São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009

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Espanhol controverso avança no Brasil

Enrique Bañuelos, que comprou parte das construtoras Abyara e Klabin Segall, é criticado por investidores espanhóis

Empresário ergueu império e chegou a ter mais de US$ 7 bi de patrimônio antes de operação contábil em 2007 derrubar o valor da empresa

RICARDO WESTIN
EM MADRI

Causou surpresa na Espanha a notícia de que o empresário Enrique Bañuelos está reconstruindo no Brasil o seu império imobiliário. Em operações milionárias, comprou no primeiro semestre deste ano parte das incoporadoras brasileiras Abyara e Klabin Segall. Os espanhóis não tinham notícias dele desde 2007, ano em que os seus negócios foram reduzidos a pó da noite para o dia.
O empresário ainda desperta fortes reações no meio imobiliário espanhol. Quando as ações de sua empresa desabaram, arrastaram consigo um grande número de investidores. Sua quebra marcou o estouro da bolha imobiliária da Espanha, que crescia num ritmo vertiginoso e alavancava toda a economia do país.
Bañuelos ergueu um império sem chamar a atenção. Os espanhóis só se deram conta quando o viram na lista de bilionários da revista "Forbes", em 2007. Com uma fortuna estimada em US$ 7,7 bilhões, o empresário estreou no ranking logo no 95º lugar.
Enrique Bañuelos, 43, é casado e tem duas filhas pequenas. Ele vem de uma família pobre da região de Valência. Órfão de pai desde criança, foi criado apenas pela mãe. Graças ao apoio dela, montou seu primeiro negócio, uma distribuidora de mel, e se formou em direito.
Mas só começou a prosperar quando entrou no mercado imobiliário. Em 1992, fundou a incorporadora Astroc, um anagrama de Castro, seu sobrenome materno. Com um forte espírito de oportunidade, ele enxergou numa lei de solos da região de Valência o caminho mais rápido para enriquecer.
Essa lei permitia aos especuladores propor a urbanização de terrenos rurais mesmo que as terras não fossem suas. Se o governo "comprasse" o projeto, a urbanização era colocada em prática, e o dono do terreno ficava obrigado a pagar pelo serviço ou a doar ao especulador um pedaço das terras.
A incorporadora de Bañuelos rapidamente se tornou uma potência. Vendia a construtoras por preços elevados os terrenos que havia obtido a custos irrisórios. Ao mesmo tempo, o empresário se apoiou numa rede de influências que incluía banqueiros e políticos do primeiro escalão de Valência. Após algumas aquisições, sua Astroc já cobria quase todo o território espanhol.
Segundo pessoas que trabalharam com ele ouvidas pela Folha, Bañuelos tem uma facilidade rara para convencer empresários e investidores a apostar em seus projetos. Além disso, é muito focado e "pensa em trabalho 24 horas por dia".
Em meados dos anos 2000, o empresário criou uma fundação de apoio às artes e começou a patrocinar uma equipe espanhola de basquete.
Com seu país conquistado, o passo seguinte seria no exterior. Bañuelos escolheu Nova York, onde construiria um edifício para abrigar multinacionais espanholas. Atrás de publicidade, em 2006 ofereceu uma paelha, o tradicional prato espanhol, para 20 mil pessoas no Central Park. O edifício, porém, nunca saiu do papel.

Ascensão
Bañuelos deu seu salto mais ambicioso em meados de 2006, quando entrou no mercado de capitais. Com a venda das ações da Astroc na Bolsa, sua fortuna se multiplicou, catapultando-o à lista da "Forbes".
Em junho de 2006, logo após o lançamento, as ações valiam 6 . Num crescimento raras vezes visto na Bolsa do país, os papéis já estavam em 71 em fevereiro de 2007. Uma valorização de mais de 1.000%.
Uma das razões para tanto furor foi o fato de Bañuelos ter atraído o dono da rede de roupas Zara, Amancio Ortega, para o negócio. Pequenos investidores concluíram que, se Ortega investia na Astroc, o negócio era bom. Para comprar os papéis da empresa, muitos pequenos investidores venderam propriedades e contraíram empréstimos bancários.
Da mesma forma que a ascensão, a queda de Bañuelos no país foi vertiginosa. No primeiro semestre de 2007, descobriu-se que um balanço financeiro da Astroc havia sido manipulado. Contabilizara-se como lucro o dinheiro de terrenos que Bañuelos tinha vendido para ele próprio. Receosos, os investidores começaram a se desfazer em massa de suas ações. Em junho de 2007, os papéis valiam apenas 13.
Pressionado pelos investidores que se mantiveram no negócio e perderam dinheiro, Bañuelos acabou se desfazendo de sua participação na Astroc. A empresa se fundiu com outras e passou a se chamar Afirma. Bañuelos, antes majoritário, agora detém participação de apenas 3% no negócio.
"Investi 24 mil. Quatro meses depois, eu tinha apenas 3.000. Ele manipulou o valor das coisas, nos arruinou e tem de pagar por isso", diz o advogado Felipe Izquierdo, que, com 50 acionistas, move ação na Justiça contra Bañuelos.
Apesar de não ter havido condenação judicial, o empresário se tornou uma figura controversa em seu país e, entre investidores, comenta-se que dificilmente conseguirá entrar em novos negócios na Espanha.
Mesmo com o fim do império Astroc, Enrique Bañuelos conseguiu manter-se na lista da "Forbes". No ranking deste ano, aparece num relativamente modesto 701º lugar, com uma fortuna de US$ 1 bilhão. Foi precisamente esse dinheiro que lhe abriu as portas do mercado brasileiro em um momento crítico de turbulências.


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