São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Para analistas, crise política e petróleo alto devem impedir queda

Mercado espera que Copom mantenha a taxa de juros

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O fato de o país ter os maiores juros reais do mundo, desde janeiro, e a inflação estar em queda e convergindo para a meta oficial não convenceu o Banco Central a iniciar a redução das taxas no Brasil, segundo a opinião da esmagadora maioria dos analistas do mercado financeiro.
Eles esperam que a taxa básica de juros (Selic) seja mantida em 19,75% anuais na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária, formado por diretores e o presidente do BC) deste mês, que acaba hoje e determina a taxa Selic, hoje em 19,75% anuais, para os próximos 30 dias.
Dentre a minoria que afirma ser possível que os juros caiam agora, está a LCA Consultores. Para a equipe de analistas da LCA, "os resultados recentes de inflação sugerem haver condições para que o BC retome a redução da taxa Selic já a partir desta reunião".
Para a LCA, o Copom deverá optar por um corte mais cauteloso, de 0,25 ponto percentual. Isso porque "persistem alguns focos de incerteza, sobretudo associados ao elevado preço internacional do petróleo e ao conturbado quadro político doméstico".
Os juros reais -descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses- estão hoje em torno dos 14,1%, vindos de 11,9% em janeiro.
Quando os juros reais sobem, aumentam os custos para o setor privado investir. Com isso, o movimento de alta verificado nos últimos meses tende a desmotivar novos investimentos e, conseqüentemente, desaquecer a economia. Na ponta, isso ajuda a evitar que os preços subam muito.

Liderança folgada
Segundo o último estudo realizado pela GRC Visão, a China é o país com a segunda maior taxa real de juros do mundo, com 5,96% ao ano. Em terceiro, fica o México, registrando juros reais de 5,42%. Ambos bem abaixo do recorde mundial brasileiro.
"O Banco Central deve optar pela cautela, diante do aumento de incertezas decorrente da evolução dos preços do petróleo e dos desdobramentos da crise política", diz Maristella Ansanelli, economista-chefe do banco Fibra. Para ela, o Copom deve dar "início ao processo de flexibilização da política monetária somente em setembro".

Ajustes
Nos dois últimos pregões da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), os juros projetados recuaram em relação à sexta-feira. Mas nada que demonstre uma alteração na expectativa predominante do mercado, de manutenção da Selic neste mês.
A taxa do contrato DI -que mostra as projeções futuras para os juros- com resgate daqui a 12 meses fechou ontem a 18,09%, vindo de 18,31% na última sexta-feira.
A projeção média do mercado financeiro é que a taxa Selic estará em 18% no fim de 2005, como mostra pesquisa semanal feita pelo BC. Para que isso se concretize, os juros terão de ser cortados em 1,75 ponto percentual até lá.
A piora do cenário político fez com que muitos analistas vissem um novo empecilho para a Selic ser reduzida já neste mês.
Na opinião da consultoria GRC Visão, há uma "completa inexistência de pressões, no curto e no médio prazos, de algum fator que possa tirar a inflação da trajetória de desaceleração". "Os preços internacionais das commodities (salvo o petróleo), o câmbio, o clima e a expectativa para os preços administrados fornecem o respaldo necessário para nossa expectativa de redução dos juros em 0,25 ponto nesta reunião do Copom."


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