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Brics pressionam para elevar peso de emergentes no G20
Brasil, Rússia, Índia e China pela primeira vez discutem uma atuação conjunta
Encontro não propõe medidas, mas exprime desejo de participação real nas decisões políticas e econômicas internacionais
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ECATERIMBURGO (RÚSSIA)
Na primeira reunião de cúpula das maiores economias
emergentes do planeta, Brasil,
Rússia, China e Índia deram
ontem o primeiro passo para
consolidar uma parceria estratégica que lhes dê mais peso nas
decisões sobre a reforma do sistema financeiro mundial.
Em encontro na cidade russa
de Ecaterimburgo, o grupo conhecido como Bric decidiu agir
de forma coordenada nos foros
que debatem mudanças na arquitetura da economia global,
sobretudo o G20. Juntos, os
quatro países têm 40% da população e 15% do PIB (Produto
Interno Bruto) mundiais.
A declaração final reflete o
desejo de reafirmar a importância dos emergentes no G20,
em contraposição a foros de
países ricos em que eles são
meros convidados, como o G8.
Mas o texto ainda não indica
medidas concretas.
Apontado como uma possível medida a ser adotada pelo
Bric, o uso de moedas locais
-em substituição ao dólar- no
comércio entre os membros
não foi incluído no documento,
mas só mencionado vagamente. "Há forte necessidade de um
sistema monetário internacional estável, previsível e mais diversificado", afirma o texto.
O presidente brasileiro, Luiz
Inácio Lula da Silva, lembrou o
exemplo da relação comercial
com a Argentina, na qual as
moedas locais podem ser usadas nas transações. "Não podemos ficar sujeitos a flutuações
da moeda de um único país,
mas também há a compreensão
de que essas coisas ocorrem
muito gradualmente", disse o
ministro Celso Amorim (Relações Exteriores). "Mudanças
no sistema monetário, se feitas
de maneira brusca, poderiam
criar outra crise."
Após dar os primeiros passos
retóricos em Ecaterimburgo, o
Bric agora tentará se institucionalizar, com encontros regulares. O Brasil se ofereceu para
sediar a próxima cúpula, que
deve ocorrer em 2010, e já estão
previstas reuniões dos presidentes dos bancos centrais e
ministros da Fazenda.
No lado político, o novo bloco
já tem pelo menos uma divisão,
logo de saída. Brasil e Índia reivindicam assentos permanentes num Conselho de Segurança da ONU ampliado, no que
são apoiados pela Rússia. Mas a
China rejeita a ampliação, por
temer a inclusão de seu maior
rival regional, o Japão.
Indagado pela Folha, o diretor-geral do ministério das Relações Exteriores chinês, Wu
Hailong, foi evasivo e manteve
a tradicional posição de seu
país: "Apoiamos um papel
maior do Brasil na ONU".
Em entrevistas publicadas
ontem pela imprensa russa,
Lula mostrou-se confiante na
capacidade dos emergentes de
ajudar o mundo a sair da crise.
"Eles estarão na linha de frente
na retomada da atividade econômica mundial", afirmou.
Além da declaração principal, os quatro países também
divulgaram um outro texto sobre segurança alimentar, no
qual há um alerta sobre "os desafios e as oportunidades da
produção de biocombustíveis".
Não há defesa explícita do álcool brasileiro, apenas uma tímida lembrança de que a produção sustentável de biocombustíveis pode ajudar na inclusão social.
Não era objetivo dessa reunião produzir ideias de aplicação imediata, diz Roberto Mangabeira Unger, ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos do governo Lula.
Unger -que participou, no
mês passado, de encontros que
definiram a agenda a ser tratada pela cúpula- afirma que os
Brics precisam ir além do debate convencional dos problemas
cotidianos e se concentrar em
propor uma reestruturação dos
sistemas de comércio e de segurança internacionais. "Isso
levaria à consolidação do grupo", disse, em São Paulo.
Colaborou DENYSE GODOY,
da Reportagem Local
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