São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2007

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"Não há brinquedo 100% seguro", diz Mattel

Presidente da empresa no Brasil afirma que recall é sinal de responsabilidade e que fechou o cerco nas importações da China

Cerca de 1.900 especialistas estão na China controlando produção e nenhum lote vai ser embarcado sem passar por fiscalização, diz executivo

Kevin Wolf - 14.ago.07/Folha Imagem
Itens da Mattel expostos em loja dos EUA na terça-feira, dia do anúncio do recall da empresa


JULIO WIZIACK
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em menos de um ano, a americana Mattel, líder mundial de brinquedos, lançou três recalls. Primeiro tirou 1,5 milhão de itens das prateleiras porque estavam pintados com tinta tóxica à base de chumbo. Agora, está retirando 18,6 milhões de produtos com ímãs que podem se soltar. Se engolidos em pares podem causar danos à saúde das crianças. No Brasil 850 mil itens serão trocados. "Não existe processo produtivo 100% seguro", afirma o presidente da Mattel, Alejandro Rivas. A seguir, trechos da entrevista.

 

FOLHA - A Mattel privilegiou os americanos no recall?
ALEJANDRO RIVAS -
O procedimento americano é muito similar ao do Brasil. O consumidor entra em contato com a central de atendimento e recebe o manual com a lista completa de brinquedos e acessórios. Entre 8 e 12 semanas, a Mattel avalia se o produto faz parte do recall e, nos EUA, envia um "voucher" no valor do produto original que será usado na hora da troca nas lojas. Os brasileiros levam vantagem porque têm a opção de ter seu dinheiro de volta.

FOLHA - As críticas contra a demora na resposta da Mattel são justas?
RIVAS -
Assim que recebemos o posicionamento da matriz, na terça-feira, pedimos a retirada dos produtos das lojas. Ao mesmo tempo, colocamos à disposição do cliente um telefone e um e-mail. Naquele momento, um site mundial, em inglês, foi ao ar. Houve uma confusão porque os brasileiros tinham de dar mais passos no site em inglês para achar as informações em português. Hoje está no ar a versão do site brasileiro (www.recallmattel.com.br). Traçamos uma estratégia de mídia em jornais, rádio e televisão em menos de 36 horas.

FOLHA - Houve casos de crianças brasileiras que engoliram os ímãs?
RIVAS -
Não temos evidências e é difícil que esses casos aconteçam. Produzimos mais de 200 milhões de itens da linha Polly com ímãs aparentes que nunca deram problema. Passaram a ser quando três crianças engoliram ímãs que se juntaram e causaram lesões intestinais. É um índice é muito baixo.

FOLHA - Quem comprou brinquedos chamados para recall no exterior poderá trocá-los no Brasil?
RIVAS -
Já temos casos assim. Atenderemos qualquer pessoa que tenha comprado um produto da Mattel desde que ela entre em contato.

FOLHA - Um recall como esse põe a credibilidade da Mattel em xeque?
RIVAS -
Não deveria. Nos EUA, são cerca de 400 por ano em diversos setores. Aqui, temos 10% disso. Um recall é um processo adotado por empresas sérias. Existem muitas empresas que esperam um caso estourar para resolvê-lo isoladamente. Custa mais barato. Um recall é público, exige coragem. É injusto nos crucificarem.

FOLHA - O problema com os ímãs foi detectado antes dos incidentes?
RIVAS -
Eu não tenho a informação exata, mas garanto que antes do recall o tema dos ímãs já estava sendo pesquisado.

FOLHA - O recall de brinquedos com tinta tóxica fez a Mattel aprimorar seu controle de qualidade?
RIVAS -
Metade de nossa produção vem de fábricas próprias e a outra metade de terceirizadas, principalmente da China. Os episódios ocorridos com a tinta que cobria os carrinhos da coleção Cars e de alguns bonecos licenciados envolveram dois parceiros que descuidaram do controle das matérias-primas. Fizemos testes, detectamos o problema e retiramos os produtos do mercado.

FOLHA - Mas eles chegaram ao mercado. Afinal, não há garantias?
RIVAS -
Não existe processo produtivo 100% garantido. Os testes são feitos por amostragem. É impossível testar toda a produção. Enviamos 1.900 especialistas para monitorá-la. Agora, nenhum lote sairá da China sem respeitar os padrões exigidos pela Mattel.


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