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ARTIGO
Adeus, capitalismo
JOSHUA ROSNER
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"
EM UMA economia capitalista, os perdedores
devem arcar com os
prejuízos e os ganhadores, desfrutar dos lucros. A iniciativa
privada é mais capacitada para
alocar o capital de maneira eficiente e, quando não o faz, os
mercados realizam ajustes, e o
capital termina realocado aos
usuários eficientes. Esse conceito básico oferece sustentação ao movimento dos ativos
bons e produtivos, que escapam ao controle dos participantes mais fracos do mercado
e são adquiridos pelos mais fortes. Nos casos em que não é
possível, o sistema vigente nos
EUA dá ao governo um papel
em fomentar a transição por
um processo eficiente: falência
ou reorganização.
Nossos funcionários eleitos
repetidamente demonstraram
que, até mesmo os detentores
de capital acionário, supostamente titulares dos menores
direitos de ressarcimento
quanto aos ativos de uma empresa, não devem ser forçados a
aceitar prejuízos, e acreditam
que devemos todos compartilhar as perdas que resultam da
má alocação de capital e da má
gestão de riscos. Nacionalizamos o prejuízo do Bear Stearns
por meio de uma transferência
do risco para o balanço do governo federal, e agora nacionalizamos os prejuízos gerados
pela má administração de
Freddie Mac e Fannie Mae. Isso aconteceu mesmo que todas
as ofertas de ações ou de títulos
de dívida de ambas declarem
explicitamente que os papéis
"não são garantidos pelos EUA
e não representam obrigações
de quaisquer agências do governo norte-americano".
Quando tivermos concluído
esse período trágico na história
econômica dos EUA, o governo
provavelmente terá de escolher
se fará o mesmo por, pelo menos, mais um grande banco, seguradora de títulos, seguradora
de hipotecas, banco múltiplo
regional de grande porte, companhia de aviação ou montadora de automóveis. Dadas as escolhas pelos funcionários de
nosso governo, os quais evidentemente têm pouca fé na capacidade do mercado de capitais
ou de nosso sistema judicial,
continuaremos a ver a nacionalização de más dívidas, o que
depositará mais carga sobre os
já sobrecarregados ombros dos
norte-americanos.
O compromisso desses funcionários, desorientados quanto a imprimir dinheiro a fim de
alimentar as chamas da inflação e deprimir ainda mais o valor de nossa moeda, convida investidores estrangeiros a tomar
o controle de nossos melhores
ativos e adquirir empresas fortes que nos restam (como a
Anheuser Busch) a baixo preço.
À medida que a força dos setores restantes de nossa economia se esvai, em companhia do
poder aquisitivo dos contribuintes, será cada vez mais necessário, para a sobrevivência,
que os trabalhadores norte-americanos exijam aumentos
salariais.
Embora alguns possam
aplaudir a decisão política do
governo, ela impedirá o realinhamento ordeiro e racional
dos preços inflacionados dos
ativos e garantirá que continuem inflacionados. Chegamos
a esse ponto sem forçar os administradores a desembolsar
os ganhos indevidos que obtiveram e sem substituir os executivos, que continuam no comando de empresas na verdade
"controladas" pelo governo.
Os mesmos economistas que
costumavam defender as teorias do mercado eficiente agora
optaram por esse caminho. Em
lugar de proteger os que realizaram más apostas, deveríamos usar as normas judiciais
para corrigir a situação. Isso seria permitir que participantes
mais fracos quebrem ou se
reorganizem por meio da
transferência ordeira de bons
ativos de mãos fracas para
mãos mais fortes. O processo
protegeria nossa moeda, um
dia tão poderosa, e promoveria
as necessárias correções nos
preços dos ativos, gerando um
equilíbrio sustentável. Fazê-lo
também reduziria o risco moral
e enviaria uma mensagem de fé
em nosso sistema como modelo para o avanço das finanças.
Há outra opção com relação a
Freddie Mac e Fannie Mae. Em
lugar de tornarmos os contribuintes responsáveis pelas dívidas de empresas patrocinadas pelo governo, seria mais
sensato conduzir um plano
suave e preordenado de reorganização: sustentar a liquidez no
mercado secundário de hipotecas. O cerne da missão dessas
empresas é adquirir hipotecas
das empresas que as originam,
cobrar uma taxa e securitizar os
títulos lastreados por elas, oferecendo garantias de que seus
detentores receberão 100% do
retorno antecipado.
JOSHUA ROSNER é diretor-executivo do grupo
de pesquisa Graham Fisher
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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