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São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2003

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COMÉRCIO MUNDIAL

Governo americano avalia que intransigência de europeus e de japoneses barrou avanço em Cancún

EUA culpam Europa por fracasso na OMC

DO "FINANCIAL TIMES"

Os EUA tentaram se esquivar da culpa pelo fracasso das negociações mundiais de comércio na reunião ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), em Cancún, dizendo que o progressos feitos nas questões agrícolas foram bloqueados pelas cisões entre a Europa e os países em desenvolvimento com relação a outras questões.
"Sentimos que o impasse a que as negociações de Cancún chegaram não está relacionado a exigências norte-americanas, mas a limites impostos pelos países europeus e em desenvolvimento", disse Josette Shiner, vice-representante comercial norte-americano para assuntos de comércio internacional. "No final do processo, não foram as nossas questões que impediram o progresso. Na verdade, estávamos conseguindo progresso real na agricultura e em diversas outras áreas."
As conversas entraram em colapso, no domingo, depois que uma coalizão de países africanos e asiáticos recusou exigências do Japão e da União Européia em questões sobre regras de investimentos e normas para concorrências públicas, entre outros temas.
Ainda que muitos países tenham afirmado que mantêm seu compromisso nas negociações, toda esperança de cumprir o prazo inicialmente planejado para a conclusão da rodada, no final de 2004, se perdeu. Poucos esperam esforços sérios para reavivar as negociações antes das eleições presidenciais norte-americanas, no final do ano que vem.

Fracasso diplomático
Pascal Lamy, o comissário europeu de Comércio, volta de Cancún para encarar algumas questões desagradáveis na sede da União Européia, em Bruxelas.
Ainda que em seu discurso de despedida ele tenha dito que "não vamos jogar o jogo da culpa" quanto ao fracasso das negociações, garantindo aos parceiros comerciais que a União Européia continua dedicada a manter um "sistema comercial multilateral forte e baseado em regras claras", a decepção e a indignação tomaram conta dos representantes europeus em Bruxelas.
Lamy certamente encontrará críticas especialmente severas em seu próximo encontro com o Parlamento Europeu, onde muitos dos deputados de inclinação esquerdista criticam suas posições de negociação.
A britânica Caroline Lucas, deputada do Parlamento Europeu que participou da reunião de Cancún, disse que "a estratégia deles [dos países desenvolvidos] de sobrecarregar a agenda com questões que beneficiavam exclusivamente ao rico hemisfério Norte ficou exposta como um fracasso espetacular e ajudou a tirar a OMC dos trilhos".
Ela estava se referindo à posição dura de Lamy quanto às regras de investimento, que a UE e o Japão desejavam incluir nas negociações contra a vontade da maioria dos países em desenvolvimento. Foi o desacordo com relação a essas regras que terminou por produzir o fracasso das negociações.
Pascal Lamy afirmou ontem que a UE vai considerar a discussão de acordos bilaterais, depois do fracasso das negociações em Cancún. Os europeus vinham rejeitando tal estratégia, já posta em prática pelo governo dos EUA.
Mas Lamy lembrou que negociações bilaterais podem se arrastar por vários anos e enfatizou que continua preferindo as conversas multilaterais.

Produtor europeu festeja
O fracasso das negociações foi recebido com alívio por agricultores europeus, que temiam que um acordo pudesse forçar a UE a aceitar novas reformas em seu regime de subsídios.
Ainda que a organização central dos produtores europeus tenha conclamado a UE a continuar as negociações, o FNSEA, maior sindicato dos fazendeiros franceses, afirmou que "é melhor acordo nenhum do que um mau acordo".


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