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São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003

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CONTRAMÃO

Receita cresceu 9,8% no primeiro semestre com mais exportações, menos despesas em dólares e aumento de preços

Companhias lucram mais, apesar do aperto

ADRIANA MATTOS
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia brasileira encolheu, as famílias consumiram menos e o governo gastou pouco neste ano. No entanto a maioria das companhias abertas brasileiras conseguiu elevar substancialmente suas receitas e lucros no primeiro semestre.
Até a rentabilidade média dessas companhias, negativa no primeiro semestre do ano passado, já está positiva.
Os dados fazem parte de um levantamento feito pela Folha com balanços de companhias com ações na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) e que já publicaram os resultados do semestre.
Foram analisados os desempenhos de 124 empresas com peso considerável no setor privado do país. Entre elas, CSN, Vale do Rio Doce, Gerdau, Pão de Açúcar e Embratel. O levantamento exclui instituições financeiras. No total, existem 386 companhias listadas na Bovespa.
Descontada a inflação, o total da receita operacional líquida dessas empresas (o que elas recebem com sua atividade principal) cresceu 9,8% de janeiro a junho em relação a igual período de 2002.
O montante da receita dessas empresas analisadas representa um terço do valor total da produção de empresas não-financeiras no país por ano -R$ 542 bilhões, informa o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo o levantamento, o lucro dessas empresas disparou: passou de pouco mais de R$ 2 bilhões nos primeiros seis meses de 2002 para R$ 20,9 bilhões em igual período de 2003.
Esses números foram obtidos num período em que a maioria dos indicadores econômicos do país perdeu fôlego.
Dados do PIB (Produto Interno Bruto, soma dos valores de todos os bens e serviços finais produzidos em um ano) no primeiro trimestre mostram queda de 2,3% no consumo, retração de 1,5% no investimento e recuo de 4,6% nas importações, sempre em relação ao mesmo período de 2002.

Estratégias
Companhias abertas foram beneficiadas pelo aumento das exportações, pela redução das despesas em dólares e pelo reajuste de preços, promovido para garantir rentabilidade.
Explica-se: diante do cenário de retração econômica interna -e para garantir a receita em moeda forte-, várias companhias que atendiam o mercado interno passaram a exportar ainda mais.
Exemplos: 69% do volume vendido pela Seara de abril a junho foi para fora do país -em igual período de 2002 o índice era de 64%. A CSN exportou 730 mil toneladas de aço no primeiro semestre. De janeiro a junho de 2002 foram 657 mil toneladas, e a preços menores do que agora.
Com mais embarques ao exterior, elas embolsaram mais recursos. Só no primeiro trimestre de 2003, a demanda por produtos brasileiros no exterior cresceu 20%, segundo o IBGE.
Além das exportações, caíram as dívidas em moedas estrangeiras, pesadelo do setor privado no final de 2002. Essas despesas pressionam o lucro para baixo.
Cerca de 70% das dívidas de empresas no país são em dólar. Como a moeda custava R$ 3,54 em 31 de dezembro de 2002 e apenas R$ 2,84 em 30 de junho deste ano, as companhias passaram a dever menos em reais.
"Esse efeito contábil é evidente nos balanços. Ou seja, pode ser que a empresa tenha de pagar essa despesa só no ano que vem, mas hoje, na ponta do lápis, essa dívida em moeda estrangeira caiu", diz Ernesto Meyer, diretor do banco BNP Paribas.

Finalmente, rentabilidade
O levantamento mostra que as companhias ficaram mais rentáveis no período. A taxa passou de negativa (menos 19,5%) em junho de 2002 para positiva (7,7%) em junho de 2003.
A petroquímica Petroflex, por exemplo, registrou rentabilidade de quase 30%. Há um ano, a taxa estava em 8,4%.
Bons resultados de algumas empresas de grande porte ajudaram a puxar a taxa média para cima. Até porque há casos de empresas que perderam receita no exterior com o aumento da concorrência externa. E sofreram impacto nas contas com a alta do preço de certos insumos.
Mas os números mostram que, entre as companhias analisadas, só uma em cada quatro teve rentabilidade negativa de janeiro a junho. Todas as outras (quase 100) ficaram no azul. Em junho do ano passado, porém, 48 não eram rentáveis.
Há casos em que a manutenção da rentabilidade é decorrente, em parte, do aumento dos preços. Algumas companhias evitaram perdas ao repassar a inflação aos clientes e consumidores.


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