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COMÉRCIO MUNDIAL
Governo americano avalia que intransigência de europeus e de japoneses barrou avanço em Cancún
EUA culpam Europa por fracasso na OMC
DO "FINANCIAL TIMES"
Os EUA tentaram se esquivar
da culpa pelo fracasso das negociações mundiais de comércio na
reunião ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), em Cancún, dizendo que o
progressos feitos nas questões
agrícolas foram bloqueados pelas
cisões entre a Europa e os países
em desenvolvimento com relação
a outras questões.
"Sentimos que o impasse a que
as negociações de Cancún chegaram não está relacionado a exigências norte-americanas, mas a
limites impostos pelos países europeus e em desenvolvimento",
disse Josette Shiner, vice-representante comercial norte-americano para assuntos de comércio
internacional. "No final do processo, não foram as nossas questões que impediram o progresso.
Na verdade, estávamos conseguindo progresso real na agricultura e em diversas outras áreas."
As conversas entraram em colapso, no domingo, depois que
uma coalizão de países africanos e
asiáticos recusou exigências do
Japão e da União Européia em
questões sobre regras de investimentos e normas para concorrências públicas, entre outros temas.
Ainda que muitos países tenham afirmado que mantêm seu
compromisso nas negociações,
toda esperança de cumprir o prazo inicialmente planejado para a
conclusão da rodada, no final de
2004, se perdeu. Poucos esperam
esforços sérios para reavivar as
negociações antes das eleições
presidenciais norte-americanas,
no final do ano que vem.
Fracasso diplomático
Pascal Lamy, o comissário europeu de Comércio, volta de Cancún para encarar algumas questões desagradáveis na sede da
União Européia, em Bruxelas.
Ainda que em seu discurso de
despedida ele tenha dito que "não
vamos jogar o jogo da culpa"
quanto ao fracasso das negociações, garantindo aos parceiros comerciais que a União Européia
continua dedicada a manter um
"sistema comercial multilateral
forte e baseado em regras claras",
a decepção e a indignação tomaram conta dos representantes europeus em Bruxelas.
Lamy certamente encontrará
críticas especialmente severas em
seu próximo encontro com o Parlamento Europeu, onde muitos
dos deputados de inclinação esquerdista criticam suas posições
de negociação.
A britânica Caroline Lucas, deputada do Parlamento Europeu
que participou da reunião de
Cancún, disse que "a estratégia
deles [dos países desenvolvidos]
de sobrecarregar a agenda com
questões que beneficiavam exclusivamente ao rico hemisfério
Norte ficou exposta como um fracasso espetacular e ajudou a tirar
a OMC dos trilhos".
Ela estava se referindo à posição
dura de Lamy quanto às regras de
investimento, que a UE e o Japão
desejavam incluir nas negociações contra a vontade da maioria
dos países em desenvolvimento.
Foi o desacordo com relação a essas regras que terminou por produzir o fracasso das negociações.
Pascal Lamy afirmou ontem
que a UE vai considerar a discussão de acordos bilaterais, depois
do fracasso das negociações em
Cancún. Os europeus vinham rejeitando tal estratégia, já posta em
prática pelo governo dos EUA.
Mas Lamy lembrou que negociações bilaterais podem se arrastar por vários anos e enfatizou que
continua preferindo as conversas
multilaterais.
Produtor europeu festeja
O fracasso das negociações foi
recebido com alívio por agricultores europeus, que temiam que um
acordo pudesse forçar a UE a aceitar novas reformas em seu regime
de subsídios.
Ainda que a organização central
dos produtores europeus tenha
conclamado a UE a continuar as
negociações, o FNSEA, maior sindicato dos fazendeiros franceses,
afirmou que "é melhor acordo nenhum do que um mau acordo".
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