos emergentes de ajudar o mundo a sair da crise. "Eles estarão na linha de frente na retomada da atividade econômica mundial", afirmou.
Além da declaração principal, os quatro países também divulgaram um outro texto sobre segurança alimentar, no qual há um alerta sobre "os desafios e as oportunidades da produção de biocombustíveis".
Não há defesa explícita do álcool brasileiro, apenas uma tímida lembrança de que a produção sustentável de biocombustíveis pode ajudar na inclusão social.
Não era objetivo dessa reunião produzir ideias de aplicação imediata, diz Roberto Mangabeira Unger, ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos do governo Lula.
Unger -que participou, no mês passado, de encontros que definiram a agenda a ser tratada pela cúpula- afirma que os Brics precisam ir além do debate convencional dos problemas cotidianos e se concentrar em propor uma reestruturação dos sistemas de comércio e de segurança internacionais. "Isso levaria à consolidação do grupo", disse, em São Paulo.


Colaborou DENYSE GODOY, da Reportagem Local


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