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RECEITA ORTODOXA
Para analistas, crise política e petróleo alto devem impedir queda
Mercado espera que Copom mantenha a taxa de juros
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O fato de o país ter os maiores
juros reais do mundo, desde janeiro, e a inflação estar em queda
e convergindo para a meta oficial
não convenceu o Banco Central a
iniciar a redução das taxas no Brasil, segundo a opinião da esmagadora maioria dos analistas do
mercado financeiro.
Eles esperam que a taxa básica
de juros (Selic) seja mantida em
19,75% anuais na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária, formado por diretores e o presidente do BC) deste mês, que
acaba hoje e determina a taxa Selic, hoje em 19,75% anuais, para os
próximos 30 dias.
Dentre a minoria que afirma ser
possível que os juros caiam agora,
está a LCA Consultores. Para a
equipe de analistas da LCA, "os
resultados recentes de inflação sugerem haver condições para que o
BC retome a redução da taxa Selic
já a partir desta reunião".
Para a LCA, o Copom deverá
optar por um corte mais cauteloso, de 0,25 ponto percentual. Isso
porque "persistem alguns focos
de incerteza, sobretudo associados ao elevado preço internacional do petróleo e ao conturbado
quadro político doméstico".
Os juros reais -descontada a
inflação projetada para os próximos 12 meses- estão hoje em
torno dos 14,1%, vindos de 11,9%
em janeiro.
Quando os juros reais sobem,
aumentam os custos para o setor
privado investir. Com isso, o movimento de alta verificado nos últimos meses tende a desmotivar
novos investimentos e, conseqüentemente, desaquecer a economia. Na ponta, isso ajuda a evitar que os preços subam muito.
Liderança folgada
Segundo o último estudo realizado pela GRC Visão, a China é o
país com a segunda maior taxa
real de juros do mundo, com
5,96% ao ano. Em terceiro, fica o
México, registrando juros reais de
5,42%. Ambos bem abaixo do recorde mundial brasileiro.
"O Banco Central deve optar
pela cautela, diante do aumento
de incertezas decorrente da evolução dos preços do petróleo e dos
desdobramentos da crise política", diz Maristella Ansanelli, economista-chefe do banco Fibra.
Para ela, o Copom deve dar "início ao processo de flexibilização
da política monetária somente
em setembro".
Ajustes
Nos dois últimos pregões da
BM&F (Bolsa de Mercadorias &
Futuros), os juros projetados recuaram em relação à sexta-feira.
Mas nada que demonstre uma alteração na expectativa predominante do mercado, de manutenção da Selic neste mês.
A taxa do contrato DI -que
mostra as projeções futuras para
os juros- com resgate daqui a 12
meses fechou ontem a 18,09%,
vindo de 18,31% na última sexta-feira.
A projeção média do mercado
financeiro é que a taxa Selic estará
em 18% no fim de 2005, como
mostra pesquisa semanal feita pelo BC. Para que isso se concretize,
os juros terão de ser cortados em
1,75 ponto percentual até lá.
A piora do cenário político fez
com que muitos analistas vissem
um novo empecilho para a Selic
ser reduzida já neste mês.
Na opinião da consultoria GRC
Visão, há uma "completa inexistência de pressões, no curto e no
médio prazos, de algum fator que
possa tirar a inflação da trajetória
de desaceleração". "Os preços internacionais das commodities
(salvo o petróleo), o câmbio, o clima e a expectativa para os preços
administrados fornecem o respaldo necessário para nossa expectativa de redução dos juros em 0,25
ponto nesta reunião do Copom."
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