|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
agrofolha
Investimento em álcool chega a US$ 19 bi até 2012
BNDES analisa 70 pedidos de empréstimos, no valor de R$ 10 bi, e pode virar sócio
Ipea critica pretensão do
banco de financiar setor,
pois instabilidade nos
preços eleva riscos e
mercado ainda é incerto
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Com o "boom" do álcool no
mundo, o setor sucroalcooleiro
do Brasil recebe novos investimentos, que contarão com forte financiamento estatal. Serão
aplicados US$ 19 bilhões até
2012 em pelo menos 86 novas
usinas e ampliações, e os empréstimos do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) somarão
até R$ 10 bilhões no período.
De 2002 a 2005, o setor investiu menos de um terço do
valor previsto para os próximos
anos -US$ 6,2 bilhões. Se saírem do papel, os projetos vão
gerar 400 mil empregos e aumentar em 114% a produção de
álcool até 2012, segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
Essas cifras serão alcançadas
somente pela expansão do
mercado interno, com o uso
crescente do carro flex -que já
representa 83,6% das vendas
de novos e 12% da frota. "Independentemente de qualquer
cenário, esses investimentos
vão acontecer. O mercado brasileiro é bastante demandante", disse Carlos Gastaldoni, assessor da presidência do
BNDES para o tema.
Os investimentos podem ser
maiores se caírem as barreiras
comerciais ao álcool brasileiro
nos EUA e se aquele país levar
adiante a proposta de adicionar
à gasolina 20% do produto em
2017, prevê Gastaldoni.
Ele estima a necessidade de
700 usinas e uma exportação
de 70 bilhões de litros de álcool
só para atender essa eventual
demanda norte-americana. O
cálculo considera que o Brasil
abocanharia metade do mercado criado com a adição de apenas 10% nos EUA, percentual
que não demanda adaptações
em motores e postos.
"Serão US$ 200 bilhões em
investimento. É algo colossal,
mas não há motivo para não
acontecer. O Brasil produz o
etanol mais barato e mais competitivo do mundo", diz.
O BNDES analisa 70 pedidos
de empréstimos, no valor de R$
10 bilhões. Algumas operações
já foram aprovadas. O banco estuda ainda tornar-se sócio de
alguns empreendimentos, segundo Gastaldoni.
Segundo a Unica, além dos 86
projetos de usinas em fase de
desenvolvimento (seja na de
plantio ou na de construção),
existem mais 61 com potencial
de serem implantadas. O
BNDES identificou 51 empreendimentos em andamento
-todos no centro-sul e parte
deles destinados à exportação.
Alfred Szwarc, consultor da
Unica, afirma que "as questões
ambientais são determinantes"
para a expansão futura do consumo de etanol no mundo. Elas
já fazem a União Européia estudar a adoção de lei que determina a substituição de 10% dos
combustíveis fósseis por biocombustíveis, diz.
Tal cenário, segundo Szwarc,
abre "ótimas perspectivas" de
exportação. É preciso, porém,
"calibrar bem o aumento de
produção e os investimentos",
diz, já que a expansão do mercado externo depende de "decisões políticas". Cita o fim dos
subsídios e da tarifa de importação nos EUA e do protecionismo na UE.
Outro entrave às exportações
-"típico de um mercado que
está nascendo", afirma
Szwarc- é que o álcool ainda
não é uma commodity, com
uniformidade de preço e diversos produtores. "Não há um
mercado global."
Gastaldoni, do BNDES, afirma que "existe um número mágico no setor": US$ 40 o barril,
piso para o preço do petróleo.
Abaixo disso, o álcool deixa de
ser competitivo. Hoje, com o
óleo na faixa de US$ 70, todos
os projetos e perspectivas de
exportação são viáveis, segundo ele. "Só não houve uma explosão por causa das barreiras."
Críticas
Gervásio Castro de Rezende,
pesquisador do Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao Ministério
do Planejamento, critica a pretensão do BNDES de financiar
o setor, pois os preços do açúcar e álcool são "muito instáveis", o que eleva o risco dos
empréstimos.
Diz ainda que existem muitas
incertezas sobre um possível
mercado internacional de álcool. "Se o petróleo cair, acaba
com toda essa farra."
Cita também o risco dos
constantes refinanciamentos
de empréstimos do setor público à agropecuária. O BNDES,
por sua vez, disse que é "fundamental o financiamento do
banco para viabilizar os investimentos" em razão da quantidade de capital necessária.
Texto Anterior: [+]Telefonia: Brasil tem 106,6 milhões de celulares, de acordo com a Anatel Próximo Texto: Estrangeiros injetam mais de US$ 3 bi na construção de usinas Índice
|